Por Roberto Almeida
O filme "Ainda Estou Aqui" é tudo o que estão dizendo e talvez um pouco mais.
Como anotei numa nota curta do Instagram, logo após assistir o longa ontem à noite, no Cine Eldorado, "vale cada segundo".
Muitas cenas devem ficar para sempre na memória de milhões de brasileiros.
Sim, milhares e milhares, porque o filme já foi visto por mais de um milhão de pessoas em poucos dias. Apenas nos cinemas, imagine você quando chegar nos streamings e na TV Aberta.
Para começar o trabalho do diretor é impecável. Não sou especialista em cinema, mas acredito que Walter Salles escolheu o elenco a dedo e fez cada um dar o melhor de si durante as filmagens.
Até os atores jovens, crianças, estão perfeitos no papel que lhes cabe.
Selton Melo enquanto está em cena é completamente convincente. Parece ser o próprio ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado de casa, torturado e assassinado por agentes da ditadura militar.
A Eunice interpretada por Fernanda Torres é humana, é guerreira, cresce na adversidade e a atriz é grandiosa do início ao fim.
Muito do sucesso do filme se deve a ela.
Logicamente que Salles merece os maiores créditos.
Foi ele que resolveu adaptar o livro de Marcelo Rubens Paiva, que escolheu os atores, que decidiu como contar a história.
O início do longa, de forma proposital, mostra os Paiva, família de classe média carioca, vivendo em harmonia, com muitos momentos de descontração, de felicidade.
Quando os filhos do casal são parados numa blitz, com os policiais agindo de maneira grosseira, agressiva, vem como que um aviso do que está por vir.
Rubens Paiva, que não era comunista, não tinha ligações com a luta armada, apenas, com alguns amigos, ajudava pessoas perseguidas pelo regime militar, é levado de dentro de casa, sem explicações.
Começa a angústia a aflição de Eunice, que também é presa por alguns dias, juntamente com uma filha menor de idade.
É interrogada, tem de responder a perguntas estúpidas, fala a verdade e tem de repetir dezenas de vezes as mesmas palavras, pois os gorilas nunca estão satisfeitos com o que ouvem.
As crianças sofrem sem entender nada do que está acontecendo. Porque a mãe foi presa, porque o pai não volta.
O filme narra essa página infeliz da nossa história, mas não é panfletário, não é sectário.
É até sereno, por tratar de um tema tão áspero com tanta habilidade.
Walter foi feliz até na escolha das músicas que tocam durante o longa. As nacionais e as estrangeiras.
Quando se ouve Erasmo cantando "É Preciso Dar um Jeito Meu Amigo" e Roberto interpretando "Como Dois e Dois", é como se percebe como estas músicas são políticas, representam os anos 70, o estado de espírito dos brasileiros que não eram indiferentes ao pesadelo provocado pela ditadura militar.
Fernanda Montenegro é o presente para um epílogo inesquecível. Não diz uma palavra, mas com o olhar, uma expressão, sintetiza tudo.
Independente de Oscar "Ainda Estou Aqui" cumpre um papel importante neste momento da vida nacional.
Nos faz pensar nos descerebrados que defendem intervenção militar, nos loucos que se transformam em homens bomba ou nos extremistas fazendo plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin ou o ministro Alexandre de Moraes.
Assistindo o filme, em alguns momentos lembrei de Ulisses Guimarães, o símbolo da resistência, que ao promulgar a Constituição de 1988 revelou ter ódio e nojo da ditadura.
Um brinde ao cinema nacional! A arte nos salva! Ditadura nunca mais.
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