A pressão dos fatos,
indícios, suspeitas e convicções tem provocado declarações de desespero do
presidente da República, Jair Bolsonaro. Sem condições de realizar o seu desejo
no cargo – proclamar-se ditador, fechando os demais Poderes -, as reações chegam
a um limite, o de falsear a realidade, fraudar fatos, fingir-se de democrata e
incitar fanáticos. O mais recente episódio confirma. Irritado com a quebra de
sigilos de dois de seus filhos – o senador Flávio e o vereador do Rio de
Janeiro, Carlos -, Bolsonaro volta a disparar bravatas e ameaças, ancorando-se
no imaginário de possuidor de um exército, de ter o apoio do povo e não haver
nenhum limite para o seu poder.
O ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que quebrou sigilos de blogueiros
e parlamentares, entre eles Flávio e o
Carlos, em investigação sobre uma organização criminosa digital para disseminar
fake news e atacar a democracia e o Estado de Direito, levou o presidente ao
portão do Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro encontrou com a sua cada vez
menor corte de evangélicos e fanáticos. Diante de celulares abertos, Bolsonaro
falou livremente o que quis, sem interferência, a não ser das corriqueiras
frases serviçais de agrado do ego presidencial: “é isso aí, presidente”, “tamos
com o senhor”, “conte comigo”, e por aí seguem. De uma tirada só, em longos
minutos, o presidente associa temas e fatos distintos e sem relação em formas
de ameaça, indignação, inocência, revolta e onipotência.
A começar pelo ameaçador tom
de revide, o que lhe é comum, Bolsonaro disse que pode partir para o vale-tudo,
porque considera que o STF partiu primeiro, e que as contestações da oposição
no Brasil partem do lado “desmamado” e com “superpoderes” que estariam
insatisfeitos com a perda de privilégios, sem apontar quais seriam. O
presidente garantiu que nunca cometeu um gesto fora da Constituição (como se
não tivesse estimulado e participado de manifestações pedindo uma ditadura) e
levianamente afirmou que o STF soltou Lula e o tornou elegível para poder o
“eleger na fraude (o voto digital, sem impressão em papel)”, mais uma vez não
apresentando provas de que houve fraude nas eleições digitais anteriores,
inclusive a que o elegeu em 2018..
Por que Bolsonaro faz isso?
Apenas para se proteger, deturpar, distorcer, insuflar, conturbar e criar um
ambiente de conflagração que lhe respalde a tentativa de um golpe. É isso que
ele imagina e planeja: ser um ditador. Tudo lhe parece fácil, se assim quer,
tudo em uma cabeça inconsequente. No mesmo vídeo, difundido pelas redes sociais
de aliados, o presidente da República diz que “o povo” está ao seu lado – o que
Bolsonaro entende por povo são os motociclistas de Harley-Davidson e a classe
nacional similar de Copacabana – e repete gratuitamente a acusação de fraudulento
o voto digital, jogando para o TSE o ônus de provar “que não houve fraude” nas
eleições passadas. Parece piada, mas os fanáticos do portão do Alvorada ululam
de ira a cada bravata contra os Poderes e de êxtase a promessa.
No amontoado de jabutis
estratégicos e insanidades ideológicas – tudo é uma ameaça comunista, tudo são
oposições querendo o socialismo, tudo é o Brasil cercado por países com
governos socialistas -, o culto à personalidade e à idolatria é uma via de mão
dupla, com os seguidores repetindo “sim, sim” e “é isso, é isso”. Bolsonaro, no
vídeo, agride países vizinhos e historicamente amigos: Argentina, Bolívia,
Peru, por terem governos de esquerda eleitos. Até o Chile de Sebastián Piñera,
um presidente liberal na economia e um país hoje democrático – exclusivamente
porque os chilenos estão substituindo a Constituição da época de Augusto
Pinochet – é tratado agora com desprezo e sem qualquer protocolo diplomático.
Sobretudo, a Argentina de Alberto Fernández é o alvo predileto do ódio de Bolsonaro.
O presidente do Brasil deve
se flagelar bastante por não ter condições de executar seus desejos. Imagina
que tem o Exército à disposição e que conta com a fidelidade – até possível –
das Polícias Militares por suas promessas de paraíso, mas não tem força
política. O povo que acredita ter, e deve ter, não é o povo que o Brasil tem em
maioria: o da Harley-Davidson e de Copacabana. Entretanto, Bolsonaro delira: no
vídeo, afirma que é o único que tem “condições de garantir a liberdade dos
brasileiros (ameaçada por quem?)”, volta à questão do “estado de sítio (qual a
necessidade?)”, critica novamente “poderes dados (o que não é verdade)” pelo
STF a governadores e prefeitos para o combate à covid-19, e repete que “não
fechou nenhum botequim na pandemia”.
