Por Junior Almeida
No
começo de 2000, final de fevereiro, inicio de março, a cidade de Capoeiras se
preparava para festa de São José daquele ano, que prometia ser uma das melhores
dos últimos tempos, pois seria uma espécie de carnaval fora de época. Trios elétricos com bandas de axé, barracas
de bebidas e toda estrutura já estava contratada e anunciada pela prefeitura local.
Com o sucesso dos blocos Me Leva e Batata Acesa em 1997 (primeiro ano que
se fez festa de rua com blocos uniformizados), naquele ano as grandes atrações
seriam os blocos Pisadinha e o Cacha- Samba, tendo esse último a sua
diretoria formada por jovens frequentadores do Bar do Gago, que costumavam
animar as feijoadas do sábado com seu pagode.
Junior,
Douglas e Thiago, filhos do Gago, Wilker, Rodrigo Cordeiro, Marquilano, Adelson
Santana, André e Gutumberg Benevides, o Guto, figura ímpar de Capoeiras, a
alegria em pessoa, entre outros, eram os cabeças da turma. Com a caricatura de
um bebum careca desenhada por Junior do Gago numa camisa laranja, e com muita
organização o Cacha- Samba abriu a sua sede próximo a igreja matriz, vizinho ao
Mercado de Taraó. Na sede além da venda
dos kits do bloco, as pessoas se reuniam para beber, ouvir música, jogar dominó
e canastra, e assim passar o tempo.
Num
início de semana, na parte da tarde, a sede do bloco já estava com alguns dos
seus frequentadores, e pela cidade funcionários da prefeitura ajustavam as
coisas nas ruas para receber as pessoas durante a festa que estava por vir.
Eletricistas espalhavam fios com lâmpadas pela cidade, as gambiarras. Muitos peões capinavam o mato nas frestas do
calçamento, outros pintavam os meios fios e árvores da Praça João Borrego com
cal. Na igreja, profissionais em pintura estavam todos empenhados em deixar a Casa
de São José novinha em folha para a festa em sua homenagem. Os menos
experientes apenas faziam a raspagem da tinta velha, enquanto os mais
gabaritados rebocavam, aplicavam massa corrida e pintavam.
Algumas
escadas enormes, andaimes do mesmo tamanho nas laterais e na parte interna do
templo eram usados pelos pintores. As
paredes externas das partes mais altas da igreja eram o grande problema para
conclusão do serviço. A torre com toda a sua imponência era pintada por poucos,
e a estátua de 2 metros do Padroeiro São José, era pintada por apenas um Homem
em Capoeiras: Zé Urubu. O pintor com cerca de um metro e oitenta de altura, e
na época com mais de 60 anos, tinha a admiração dos demais colegas pela proeza
de subir na torre da igreja, e na parte exterior mais alta, pintar a imagem do
santo.
Pessoas
que passavam na rua olhavam espantadas para o velho pintor. Na sede do Bloco
Cacha-Samba não era diferente a admiração. Nesse dia, os amigos reunidos
bebendo e observando Zé Urubu na torre da igreja. Junior do Gago elogiando a
coragem do pintor disse aos demais:
- Quem de vocês teria
coragem de fazer isso? Sei que ele trabalha nessa altura, mas com certeza tem
medo.
Nisso
gerou a discussão, se Zé Urubu tinha ou não medo de estar ali, no alto da torre. Guto para acabar o impasse logo se
prontificou em tirar a dúvida dos amigos, e foi da sede para a calçada da
igreja. Usando as duas mãos na boca em forma de funil para amplificar o som de
sua voz. Olhando pra cima em direção ao pintor, gritou:
- Ô Seu Zé, o Senhor não
tem medo de cair daí não?!
Zé
Urubu ouvindo os gritos que vinha lá de baixo, se segurou no santo, olhou para
baixo onde estava o jovem rapaz.
Da
calçada onde estava Guto repetiu gritando a sua pergunta:
- Seu Zé, o Senhor não tem
medo de cair daí não?!
O
experiente pintor se sentiu orgulhoso com o que estava fazendo, por saber que
era admirado por sua coragem, e respondeu:
- Tenho medo não meu
filho. Se eu for cair São José me segura.
Guto
agradeceu a resposta, e voltou para junto do grupo. Curiosos em saber a
resposta do pintor, todos queriam saber o mesmo tempo o que ele tinha falado.
-E aí Guto, o que ele
disse? Quis saber Marquilando.
Guto
com um sorriso sarcástico, caminhando ainda para a sede do bloco, com os
polegares apontando para trás o local que Zé Urubu estava, falou:
- "Véio" besta da peste.
Disse que se ele fosse cair, São José o segurava. Olha só, se o santo vai
soltar o Menino Jesus pra pegar ele?!
Ninguém
se aguentou. A gargalhada geral.
Olha, ficou perfeito; meu amigo Roberto Almeida. Não estava presente mas o finado Mons. Geraldo Batista contou está historia. Saldades destes tempos
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