CONTEXTO

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Pesquisas Eleitorais

AS SETE COLINAS DE GARANHUNS - SUBSÍDIOS HISTÓRICOS

Professor e escritor Igor Cardoso


QUILOMBO (905m) – Vizinha ao Magano (área da UPE), integrava o importante núcleo dos Palmares na região, abrigando, provavelmente, a paliçada do mocambo no cume, descrita como uma verdadeira fortaleza. Em sua meia-encosta, foi instalado o Sítio do Garcia, originalmente pertencente aos sesmeiros da família Aranha Pacheco. Alvo das investidas dos quilombolas do Magano, essa primitiva propriedade foi abandonada por volta de 1670, e, após a destruição do reduto, reorganizada pelo casal Manoel Ferreira e Simoa Gomes de Azevedo, evoluindo para a futura cidade. A parte alta da colina, por sua vez, passaria a sediar o Sítio do Quilombo, assim designado em memória das Guerras dos Palmares. A expansão urbana seguiu as curvas de nível do monte, rumando decisivamente para cima após o estabelecimento da estrada de ferro e da estação ferroviária em plano mais elevado, na década de 1880. Às margens da via férrea, foram surgindo, a partir de então, os novos bairros de São José e, mais recentemente, da Brasília, no entorno do campus da Universidade de Pernambuco (UPE).

MAGANO (1.030m) – Única a ultrapassar a marca dos 1.000m de altitude, é a mais alta e mais famosa entre as colinas garanhuenses, e um dos pontos culminantes de todo o Planalto da Borborema. Por suas características privilegiadas do ponto de vista defensivo, permitindo uma completa vista do entorno, abrigou um dos mais importantes núcleos habitados, ou “mocambos”, dos Palmares. Como era comum acontecer no famoso quilombo, seu nome faz referência a algum indivíduo considerado notável, provavelmente uma liderança. O termo “magano” remete a alguém que, a exemplo dos antigos mercadores de escravos “maganos”, que enfeitavam os negros com vistas a agradar os compradores, distingue-se por ser esperto, malicioso, travesso. Inserida em uma propriedade particular, em cujo sopé nasce a famosa água mineral Serra Branca, em sua parte baixa, quase que contornando a colina, passava a antiga estrada do Buíque, em cujas margens foi surgindo o futuro bairro do Magano. Nos anos 1950, o prefeito Celso Galvão acertou com os proprietários a instalação, em seu cume, de um mirante com uma estátua de Jesus, que o então bispo Dom Expedito Lopes sugeriu fosse não um Redentor, como o do Rio de Janeiro, mas um Crucificado. Inaugurado em 1954, tendo o trabalho escultórico sido confiado ao artista local Renato Pantaleão, o Cristo do Magano logo se converteu em uma das principais atrações turísticas da cidade. Anualmente, durante a Semana Santa, a colina serve de cenário ao tradicional drama “Jesus, Alegria dos Homens”, encenação que se desenrola em palcos de alvenaria especialmente construídos para o evento e distribuídos ao longo da subida até o ponto de apoteose da Paixão garanhuense.

IPIRANGA (905m) – Originalmente conhecida como Morro do Miguel, em referência ao cabo Miguel Coelho Gomes, pai da fundadora Simoa Gomes, já era referida, no século XIX, por Boa Vista, constituindo o local predileto para a contemplação do núcleo histórico da cidade e da deslumbrante paisagem ao redor. Ali, às margens das velhas estradas que levavam para a fonte do Mundaú, para Correntes e para as Alagoas, foi surgindo, em fins daquele século, o bairro da Boa Vista. Ainda semivirgem, a encosta norte da colina foi escolhida para servir de cenário às comemorações do Centenário da Independência, em 1922, ocasião em que a antiga capela de São Sebastião foi finalizada, e, no alto, ergueu-se o Monumento do Ipiranga, ambos conforme projetos do engenheiro Ruber van der Linden. A encosta sul, por sua vez, passaria a abrigar, com o passar dos anos, importantes equipamentos urbanos, a exemplo do Cemitério de São Miguel, do Aprendizado Agrícola (depois Bom Pastor) e do campus da futura Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE).

ANTAS (965m) – Vizinha à Boa Vista, situada nas imediações do atual bairro Aloísio Pinto, é a colina de trajetória mais obscura. Seu nome deve aludir à presença do mamífero na região, muito comum em toda a América do Sul.

MONTE SINAI (930m) – Embora a estrada do Recife sempre tenha passado em seu sopé, a mais elegante entre as sete colinas garanhuenses só foi “descoberta”, por assim dizer, em meados da década de 1920, quando o prefeito Euclides Dourado, decidido a planejar o crescimento urbano, orientando-o para região mais plana, palmilhou a propriedade e galgou o cume ainda virgem, dali descortinando a espetacular paisagem. A requerimento de Euclides, o engenheiro Ruber van der Linden para lá faria convergir o futuro bairro de Heliópolis, reservando a parte mais alta, de situação privilegiada, a um empreendimento turístico de grande porte. Já nessa época, o local era referido por Monte Sinai, designação tomada por empréstimo à montanha bíblica onde Moisés recebeu a Tábua dos Dez Mandamentos. No topo, seria erguido o Grande Hotel Monte Sinai, cuja construção se arrastou por décadas, sendo a luxuosa edificação pública, ao final, cedida ao comando da Polícia Militar. A ocupação do bairro foi igualmente lenta, vindo a parte final da Av. Rui Barbosa a povoar-se de mansões apenas nas últimas décadas do século XX.

COLUMINHO (930m) – Abrigou o Sítio do Columinho, um dos mais antigos da região. O termo é uma provável corruptela de “curumim”, memória da presença indígena na região. Por outro lado, há referência à existência de um mocambo dos Palmares designado de “Engana-Colomin”, e constituído apenas por índios rebelados. Em relação a esse núcleo, de localização ignorada, não havendo evidências de que estivesse situado nos Garanhuns, há a seguinte explicação: “ngana”, termo do idioma africano quimbundo, correspondente ao português “senhor”; e “nkulumbi”, vocábulo do quicongo, significando “pessoa mais velha”, “pessoa sábia”. Por afinidade e analogia, tem-se, portanto, a possibilidade de a designação também remeter ao vocábulo africano “nkulumbi”, constituindo, em verdade, memória da presença palmarina. A colina permaneceu praticamente intacta até o primeiro meado do século XX. Em seu alto, foi instalada a estação de tratamento de água da cidade e, na década de 1950, iniciado um santuário dedicado a São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, cuja festa atraía para lá, anualmente, uma concorrida procissão motorizada.

TRIUNFO (910m) – Situada às margens da secular estrada das Frexeiras, essa tradicional rota de fé foi bastante incrementada a partir de 2002, com o estabelecimento, no alto da colina, do Santuário da Mãe Rainha, réplica do de Schoenstatt, na Alemanha. Foi nesta localidade europeia que se originou o Movimento Apostólico Internacional homônimo, de devoção à Virgem Maria, fundado em 1914, pelo padre Joseph Kentenich, e que conta com mais de 200 santuários espalhados pelo mundo. Recém-descoberta pelo turismo religioso, a colina logo se transformou em uma das mais belas e visitadas de Garanhuns.

Um comentário:

  1. Uma colina não pode ultrapassar 100m de altura. Visto a informação Garanhuns é composta por montanhas.

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