“Temos que nos ajudar cada
vez mais. Nós temos a razão”, “vamos conquistar os idiotas para o nosso lado”,
“o povo está do nosso lado”, “se não tiver voto impresso vai ter problema”,
“estamos libertando os índios, alguns já estão produzindo”, “os Correios deram lucro”,
“estamos privatizando para acabar com os ratos nas estatais”, “estão falando da
Covaxin, mas não compramos a vacina”, “não tenho acesso a todos os ministérios
(a tramoia é sempre dos outros)”, “quebraram o sigilo (STF no inquérito das
fake news) de dois filhos meus, mas não quebraram o de Adélio (autor da facada
na campanha de 2018), “evitei saques com o auxílio emergencial na pandemia”… E
segue Bolsonaro na combinação de temas sem conexão na fala aos seguidores.
Frases desconexas nos
assuntos e entre assuntos. Segundo o ditado, tudo junto e misturado. É
Bolsonaro entre o desespero, por se sentir cercado, e as mentiras como arma
política e como tática para confundir, enganar e inocentar-se. No mesmo vídeo,
o presidente da República não deixa de repetir ataques à imprensa profissional,
com a especial predileção pela TV Globo. Acha-se perseguido, possivelmente
porque gostaria de ter a imprensa ao seu lado e a imagina nos papéis de
porta-voz e de assessoria. Acontece, felizmente, que o mundo não é como o
presidente do Brasil imagina e deseja, nem a maioria dos brasileiros quer fazer
parte de seus delírios.
Bolsonaro sabe, na lucidez,
que o seu mandato corre risco e que terá a conta dos mortos pela pandemia para
pagar. Isso o desespera, por isso fala como um desesperado. E não será a única
conta. A sabotagem aos governadores, o boicote às medidas preventivas contra a
covid-19 e a negação às vacinas – à exceção do esquema de submundo para a
indiana Covaxin – são parte da lista de fiados com o país, o qual tem tratado
como bodega de mundo subdesenvolvido. Os atos antidemocráticos contra os
Poderes da República e as redes de fake news e de propaganda da violência, e os
ataques à reputação de autoridades, são contas em aberto. Surge agora o Jair
das “rachadinhas”, o Bolsonaro pré-2018, conta que ficará para após o mandato.
Muitos se enganaram com os seus discursos e 28 anos de Câmara de Deputados. As
contas são de Bolsonaro, mas as faturas são do país.
*Ayrton Maciel é jornalista.
Trabalhou no Dario de Pernambuco, Jornal do Commercio e nas rádios Jornal,
Olinda e Tamandaré. Ganhador do Prêmio Esso Regional Nordeste de 1991.
**Foto: Guia São Paulo
Tantas comparações verdadeiras e ditas pelo chefe da nação brasileira.Quem nunca assistiu pelo YOUTUBE o discurso da mulher mais votada do Brasil até hoje com mais de 2.000.000 de votos pelo PSL partido do presidente e que no plenário da câmara federal ela se expressou mostrando toda sua indignação e revolta.26 de março de 2020 foi o seu discurso.Por isso apenas hoje ouço e vejo os que votaram falarem mal do voto dado em 2018 no presidente atual.
ResponderExcluirTem frases e comentários que faz um bem danado de bom.Nunca esqueci de alguns pensamentos falado e escrito por PADRES,POLÍTICOS,JORNALISTAS e deles considero o Jornalista Roberto Almeida que nos proporciona essas relíquias de comentários acima.
ResponderExcluirSanto Agostinho escreveu assim filosofando: "prefiro os que me criticam porque me corrigem aos que me elogiam porque me corrompem".
Dr. Roberto Magalhães escreveu assim em seu governo por Pernambuco."Quem não for capaz de fazer uma autocrítica, certamente não será um bom político ou pelo menos um bom líder".
A JOICE HALSSELMANN em 26 de março de 2020 fez 4,5 minutos de críticas ao presidente.Logo ela que o amava e o aconselhava e fora a primeira mulher a reunir mais de 1.000 mulheres para seguir o presidente e hoje faz oposição ao presidente e seus filhos e seu governo com ataques ferozes.Por isso eu não escrevo nas redes sociais para atacar o presidente porque os seus verdadeiros seguidores são quem ataca e critica todas as comparações feitas acima pelo jornalista AYRTON MACIEL.