DOIS SÁBIOS QUE CONTESTARAM A VIDA DE APARÊNCIAS

As pessoas adoram viver de aparências.

Nessa época em que as redes sociais estão dominando a comunicação, então, o egocentrismo tomou proporções preocupantes.

Dois homens muito sábios,  o poeta português Fernando Pessoa e o filósofo chinês Lao-Tsé escreveram textos sobre essa mania das pessoas se consideraram os tais.

Fernando Pessoa viveu nos anos finais do século XIX e primeiras três décadas do século XX.

O chinês viveu 600 anos antes da Era Cristã.

De Lao-Tsé transcrevemos um trecho de "O Aparente Fracasso do Homem Espiritual:

Somente eu estou só...

Somente eu não sei o que farei...

Sou como uma criança que desconhece sorriso...

Sou como um foragido

Sem pátria nem lar...

Todos vivem em abundância

Somente eu não tenho nada...

Sou um ingênuo, um tolo...

É mesmo para desesperar...

Alegres e sorridentes andam os outros!

Deprimido e acabrunhado ando eu...

Circunspectos são eles, cheios de iniciativa!!!

Em mim, tudo jaz morto...

Inquieto, como as ondas do mar,

Assim ando eu pelo mundo...

A vida me lança de cá para lá,

Como se eu fosse uma folha seca...

A vida dos outros tem um sentido,

Eu não tenho razão-de-ser...

Somente a minha vida parece vazia e inútil;

Somente eu sou diferente de todos os outros .

O poema de Fernando Pessoa é mais conhecido. Segue um trecho do "Poema em Linha Reta":

Nunca conheci quem tivesse levado porrada

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita

Indesculpavelmente sujo

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante

Que tenho sofrido enxovalhos e calado

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar

Eu, que quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Pra fora da possibilidade do soco

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia

Não, são todos o ideal, se os oiço e me falam

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil

Ó príncipes, meus irmãos

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado

Poderão ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza

Argh! Estou farto de semideuses

Argh! Onde é que há gente? Onde é que há gente no mundo?

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