Não é exagero. Os livros de Morais, sobre Assis Chateaubriand, Lula ou outros personagens da vida nacional, realmente nos proporcionam o mesmo prazer dos bons romances.
Paulo César Araújo, que escreveu páginas e páginas sobre Roberto Carlos, também fez um trabalho que parece inspirado na boa literatura.
Alguns capítulos dos seus livros contando a vida de Roberto se assemelham a um romance, o que torna a leitura prazerosa e mais interessante.
Transcrevo aqui alguns parágrafos da biografia, "Roberto Carlos Outra Vez", para que o leitor do blog possa se deleitar com o texto, a meu ver de boa qualidade.
Na minha opinião esses dois trechos são um primor. Embora simples, estão mais próximos do gênero literário do que do jornalismo.
Confira:
"Roberto Carlos nasceu como se nascia naquele tempo: em casa. Porta do quarto fechada, bacias com água morna, um pouco de álcool, com dona Mariana, a parteira de sua mãe, cuidando de tudo. Eram 5h da manhã de um sábado, dia 19 de abril de 1941.
"A criança chegou suave e robusta, e, quando tomou o primeiro banho, de sua casa ouviram-se salvas de tiros. Dali a pouco, sinos repicaram, bandas começaram a tocar e bandeiras foram hasteadas em todas as escolas da cidade.
"Naquele sábado, Cachoeiro de Itapemirim acordou em festa junto com o Brasil. Não por ser o Dia do Índio. Mas porque era o aniversário do então presidente, Getúlio Vargas, que completava 58 anos.
"O país vivia sob a ditadura do Estado Novo, que estimulava o culto à personalidade. Como relata Lira Neto, biógrafo de Getúlio, na época escolas eram inundadas com cartilhas verde-amarelas, em que sobressaiam mensagens ufanistas.
"Biografias edulcoradas do presidente da República, a maioria destinada ao público infanto-juvenil eram produzidas em série. Daí que no dia do seu aniversário havia também intensa comemoração, como na pequena Cachoeiro de Itapemirim, com desfiles escolares, discursos, hinos patrióticos e muita gente nas ruas com bandeiras e retratos de Getúlio nas mãos.
"Enquanto a festa seguia lá fora, seu Robertino, naquela altura com 44 anos, recebia os amigos para comemorar o nascimento do filho temporão. Um dos convidados, mais eufórico, e certamente getulista, gritou na sala.
"Viva o Brasil! Viva a bandeira nacional! Viva o gorducho!
"Eram tempos de ufanismo e de repressão, mas também de mudanças sociais, com a promulgação das primeiras leis trabalhistas.
"Nada de essencial faltava para a família Braga, embora o orçamento modesto não permitisse aos filhos adquirir brinquedos mais caros.
"Vivíamos quase sempre sem dinheiro", afirmaria Roberto.
"Mas o que faltava em dinheiro minha mãe compensava em carinho e compreensão. Lembro até hoje que, enquanto meu pai saia para trabalhar, ela ficava comigo horas inteiras, procurando entender meus problemas.
"Embora sempre ocupada com sua máquina de costura e seus afazeres domésticos, dona Laura dedicava muito carinho aos filhos, especialmente ao caçula, que crescia gordinho e bochechudo.
"Todas as mães sabem que o filho caçula é o que demora mais a crescer, dizia ela. E, no caso de Roberto Carlos, isto ficou ainda mais evidente, porque só largou a chupeta aos 8 anos. 'Foi uma luta para fazê-lo desistir da chupeta', contou o pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário