RAUL SEIXAS, ROBERTO, GIL, CHICO BUARQUE E A VISÃO DE DEUS


Muitos compositores da música brasileira expressaram a visão religiosa particular em seus trabalhos. 

O caso mais conhecido é o de Roberto Carlos, que se tornou católico fervoroso ao longo da carreira e a partir da música Jesus Cristo, de 1970, criou dezenas de canções de temática religiosa.

Outros artistas seguiram os passos do ídolo da Jovem Guarda, compondo músicas ligadas ao cristianismo.

Foi o caso de Antônio Marcos, Cláudio Fontana e da banda The Fevers, que teve um sucesso intitulado "Deus". Almir Bezerra, ex-vocalista do grupo, assina como um dos autores da canção.

Odair José gravou uma música e um álbum inteiro tendo Cristo como tema. Ao contrário dos outros citados, porém, foi crítico. O disco "O Filho de Maria e José" desagradou profundamente os católicos.

Antes, na canção que fala de Jesus Cristo, o compositor goiano questiona: "Quem é você?", narrando que procurou o salvador em plena sexta-feira santa e não o encontrou.

Compositor mais intelectualizado, Chico Buarque compôs "Partido Alto", com versos que incomodam os carolas. 

"Deus é um cara gozador, adora a brincadeira", é uma das frases da canção.

Mais na frente, em parceria com Gilberto Gil, ele compôs "Cálice", uma música de conteúdo político que usa frases bíblicas para criticar a ditadura da época, pedindo ao pai para libertar o povo da opressão.

Enfim, temos o Raul Seixas, que só ou em parceria com Paulo Coelho, pisou várias vezes no terreno da religiosidade e do misticismo.

No disco "Krig-ha, Bandolo!" de 1973, no rock "Al Capone", Raulzito canta: "Hei, Jesus Cristo / O melhor que você faz / Deixar o Pai de lado / Foge pra morrer em paz". 

É como se dissesse ao Messias que não vale a pena se preocupar com a humanidade, fazer sacrifícios, pois o mundo não tem jeito.

No mesmo álbum de 73, há uma canção em inglês,  "How Could I Know"em que Raul Seixas dá a entender que Jesus Cristo já cumpriu sua missão e não vai mais voltar.

No disco de 75, Raul voltou a falar de Jesus. Na canção "Novo Aeon", que dá nome ao álbum,  defende "o direito de ser ateu ou ter fé, de comer o que quiser, de rir, de ter prazer e até o direito de deixar Jesus sofrer". 

No sucesso "Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás" (1976), assim mesmo, com o pleonasmo, Raul Seixas revela que  "Eu vi Cristo ser crucificado / O amor nascer e ser assassinado / Eu vi as bruxas pegando fogo / Pra pagarem seus pecados / Eu vi!". 

O entendimento da crítica é que a canção mostra o amor sendo derrotado, a religião sendo usada para punir e o tempo revelando repetições de injustiça.

Tem ainda uma canção de Raul Seixas, do álbum de 1975, intitulada "Paranoia", que pinta Deus como um personagem assustador.

"Tinha tanto medo de sair da cama à noite pro banheiro/Medo de saber que não estava ali/Sozinho porque sempre/Eu estava com Deus!

E prossegue:

Eu tava sempre com Deus

Minha mãe me disse há tempo atrás

Onde você for, Deus vai atrás

Deus vê sempre tudo que 'cê faz

Mas eu não via Deus

Achava assombração, mas

Mas eu tinha medo

Eu tinha medo

Raulzito, no entanto não era ateu. Há misticismo e religiosidade na maior parte de sua obra.

"Guitâ", um dos seus maiores sucessos, adapta um poema indiano para pregar que Deus está em tudo.

E em "Água Viva" (1974), música adaptada de um poema de São João da Escócia, a divindade é descrita como uma fonte estranha, na qual está escondida o segredo da vida.

Ah! O Gilberto Gil também compôs uma música falando de Deus. Fez para Roberto Carlos gravar. Mas tomou liberdades, fugiu ao dogma católico e o rei não quis saber da canção, que ficou conhecida na voz de Gil mesmo.

"Seu eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós, tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz..."

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