Como bom brasileiro e garanhuense, o empresário Givaldo Calado está
atento aos acontecimentos políticos do Brasil, de sexta-feira até hoje. Ele nos
envia um editorial do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, com a observação de
que foi o único da grande imprensa que criticou a prisão de Lula:
Eis o editorial:
Hoje, amanhecemos em um dos dias mais tristes do Brasil. A prisão de um
ex-presidente da República, fato que não encontra similar em qualquer página de
nossa História, mesmo nos momentos de conturbação intestina. Dia triste,
independentemente de termos ou não simpatia por esse metalúrgico
pernambucano, que chegou à alta magistratura do país, e, estando lá,
deixou contribuição para nossa projeção no exterior. Triste, mais ainda, pelo
fato de que, antes de se tratar de um presidente, foi um cidadão condenado, por
crimes que sempre negou, sem que os tribunais lhe dessem a oportunidade de ir
às últimas instâncias para defender-se. Nisso a Constituição também sai
machucada. Ora, se esse é um direito que lhe é negado, por obra de filigranas
jurídicas, imaginemos o que pode ocorrer com qualquer outra pessoa alvejada
pelo martelo de um juiz na segunda fase de julgamento.
Presidentes houve que tiveram de enfrentar quadras de doloroso
constrangimento. Alguns apeados do poder por força de armas; outros, sob
pressão político-partidária ou reféns, sem que tenham faltado aqueles que
caíram, por não cederem a interesses inconfessáveis. Vargas, protagonista da
tragédia maior, decretou sua própria morte. Mas nenhum preso, o que fez desta
sexta-feira um dia melancólico, tanto para qualquer um de nós, que amanhecemos
com ele, mas, se a História tem alma, também para ela, que haverá de dobrar
essa página com imenso pesar. Ela, talvez mais ainda, porque estará guardando
para o futuro uma sentença prolatada quando o julgamento ainda caminha, à
procura de provas, não circunstanciais, mas consistentes. Lula está no centro
dessa tragédia, cujo lance mais chocante, com sinais de exagero, foi a fixação
da hora para se apresentar ao carcereiro.
Neste mesmo espaço, cedendo a compromissos que supõe inarredáveis, este
jornal levantou-se para afirmar que Lula precisava, como ainda precisa, ser
tomado na conta de vítima privilegiada de uma estrutura política que se deixou
dominar por vícios que, de tão poderosos, são capazes de ditar ao presidente
concessões ou arbítrios que ele, em sã consciência, não toleraria. A reflexão
ainda faz sentido hoje, porque a estrutura asfixiante sobrevive e vai
sobreviver. Além do mais, é permitido denunciar que falta alguém no banco
dos réus em que Lula se sentou. Quem? Os patriarcas das oligarquias que se
elegem e se reelegem infinitamente, e na prática desse crime são capazes de
fazer tanto, ou mais, do que se atribui ao ex-presidente. O juiz Moro devia dar
assento nesse banco aos que armam esquemas milionários para fazer a estreia de
seus filhos e dos cônjuges na política, sem faltar espaço para os amigos do
poder, que descobrem em pizzaria malas de muitos milhares de dólares. E os
senadores, que se subornam, mas afirmam que se trata apenas de empréstimo pessoal
e amigável. Em que celas o douro Moro mandaria que se hospedem os autores desse
velhaco fundo partidário, onde vão beber os sedentos de sempre? Lula,
solitário, por ser acusado de receber, de prêmio, um tríplex, o que é grave,
mas depende de comprovação. E os que serviam fielmente a governos anteriores e
hoje têm trânsito livre no gabinete presidencial, ou quem, ironicamente
ministro da Justiça na gestão Fernando Henrique, pratica, à vista de todos,
acrobacia entre as dezenas de processo em que se indiciou.
O mundo desaba nas costas do metalúrgico, sob o olhar indiferente de
gente impune. Que dia triste!
Givaldo ainda nos enviou uma nota do Jornal francês Le Monde relacionada
com a perseguição ao ex-presidente:
"É a inteligência de Lula versus a onipresença da superestrutura
política devidamente instalada no poder. É um duelo de gigantes. De um lado,
todo o poder judiciário, toda a imprensa corporativa, todo o empresariado, todo
o volume de recursos das máquinas públicas à mercê do partido antagonista, todo
ódio de classe e todo poder de uma emissora de televisão que detém 80% do bolo
total de publicidade do país. Do outro lado, Lula”.
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