Fernando Horta e Gustavo Conde*
Exército e PMs estavam prontos para apoiar o golpe. Vejam por que tiveram que voltar atrás.
Bolsonaro tentou o golpe, e ele não aconteceu. O que teria dado errado? O que efetivamente aconteceu para que os planos golpistas fossem frustrados? Seria apenas um erro de cálculo de Bolsonaro? Seria o fato de o Brasil ter "instituições fortes"?
É completo consenso que o que ocorreu no dia 7 de setembro foi uma tentativa de golpe. Por isso, todos os jornais e todos os partidos falam que "Bolsonaro acabou". Sabem todos que a tentativa falha não faz com que Bolsonaro pare de tentar. E esse é todo o problema de Arthur Lyra.
Para entender o que aconteceu, precisamos olhar para o dia 6 de setembro e não para o dia 7. Em especial para o final do dia. O que sabemos até agora já nos permite algumas interessantes explicações.
Desde o início da semana, os hotéis de Brasília foram sendo tomados. Especialmente os hotéis de menores preços. Isso indicava o deslocamento antecipado de um bom número de pessoas com alguma capacidade financeira ou que estavam sendo financiadas.
No dia 6, quase todos os hotéis mais baratos de Brasília estavam lotados. Esse movimento não passou despercebido pelo STF nem pelo aparato de inteligência por ele montado (já que a PF e a ABIN são tributárias de Bolsonaro).
A partir das 12 horas do dia 6, a PM do Distrito Federal iniciou os planos de isolamento da região central da cidade (a Esplanada dos Ministérios) como parte do plano de segurança que é SEMPRE imposto em caso de manifestações.
Da forma como foi planejada, Brasília fecha a entrada do povo nos locais de poder de forma muito fácil e efetiva. Apesar de planejada por um comunista [Oscar Niemeyer], essa é uma característica urbana de Brasília muito útil aos poderes constituídos. Basta que a PM coloque barreiras no lugar.
Por volta das 18 horas, numa ação claramente planejada aos moldes militares, bolsonaristas resolveram "testar a água". Um grupo de cerca de 600 pessoas passou a retirar as barreiras e os isolamentos e abrir espaço para os grandes caminhões que já estavam na cidade.
Esse "destacamento avançado", com missão de reconhecimento, foi abrindo espaço SEM A OPOSIÇÃO DA PM DO DF. A PM do DF é, talvez, uma das mais bolsonaristas do país. Aqui, 7 em cada dez homens votaram em Bolsonaro. As PM aplaudiam literalmente os manifestantes contra Dilma.
Ibaneis, o governador, além também de bolsonarista, está envolvido até o talo com as maracutaias da saúde, juntamente com a Precisa e o Ricardo Barros. Ocorre que o governador convenientemente NÃO ESTAVA NO DF.
Estava tudo arrumado para uma "pequena" indisciplina da PM de Brasília que seria o aviso para que o movimento incendiasse no país inteiro. Tudo passaria como uma azarada "falta de ordenamento", porque o governador não estava no seu lugar. Brasília, pela manhã, daria o tom do golpe.
Caso as mobilizações prometidas em número chegassem a Brasília, Bolsonaro faria da Paulista apenas seu palco de completo sucesso. O presidente contava com pelo menos 1 milhão de pessoas em Brasília e, com isso, a pressão sobre as outras polícias dos Estados seria insustentável.
Para entender o que deu errado, precisamos voltar à noite e à madrugada do dia 6. Percebendo a fúria com que os bolsonaristas progrediram destruindo as barreiras na esplanada e a complacência inicial da PM, vários atores políticos passaram a ligar incessamente para o governador Ibaneis e usar suas redes para denunciar o estopim do golpe. Essa "gritaria" inicial chegou ao presidente do Supremo que, com a corte em uníssono, entrou em contato direito com a PM do DF exigindo providências.
A resposta da PM, pelo que apurei, foi puramente protocolar. O STF não é a autoridade imediata a que a PM precise dar satisfação. No fim, a constituição fala que as PMs estão subordinadas ao Exército, e aí veio o segundo golpe de mestre do STF.
Fux ligou direto para os comandantes militares, ainda durante a madrugada, avisando que caso as PMs seguissem o comportamento leniente, ele (Fux) chamaria a GLO [Garantia da Lei e da Ordem] e convocaria as Forças Armadas para deter os manifestantes. É preciso compreender este ato para entender o dia 7.
O que o STF fez foi adiantar uma tomada de decisão do Exército Brasileiro. As Forças Armadas esperavam PRIMEIRO a mobilização popular prometida, para ENTÃO apoiarem o levante. Estavam naquela madrugada, portanto, aguardando. O STF, contudo, exige uma posição imediata do Exército.
Do ponto de vista do STF, a ação era simples. Negasse o Exército a ordem de Fux, o golpe estava consumado. Não haveria necessidade da pantomima do 7 de setembro. Por outro lado, ao adiantar a tomada de decisão, o STF elevava exponencialmente o custo desta ação para os militares.
Na prática, tivessem os militares desobedecido a Fux e, no dia 7, as manifestações "flopassem" [fracassassem], os comandantes militares seriam processados por insubordinação e sairiam culpados de sedição [desobediência, desordem]. O preço era alto demais. A exigência da decisão ainda no dia 6 quebrava o plano bolsonarista.
