Por Junior Almeida
Em 19 de julho de 1935, Lampião e parte do seu bando entraram no
município de Garanhuns pelo Sítio Timóteo, hoje, terras pertencentes a Paranatama.
Os bandoleiros vinham da Fazenda Guaribas, em Pedra, pertencente, na época, a
João cordeiro Vaz, o Dão Vaz, e tinham a intenção, a princípio, de ir até Capoeiras,
então terceiro distrito de São Bento do Una, onde, segundo palavras do Rei do
Cangaço, “iriam acertar negócios com João Borrego (João Alves de Siqueira)”.
Ao prender o campesino Manoel Germano da Costa, o Manoel Moleque,
no Sítio Cachoeira Grande, ainda em Pedra, Lampião mandou que este os guiasse
até a vila de Capoeiras, mas, o esperto roceiro tapeou o cangaceiro, dizendo
que “o lugar estava com gente em armas esperando a chegada do bando.”
Lampião, então, ordenou que Manoel Moleque os levasse até a Vila
de Serrinha do Catimbau. Em terras de Garanhuns, virando de 19 para 20 de
julho, os cangaceiros farrearam ao compasso da sanfona e de muita cachaça, e
também cometeram suas costumazes tropelias, como roubos, extorsões, estupros,
agressões e um assassinato, a do idoso agricultor José Gomes Bezerra, na
localidade Queimada do André.
Com todo esse “barulho”, e a certeza que a Vila de Serrinha seria
invadida pelos bandoleiros, moradores locais, encabeçados por João Caxeado e
Oséias Correia, arregimentaram pelo menos quatorze homens de coragem numa
precária, porém brava resistência.
Ao amanhecer de 20 de julho, Virgulino Ferreira, o Lampião, sua
companheira Maria Bonita, Inacinha, Medalha, Fortaleza, Juriti, Moita Braba e
Gato estavam na principal via de Serrinha. Foi um Deus nos acuda. Muitos tinham
fugido, mas os moradores locais que resolveram resistir, estavam entrincheirados
todos nas casas do lado de cima da atual praça principal, do lado da igreja.
Não demorou muito para que Lampião andasse pelo lugar, em meio a
pelo menos seis reféns, feitos escudos humanos, procurando as casas das pessoas
de posses, para que pudesse tomar-lhes dinheiro e objetos de valor. Na metade
de sua caminhada, iniciou-se pesado tiroteio, sendo Maria Bonita logo atingida
por dois tiros, o que fez com que os cangaceiros, ao responder a agressão, debaixo
de muita bala, se preocupassem mais em socorrer a mulher de Virgulino, fugindo célere
de Serrinha do Catimbau, atual Paranatama.
Para se ter noção da importância deste fato na História do
cangaço, Maria Bonita que foi baleada em Serrinha, até a data de sua morte três
anos depois, em Sergipe, teve sequelas por conta do ferimento, vivendo a escarrar
sangue. Ela chegou o a sair do coito de Angico para ir se tratar em Propriá,
poucos dias antes de tombar sem vida pelas mãos das volantes do tenente João
Bezerra.
Depois da façanha, que no dia de hoje completa 88 anos, o
povo de Serrinha do Catimbau perdeu o sossego, pois Lampião prometeu voltar e
arrasar o lugar, dizendo ele que “não sobraria nem as casas, que queimaria tudo”.
Um grupo de homens pegou em armas e passou a patrulhar o lugarejo, só sendo
desarticulada esta milícia, depois da morte de Lampião e parte do seu bando em
28 de julho de 1938, em Porto da Folha, atual território de Poço Redondo, em
Sergipe.
Em 6 de outubro de 2021, para lembrar o heroico feito, o prefeito Valmir
Pimentel de Góis - Valmir do Leite - sancionou a 235/2021, que instituiu o 20
de julho como Dia de Resistência ao Cangaço, portanto, hoje é dia do
povo de Paranatama celebrar o histórico dia.
*Fotos: 1- Resistência formada em Serrinha após o ataque dos
cangaceiros; 2- Lápide do túmulo de José Gomes Bezerra, assassinado pelos
cabras de Lampião; 3- Livro de nossa autoria que detalha todo o episódio.
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