JUNIOR ALMEIDA, O FILHO DAS LETRAS DE CAPOEIRAS

Junior com a esposa, nora, filhos e netas

Por Gilmar Teixeira

No agreste pernambucano, onde o vento sopra frio, de terra férteis e a criação de gado desenha o ritmo da bacia leiteira de Garanhuns, nasceu Junior Almeida — um homem que aprendeu cedo que a vida é feita de histórias. 

Em Capoeiras, sua terra-mãe, ele cresceu entre prateleiras de farinha, feijão, rapadura, carne do sertão e querosene, para acender os candeeiros da casa, sempre ajudando o pai na mercearia logo depois das aulas. 

Enquanto pesava arroz e anotava fiado, o menino deixava que os olhos se perdessem em outro tipo de estoque: o das palavras.

A mercearia era seu primeiro livro. Cada cliente, um capítulo. Cada conversa, um parágrafo. 

E ali, enquanto embalava mercadorias, Junior embalava também um sonho silencioso: o de mergulhar na literatura e nas narrativas do seu povo.

O tempo passou, como passa o carro de boi na estrada de barro — devagar, mas com firmeza. 

Junior tornou-se o responsável pelo comércio da família, dividindo o dia entre comprar, vender e negociar. Mas nunca vendeu sua paixão pelos livros. 

Nunca barganhou o espaço que reservava à leitura, nem negociou o amor pelo passado do seu lugar. Pelo contrário: quanto mais o comércio crescia, mais crescia nele o desejo de guardar a memória da sua terra.

Foi assim que pegou a caneta como quem pega uma espingarda de luz e decidiu enfrentar o cangaço — não para combater, mas para compreender. 

Partiu em busca de Lampião, não pelos caminhos de poeira, mas pelas trilhas da pesquisa. 

E desse encontro nasceram livros que abraçam o agreste: A Volta do Rei do Cangaço e Lampião, o Cangaço e Outros Fatos no Agreste Pernambucano, Lampião em Serrinha  do Catimbau. 

Depois, voltou o olhar para dentro, para as calçadas e personagens de Capoeiras, e brindou sua terra com Capoeiras, Pessoas, Histórias e Causos.

Hoje, Junior Almeida é muito mais que o comerciante que administra com honra a herança do pai.

Ele é guardião de memórias, membro de academias de letras, conselheiro do Cariri Cangaço e presença indispensável em encontros que celebram a história do Nordeste. 

Onde se fala em caatinga, sertão e cangaço, lá está ele, ao lado da esposa Ranaíse, dos filhos e familiares, como quem entende que pertencimento é também uma forma de oração.

Nos eventos, chega sempre com um sorriso, livros debaixo do braço e a disposição de quem nasceu para partilhar. 

Porque Júnior não leva apenas conhecimento — leva amizade, respeito e o orgulho de ser nordestino até a raiz.

E assim segue o filho de Capoeiras: comerciante por ofício, escritor por vocação, sertanejo por alma. 

Um homem que transforma a vida simples em literatura, a história em caminho, e o sertão em página viva que nunca se fecha.

* Gilmar Teixeira é baiano de Paulo Afonso e autor,  dentre outros livros,   de "Quem Matou Delmiro Gouveia?" e "Piranhas no Tempo do Cangaço".

O texto foi escrito em homenagem a Junior Almeida, pela passagem do seu aniversário, no último dia 14 de novembro.

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