Por Roberto Almeida
Um jovem garanhuense que
estuda jornalismo, no Recife, me pede informações sobre os cinemas da cidade,
no passado.
Ele me enviou a foto que
ilustra a matéria, do antigo Cine Eldorado, em Heliópolis.
Em Garanhuns, antes de ir
residir na capital, onde vivi 18 anos, morei parte da infância e adolescência.
Meu endereço na Suíça
Pernambucana era uma casa de quatro quartos e quintal enorme na Rua Quinze de
Novembro. Éramos vizinhos da família Cipriano, das pessoas mais decentes que
conheci na vida.
Manoel, o chefe da família,
Lídia, a matriarca e os filhos: Jair (Bito), Elon, Davi, Nemuel, Lena, Lucy e
Meída.
Bito foi grande amigo do meu
irmão Eduardo, Elon tentou me ensinar alguma coisa de matemática e geometria,
no Colégio Quinze, mas decididamente não nasci para somar, subtrair,
multiplicar ou dividir, desde criança eram as letras – e não os números – que me
encantavam.
Na época em que fui garoto e
rapazote em Garanhuns, a cidade tinha três cinemas: O Veneza, praticamente
atrás da minha casa, o Eldorado, em Heliópolis, e o Cine Jardim, o melhor e
maior deles, na Praça do mesmo nome.
No local hoje funciona as
Casas Bahia.
Era a maior diversão em
Garanhuns, praticamente não havia outra. A televisão engatinhava e só a partir
da segunda metade da década de 70 se popularizou.
Os cinemas viviam cheios,
tinham duas sessões por noite, uma a mais no domingo, além da matinê para as
crianças.
No Jardim assisti épicos,
filmes de faroeste, romances, provavelmente foi na sala de exibição do centro
que fui apresentado às lindas atrizes Sophia Loren, Jane Fonda e Cláudia Cardinale
No Veneza, criança, adorei “Bonga,
o Vagabundo”, um dos primeiros filmes de Renato Aragão. Ele era moço, ainda. Na
mesma sala vi pela primeira vez “A Noviça Rebelde”, um clássico que revi várias
vezes depois que me tornei adulto.
Em Heliópolis, uma noite,
acompanhado do meu grande amigo Ricardo, conferi uma preciosidade que me
encantou: “Susan e Jeremy, o Primeiro Amor”, um romance incrível envolvendo
dois adolescentes embalado por um toque de música erudita, pois um dos personagens (ou
os dois) tocava violoncelo. Já se passaram quase 50 anos e a história de amor e a trilha sonora desse longa ainda estão em mim.
Garanhuns, sei pelos mais
velhos, teve o Cine Glória, que funcionou na Avenida Santo Antônio, me parece
no prédio que depois por muito tempo sediou as Casas José Araújo. Depois foi a Balagandâ, hoje me parece que é uma loja de eletrodoméstico.
Mas não cheguei a conhecer o
Glória. Na minha infância e adolescência os cinemas eram os três já citados.
E nesta época nem ao menos a humanidade sonhava com internet, redes sociais, telefone celular e computador.
O videocassete, que ajudou a
fechar muitos cinemas Brasil à fora, só surgiu entre nós no início dos anos 80.
A diversão era mesmo cinema,
jogar bola e ler gibi.
O Fantasma, Mandrake, Batman
e Super Homem faziam a nossa cabeça. Todos eles, depois, pularam das páginas
dos quadrinhos para o cinema.
O Cine Jardim fechou as
portas em 1982 e a cidade ficou décadas sem nenhuma sala de exibição. Até que
um empresário da Região Metropolitana do Recife resolveu recriar o Eldorado.
Foi chamado de maluco e teve
gente deu seis meses ao cinema.
O novo Eldorado, contudo, veio
para ficar, não demora muito completa 20 anos, atraindo um bom público, exibindo
grandes lançamentos, colocando Garanhuns no circuito das cidades onde o cinema
sobrevive.
Nos anos 70, as salas de
exibição não tinham conforto. Os bancos eram duros, de madeira e ar-condicionado
era impensável.
Hoje a realidade é outra. Para
competir com TV por assinatura, Netflix e tudo mais o Eldorado oferece lanches,
cadeiras estofadas, temperatura amena e sucessos que às vezes chegam aqui no
mesmo dia do lançamento em Nova Iorque.
“Belos tempos, belos dias”,
como diz a música.
Sim, aqueles tempos, quando o cinema era a maior diversão em Garanhuns e em quase todo lugar.
O cinema é um espetáculo tão primoroso no planeta terra que há quem diga ou ousou em afirmar que ele é o modo mais direto de entrar em competição com Deus... Além de ser a maior diversão, o espetáculo é tão perfeito que se tornou em um modo divino de contar a vida!!!
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