O sucesso da música começou dentro da própria CBS. Todos comentavam e queriam ouvir a fita com a nova gravação.
Fato pouco comum, até o pessoal do escritório ia à sala da técnica para ouvir quero que vá tudo pro inferno.
E todos diziam que a música seria um sucesso. Evandro Ribeiro dizia isso; Lafayette também; o técnico Jair Pires dizia.
E todos se enganaram, porque ela não foi apenas um sucesso. Foi a de maior impacto popular na história da música popular brasileira.
Até então, nenhuma outra canção lançada no Brasil tinha causado tanta polêmica e repercussão.
"Quero que vá tudo pro inferno foi o fenômeno de massa mais intenso que eu vi na minha geração", afirmou Caetano Veloso.
A rigor, essa gravação não foi lançada, ela explodiu.
Na época, um padre carioca, Antônio Neves, reagiu antes mesmo de ouvir a nova canção. "Eu levei um choque quando soube do título dela: Quero que vá tudo pro inferno. Imagine se a mocidade começa a cantar isso".
Uma canção que assustava alguém apenas com a leitura do título, o que não poderia provocar quando todos começassem a ouvir o refrão com aquelas mesmas palavras?
"Para a época (1965), aquilo foi realmente uma coisa muito forte, agressiva. É como se hoje (no ano de 2006) fosse lançada uma música com o refrão: Quero que vá todo mundo pra puta que pariu", comparou a cantora Wanderléa.
Lembro que havia um comentário geral das pessoas criticando Roberto.
"Esse cara não tem o direito de fazer isso", reagiu o cantor Wando, quando a música explodiu.
Enfim, uma sociedade reprimida, que, de repente, foi tomada por uma canção com um grito de guerra arrebatador.
A canção provocou e perturbou os setores conservadores, ou seja, a maioria da sociedade brasileira.
Na época, muitas emissoras de rádio se recusaram a tocar a música por determinação dos proprietários, numa censura interna motivada por razões religiosas.
*O texto acima é um trecho do livro "Roberto Carlos em Detalhes", de Paulo César Araújo. A obra foi tirada de circulação, depois que o cantor e compositor conseguiu uma decisão da justiça proibindo a biografia não autorizada.
A obra de Paulo César pode ser lida na internet. O livro físico é comercializado por até R$ 700,00 no mercado livre.
Atualmente este tipo de censura não pode mais ser exercida, porque o Supremo Tribunal Federal decidiu que são permitidas as biografias de figuras públicas sem precisar de autorização do personagem enfocado.
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