Com a
devida permissão do canal pago, dei-me ao trabalho de assistir o último
julgamento no STF sobre o caso de Senador Aécio Neves.
Decisão
complexa e cheia de sutilezas, de fundamentação melindrosa e delicada,
perspectiva de crise institucional e imprevisíveis resultados, como faz prova o
estreito escore da decisão: 6 x 5.
Todos
os magistrados e operadores de Direito que o assistiram, bem como as pedras dos
calçamentos de todas as cidades do Brasil sabiam e sabem, que o verdadeiro foco
da questão reside na escabrosa instituição do FORO PRIVILEGIADO, iniciativa
pouco republicana adotada pelos nossos magníficos parlamentares que beneficia –
além de si próprios - mais de 50.000 deleitáveis favorecidos pela esdrúxula
medida.
Tanto é
assim que nos últimos 3 anos, os juízes de 1ª instância já distribuíram mais de
mil anos de sentenças condenatórias aos desvalidos mortais e o STF nenhum dia
sequer! Pesquisas sofisticadas são dispensáveis, já que basta consultar a
Wikipedia !
Sem
esquecer que os seus colegas de magistratura, Excelências, espalhados por todos
os recantos do nosso Brasil, são marcados pela absoluta impunidade que lhes é
atribuída pela Lei Orgânica da Magistratura: quando apanhados na prática de
ilícitos, são “premiados” com a máxima punição de uma aposentadoria
compulsória, com todos os direitos dela decorrentes!
In
casu, V. Excelência, como luminar nas regras do Direito, na sua qualidade de
detentor de Doutoramentos, Mestria Universitária, livros e trabalhos publicados
e, agora, Ministro Julgador Superior sabe, mais do que ninguém, que sem
resolver o problema do foro privilegiado, não haverá solução para as mazelas,
injustiças e indignidades dele decorrentes.
No
dia 1º de junho, ou seja, à 132 (cento e trinta e dois) dias atrás, V.
Excelência participou de um julgamento que reduziria em muito o efeito
deletério do maldito “foro privilegiado”. Já estavam consignados 4 (quatro)
votos a favor da questão. Na hora da manifestação do seu voto, V. Excelência
dispendeu, simplesmente, 2 (DUAS) horas de exposição para – ao final – pedir vistas
do processo. Ou seja, gastou duas horas do seu tempo e da NAÇÃO INTEIRA para
justificar um pedido de vistas que dispensaria qualquer justificativa em seu
proveito. Só teve um sentido: exibir a eloquência, o saber e a oratória que lhe
são peculiares.
E
o que é pior, antecipou na ocasião e deve estar registrado nos arquivos do
Supremo, que seria expedito e devolveria os autos para prosseguimento do seu
julgamento o mais rápido possível. Vamos chegar às férias forenses e ninguém
sabe o que quer dizer “mais rápido” no seu exuberante vocabulário. Essa é uma
das grandes dificuldades dos nossos dirigentes, em todos os segmentos sociais,
políticos e administrativos que nos comandam. Ninguém assume suas
responsabilidades, mas buscam facilidades; ninguém toma determinações, mas
procuram medidas sinuosas; ninguém objetiva coerências, mas perseguem
tolerâncias de todo tipo.
Excelência,
sou um velho que em fevereiro próximo completará 90 anos. Há mais de 50 anos me
conferiram um simples bacharelato em direito e não adianta me processar porque
nessa idade ninguém me bota mais na cadeia. Reconheço que muita coisa melhorou
em nossa terra, mas reduziu-se a um país de DOUTORADOS e de ANALFABETOS,
em que é mais fácil obter uma bolsa de doutoramento no Exterior, do que uma vaguinha
na mais humilde creche, para agasalhar o filho de uma doméstica que não tem
onde abrigar um filho para trabalhar em paz, ou não ?
Depois
de um pedido de vistas que já dura mais de quatro meses, quantos meses ainda
Vossa Excelência precisa para devolver os autos para julgamento ? Quantas
horas, ainda precisa para fazer andar os processos que permanecem sob sua
responsabilidade ? Não pode ser acúmulo de serviço, iguais aos que atanazam os
seus colegas de ofício, não só pelo pouco tempo de exercício na função, como na
própria idade que ostenta, e a qualidade de benjamim da atual composição do
Supremo, ou não ?
Quantos
anos mais, pode a Nação Brasileira esperar que V. Excelência se digne cumprir
suas obrigações, devolver os autos para julgamento e dissolver – para o bem e
para o mal - esses impasses que estão a depender de sua soberana vontade ?
Será que
lhe falta ainda a augusta decisão de retornar ao julgamento do processo, uma
vez que não é problema particular seu, nem meu, e sim da vilipendiada Nação
Brasileira e do seu povo sofredor ? Será que não passa por sua cabeça que essa
é a Nação que estamos construindo para nossos descendentes ? Será que isso não
tem importância para Vossa Excelência, nem é capaz de lhe sensibilizar ? Se sua
preparação acadêmica e capacidade funcional não lhe capacitam a emitir juízo de
julgamento, porque não desocupa a cadeira e permita que um novo titular o faça
?
Com
todo o respeito, já que não posso ter a devida afeição, o Brasil espera uma
resposta sua, Excelentíssimo e Meritíssimo Ministro Alexandre de Moraes.
Ivan Rodrigues
OAB-3147/PE
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