No meio deste imbróglio todo, duas figuras trabalhavam. Por um lado Alexandre de Moraes, de posse das informações de inteligência, mapeava o financiamento dos movimentos e mandava bloquear as contas certas e as chave-pix. Com isso, asfixiava os financiadores do Bolsonaro.
Muitas "caravanas" de locais perto de Brasília não puderam sair por conta do dinheiro. O resultado foi o pífio número de apoiadores para que Bolsonaro fizesse o que estava planejado. Como era possível ver em Brasília, tinha muito mais "carro do que gente".
O outro ator que, em silêncio, agia atuando diretamente com a PM era o vice-governador do DF. Na falta de Ibaneis, a desculpa das PMs para a inação não seria mais possível. O comportamento dual do governo (ora apoiando Bolsonaro, ora obedecendo ao STF) já era em si golpista. Mas o vice-governador compreendeu que recairia sobre ele toda a culpa de uma malfadada sedição que ocorresse nas PMs de Brasília. Novamente, o STF aumentava o custo da tomada de decisão, e o vice precisou garantir a PM na linha.
Com a recomposição das linhas hierárquicas do Exército - a partir da cobrança do STF na madrugada do dia 6 - e com a lealdade da PM (ainda que a contragosto) garantidas, a margem de sucesso do golpe de Bolsonaro era pequena.
No final do dia 6, percebendo seus planos diminuírem a possibilidade de se realizar, os filhos do presidente foram até os manifestantes que faziam a "frente" para o movimento na tentativa de insuflar o apoio necessário para a sedição no dia seguinte e também para impactar a PM.
Não funcionou. Tirando os apoiadores do fascismo de Bolsonaro, os outros agentes são o que chamamos de "atores racionais" e fazem um cálculo de custo e benefício das suas ações. Precisam, contudo, de informações completas e corretas para esse cálculo. E isso eles não tiveram.
A tensa madrugada do dia 6 de setembro, que virou com fogos de artifício o tempo todo, determinou o fracasso do golpe do dia 7. O STF subiu o custo das ações políticas dos outros agentes e diminuiu o acesso destes agentes às informações que precisavam para a tomada de decisão.
As ações não foram coordenadas entre os atores políticos que saíram denunciando a posição claudicante da PM no dia 6 e o STF, que colocou "a faca nos peitos" dos comandantes militares, mas, de alguma forma, elas foram complementares. O golpe naufragou.
Não podemos, contudo, achar que ele não foi dado. Que Bolsonaro não cometeu crime porque "o resultado não foi alcançado", como é o argumento dos defensores do governo na CPI. Se deixarem Bolsonaro solto, ele tem mais um 7 de setembro para tentar. E mais um ano para planejar.
*Fonte: Blog do Conde. Fernando Horta é professor e historiador. Gustavo Conde é linguista.
PAULO CAMELO: Essa "estória" está bastante incompleta, senão vejamos:
ResponderExcluir1 - Para se dar um golpe ou "auto golpe" é preciso combinar com as Classes Dominantes, hoje divididas, e com a comunidade internacional, principalmente com o governo Joe Biden dos EUA. O que era impossível Bozo conseguir o aval de Biden, Macron (Franca), etc;
2 - Em segundo lugar as PMs não estavam com a disposição esperada pelo governo Bolsonaro e os governadores armaram um esquema de inibição de revolta dos mais simpáticos a Bolsonaro. Além do crime que poderiam cometer os mais fanáticos;
3 - Não há unanimidade nas Forças Armadas para manterem um ex-militar indisciplinado, que foi Bolsonaro, no poder. Seria uma aventura de alto risco para as Forças Armadas, uma vez que o Alto Comando sabe muito que difícil é manter o "golpe ou auto golpe", sem o reconhecimento da comunidade internacional;
4 - A maioria dos caminhoneiros não estavam afim de se engajarem numa pauta golpista, alheia as suas reivindicações, a exemplo da queda nos preços dos combustíveis;
5 - As pesquisas apontam que o governo Bozo está em queda livre;
6 - Os quase 600 mil mortos pela COVID 19 e a baixa velocidade da vacinação não favorecem o governo para dar um "golpe ou auto golpe";
6 - As estórias contadas no artigo acima são apenas de cunho cronológico e não político.
Esse ideia de "INTERVENÇÃO MILITAR" eu ouvi o maior defensor do Bolsonaro um jovem universitário de matemática da UPE de Garanhuns repetir exaustivamente ao me dizer que estaria votando no presidente para ele dá uma intervenção militar no Brasil.
ResponderExcluir0utro jovem evangélico lunático disse a mim em julho de 2018 que estaria votando no Bolsonaro para ele criar a pena de morte para matar prefeitos e vereadores,governadores e deputados estaduais e federais,senadores,presidentes e empresários,armar todos os cidadãos de bem e dá cassete nos homossexuais.
Outro pastor ao me encontrar em julho de 2021 "me disse que não usaria máscaras porque não serve de nada e que não iria tomar as vacinas porque eram da china e que não serve de nada. E que o PT queria matar todos os velhos e os presidente deveria matar os governadores e os juízes do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL".
Conversar com bolsonarianos não vale a pena e o melhor é manter distância dessa gente!