Foi um período de terror.
Você podia ser preso sem ter cometido nenhum crime e ser torturado até a morte. E "desaparecer", como aconteceu com Rubens Paiva, retratado no premiado filme "Ainda Estou Aqui".
Dentre os perseguidos pelos agentes da repressão, nomes conhecidos como Chico Buarque, Gonzaguinha, Caetano Veloso, Gilberto Gil, o teatrólogo Plínio Marcos, cineasta Cacá Diegues, jornalista Carlos Heitor Cony, professor (ainda não era político) Fernando Henrique Cardoso e Paulo Freire.
Até artistas românticos, no futuro rotulados como bregas ou cafonas tiveram problemas, pelo menos músicas censuradas, caso de Waldick Soriano e Odair José.
Raul Seixas e Paulo Coelho, que no início da década de 70 foram parceiros na composição de dezenas de músicas, foram tremendamente injustiçados pela ditadura.
Nem ao menos eram politizados. Não participaram de manifestações, não se ligaram a partidos políticos, nem chegaram a contestar o regime.
Mas foram presos e Paulo, que na época não era famoso como escritor, passou maus momentos nas mãos de agentes da repressão.
No disco de 1975, "Novo Aeon", uma canção reflete tudo que viveram, o clima de terror, o medo.
O nome da música já diz tudo: "Paranóia" (na época com acento agudo no o).
Acredito que muita gente do meio artístico teve os mesmos temores naqueles tempos brabos.
Veja as primeiras duas estrofes de "Paranóia":
Quando esqueço a hora de dormir
E de repente chega o amanhecer
Sinto a culpa que eu não sei de que
Pergunto o que que eu fiz?
Meu coração não diz, e eu
Eu sinto medo
Eu sinto medo
Se eu vejo um papel qualquer no chão
Tremo, corro e apanho pra esconder
Medo de ter sido uma anotação que eu fiz
Que não se possa ler
Eu gosto de escrever, mas
Mas eu sinto medo
Eu sinto medo
Raul Seixas morreu em 1989, aos 44 anos. Se ainda estivesse entre nós, teria completado 80 anos neste sábado, dia 28.
A GloboPlay vai exibir uma série sobre o Maluco Beleza. Não sei se incluirá esse componente político. Que ele não buscou, mas a ditadura sim.
Só o alienado, e inútil, e destalentoso "rei" Roberto Carlos nunca foi preso, sequer admoestado, porque apoiou a ditadura na maior cara-de-pau do mundo, inclusive tirando fotos ao lado de milicos e recebendo medalhas deles. Ele achava melhor fazer musiquetas em prol de baleias. Sei não... Gente morrendo, sendo presa, sendo torturada, exilada e o cara faznedo musiquinha pra baleia...
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