Por Givaldo Calado de Freitas
Recolhido? Exilado? Fugido?
Sei lá. Sei lá. Em que me transformei. Só sei que não gosto dessas expressões.
Quarentena, dizem uns. Isolamento, dizem outros. Não gosto. E não gosto. E o
digo feito menino novo, apesar de já ter passado dos 30, e, por isso, eles
acharem que mereço mais cuidado porque corro mais riscos.
“Essa é boa”, dizia eu até
essa sexta-feira a mim mesmo. E haja mulher, filhos, netos, amigos, amigas... a
me ligarem e enviarem mensagens. “Cuide-se!”, "Idade de risco”, e por aí
vai.
Dizia a mim mesmo: bando de
histéricos, medrosos... Com medo de um bichinho que nem aparece pra gente. Ele,
Ficcional. Ele, Invisível. Já sei. Já
sei.
Vou falar com Almeida. Ele,
que trabalha comigo. Pra mim é tudo. Motorista, segurança, assessor plural...
segurança? Eu disse segurança? Mas eu
nunca tive segurança. Abraço a todos e a todas. Gosto de todos e de todas. Pra
que então? Ah! Deixa pra lá. Mas, como eu ia dizendo, vou falar pra Almeida pra
comprar pra mim uma pistola para atirar nesse bichinho se ele se atrever de me
procurar. Parei, e pensei: uma pistola?
Pra quê, se nunca atirei de uma pistola? Ah! Já sei: Almeida me ensina.
Nelas, ele é craque. Foi segurança por muito tempo, aqui, e alhures. Ele me
ensina, e, ensinado, vou me haver com esse bichinho. E ele vai ver o que é bom
pra tosse.
Mas, entrementes, chega um
amigo meu, de máscara e tudo, e me diz: “GIVALDO, querem restaurar a Primeira
República. Prefeitos, agora, vão ser nomeados. Eles não querem só adiar as
eleições. Na verdade, querem acabar com elas.” De súbito, minha lembrança de
Abelardo, colega meu dos nossos tempos do BNH. Eu perguntava sempre a ele:
“Você vai a João Pessoa nesse final de semana?" Ele, de cara fechada,
sempre me respondia: “Não! Vou à Paraíba. Esse João Pessoa era um comunista,
anarquista, indigno de levar o nome de minha cidade, Paraíba.”
Disse a esse amigo meu que
(sei lá porquê, ele não quer aparecer nessas linhas): “Vou fechar meu ciclo,
vencendo ou perdendo essas eleições de outubro. Perdendo, fecho ainda este ano.
Ganhando, daqui há quatro anos. E, se adiarem pelo golpe, não serei mais
candidato. Os golpistas já falam até na possível restauração da primeira
república, quando os ‘prefeitos’ eram nomeados pelos ‘governadores’. Aqueles,
como estes, com o título de interventores. Não! Não! Estarei fora. Quero morrer
como vivi. Honesto. Sincero. Correto. Digno. E, politicamente, democrático.
Capaz de sentar e ouvir. Capaz de sentar e tolerar. Com toda calma. Tranquilo e
respeitando compromissos. Pra mim BASTA.”
Meu amigo ficou sem entender.
Disse-o: “Não precisa.”
*Givaldo Calado é advogado, empresário e cronista. Foi vereador e Secretário de Cultura de Garanhuns.
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