Artigo do médico oncologista garanhuense Eduardo Miranda, exclusivo para o Blog de Roberto Almeida:
Eu sou suspeitíssimo para falar
sobre os médicos. Isso porque, há 39 anos ligado à medicina, 28 dos quais como
cirurgião oncologista e muitos como professor de Medicina, tenho imensa
admiração pelos meus pares.
Entendo que só uma elevada motivação
e um desígnio quase divino compelem um jovem a ser médico. Altruísmo, dedicação, senso humanitário, estudo, são a nossa nobre moeda. Lidamos com vidas,
dores e sofrimentos, muitas vezes indescritíveis.Somos, por vocação e destino, artífices da cura, e, quando não for possível, de lenitivos de
imenso alcance humano.
O mestre Kischner nos ensinou que
fazemos milagres todos os dias, silenciosamente. Nos ambulatórios mais remotos,
nos recônditos mais extremos do nosso imenso país e do mundo.
No entanto, sofremos. Sofrimento
diário e repetido nos ambulatórios desaparelhados, nos hospitais sucateados,
ou nos planos de saúde mercantilistas e predatórios .Combatemos o bom combate.
Observamos, com espanto, os males
insuportáveis que nos afligem e aos nossos paciente todos os dias .
Vivemos um rosário de misérias e atropelos cotidiano. Testemunhamos, a cada hora,
como São Paulo , os mistérios da iniquidade . Convivemos com o menor
investimento per-capita em saúde entre todos os países em desenvolvimento ,
associado a uma gestão caótica e destrutiva na área da saúde . Eu tenho
tios-avós, tios, primos e filho médicos. Consolidamos nossa trajetória
profissional ao longo de quatro gerações.
Sinto, com pesar, que o governo do Brasil,
inclusive, infelizmente, pela voz da própria presidente Dilma Roussef, trata os
médicos brasileiros como desumanos. Desmerece nossas Faculdades com abertura de
Escolas Médicas como linha de produção, apequenando a Grande Ciência Médica e
suas tradições. Pretende, com medidas imediatistas, oportunistas e eleitoreiras
contaminar uma profissão tão nobre.
Para culminar essa tragédia, perdemos,
de maneira violenta, incompreensível e desumana , uma figura de relevo na
Medicina de Pernambuco, o Dr. Artur Azevedo.
Jovem e promissor Cirurgião Torácico,
qualificado, competente, disponível e amigo. Dedicado aos seus pacientes.
Esposo e jovem pai. Nós, médicos, choramos a sua perda, inconsoláveis. A sociedade,
os pacientes, o povo estão mais pobres hoje. Todos exigem, clamam, dos governos
e da própria sociedade, que protejam todos os seus filhos, pessoas humanas
singularíssimas e valiosas , da barbárie que nos toma.
O Dr. Artur Azevedo, do elevado
lugar no céu onde está, que nos proteja. Ele e seus ideais continuam vivos em
todos nós. (Na foto do NE 10 o jovem médico com a família).