O HOMOSSEXUALISMO E A INTOLERÂNCIA

O pastor Silas Malafaia, uma espécie de Edir Macedo do B, está indignado com o Supremo Tribunal Federal porque o órgão máximo da Justiça Brasileira reconheceu a união estável entre homossexuais. Está querendo promover um badernaço para protestar contra o que chama de "pouca vergonha". Imagine a moral que tem um sujeito desses para tratar do assunto...

Malafaia, embora seja um picareta que usa o nome de Deus para ficar cada vez mais rico, neste caso específico expressa a opinião de muitas entidades e de muitos brasileiros. Desde a CNBB, organização católica que mandou um advogado ao STF para tentar mudar a cabeça dos ministros, até os comentaristas anônimos que utilizaram este blog para dar um show de intolerância a respeito da questão.

Independente, porém, do que pensa o pastor, o jornalista que vos escreve e os milhões de brasileiros com aversão aos gays, o sentimento e a tesão entre pessoas do mesmo sexo é uma realidade. A própria bíblia, segundo os religiosos um livro escrito por inspiração divina, registra em suas páginas casos de homossexualismo. Naturalmente, de acordo com o pensamento católico, há uma condenação ao amor entre homens ou entre mulheres, assim como ao adultério, ao sexo fora do casamento e mais um monte de bobagens. O livro santo ainda deseja as mulheres virgens até o casamento e pelo menos no mundo Ocidental elas são uma espécie em extinção.

Havia tesão entre pessoas do mesmo sexo no tempo de Moisés, na época de Jesus, no antigo Egito, na gloriosa Roma, na tenebrosa Idade Média, no Renascimento, na Alemanha Nazista, na Rússia Comunista e continua hoje na Europa liberal ou conservadora e no ultra capitalista Estados Unidos da América. Você por acaso imagina que não tem gay no Afeganistão, por conta da herança dos talibãs? Ora, os xiitas e alguns islâmicos podem apedrejar mulheres e castrar homossexuais e mesmo assim não vão conseguir extirpar o desejo entre iguais. Pode estar certo de que no Paquistão, nas proximidades onde mataram Osama Bin Laden, existem homens que gostam de homens e mulheres que amam mulheres, mesmo que seja só em pensamento.

Feito esse histórico, podemos chegar a conclusão que do ponto de vista biológico, científico, o homossexualismo é simplesmente determinado pela genética, pelos cromossomos, pela formação do indivíduo a partir da concepção e consequente multiplicação de células. Podem influir fatores externos - a criação, os traumas -, mas pelo menos eu estou convencido de que o forte mesmo para determinar se alguém vai ser hetero, homo ou bi é a distribuição dos genes no organismo.

Se preferirmos deixar a Ciência de lado, rejeitando Darwin, Mendel e todos que deram sua contribuição a compreensão do Corpo Humano e da Evolução dos seres vivos, para se apegar aos dogmas religiosos, aí teremos de cometer uma heresia. Sim, porque se considerarmos que Deus fez o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, determinando o certo ser a união entre pessoas de sexos diferentes, não podemos deixar de admitir que alguma coisa falhou. E aí voltamos ao começo da história: desde que o mundo é mundo tem sexo entre homem e mulher, entre homem e homem, entre mulher e mulher.

Pessoalmente, acho que nem a natureza nem o Criador cometeram erro nenhum. Tanto que num estudo feito no Museu de História Natural de Oslo, na Noruega, foram descobertos casos de homossexualidade em 500 espécies de animais. As relações se dão entre mamíferos, insetos e até crustáceos. Ora, por que entre os humanos seria diferente? Somos racionais, inteligentes, seguimos regras, leis, temos credos, nada disso, no entanto, detém a libido. Sentir atração por um outro ser, independente se é ou não do mesmo sexo, no final das contas vai depender dos hormônios, dos neurônios, da pele, da química, da estética, da vontade de experimentar o novo e do desejo de ser feliz ou pelo menos compartilhar momentos de extremo prazer.

Claro, muita gente tem medo de encarar esse assunto, enfrentar seus demônios. Muitas vezes, por trás de um pai repressor, de um Malafaia ou um Bolsonaro, se esconde uma porção feminina aprisionada, pisoteada, escondida, que incomoda tanto a ponto de transformar o que não-se-assume num verdadeiro Satã.
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Homossexuais, portanto, sempre existiram. Hoje, no Brasil, estão em abundância na Igreja Católica, nas seitas evangélicas, nas forças armadas, no meio dos médicos, dos jornalistas, dos psicólogos, dos jogadores de futebol, no meio artístico, entre políticos, juízes, verdureiros, pedreiros e o que mais você imaginar.

Chega portanto de hipocrisia e vamos aprender a conviver com a diversidade. A única ressalva que faço com relação ao comportamento dos homossexuais é que estes devem ser discretos. É que na minha opinião a expressão já diz tudo: "Vida Íntima". O que eu faço com uma mulher na cama, o que fazem dois homens ou duas mulheres no leito só interessa a eles mesmos. O amor físico é um ato a dois e não coletivo, a não ser quando se trata de uma ménage a trois ou de uma suruba. Mas aí não é amor e sim uma pura experiência sexual e acredito que a maioria das pessoas não se dispõe a participar desses atos.

Nós heterossexuais devemos ser discretos e nossas aventuras sexuais não devem interessar a ninguém. O mesmo serve para os homo e os bi. Não se trata de defender "guetos", negação da condição da vida de cada um, nada disso. Mas devemos estar conscientes de que sexo é bom, é a melhor coisa que existe, é um ato sublime para ser praticado de preferência com quem se ama e por todas as suas particularidades - o seu conteúdo singular e sagrado, eu diria - deve sempre ser preservado da exposição pública.

E tem outra coisa: a vida não se resume só a sexo. Tem muitas outras coisas boas como o mar, uma boa feijoada, viajar, música, livros, amigos, cinema, escrever, futebol, um passeio no campo, crianças, conversas na porta da calçada, trabalhar, descansar, dormir, acordar e se deparar com um dia lindo. Sentir a presença de Deus e ter a certeza de que todo mundo é normal. Os monstros somos nós que criamos.