Por Ayrton Maciel*
A Coroa de Portugal, o Brasil
colonial, o Brasil imperial e a República brasileira. O que há de diferente, em
termos de corrupção, em 520 anos do “jovem” País, que aparteia cada um e o todo
dos brasileiros entre o nacionalismo indiferente, a alheação patriótica, a
consciência envergonhada e a inconsciência dos invisíveis? Nada. Para mais ou
para menos é uma questão de graduação, não de erradicação ou controle. Porque o
mal está na formação do povo brasileiro. Uma herança que a corte e a elite
nacionais reproduziram e que o povo absorveu.
O argumento do “País jovem” é
o perdão ou a desculpa do brasileiro que veste a integridade territorial com as
vestes da honra nacional. Porque temos a mesma idade dos países americanos do
Norte, do Centro e do Sul. Muitos, a bem de atenuar, também penitentes da
corrupção espanhola. Então, a culpa é de quem? Do desinteresse das elites
nacionais e seus governos em erradicar ou aplicar as leis de controle, através
dos Poderes constitucionais do Estado.
Certamente, extirpar esse
histórico estágio de vergonha do País depende do simultâneo – e por gerações –
investimento em educação na base. Mudança de postura umbilicalmente dependente
da conscientização das elites econômica, política e militar nacionais. Ou seja,
que não resistam a novos conceitos, não se apeguem a tradições e não impeçam
mudanças.
Para exemplificar está
dificuldade brasileira, lembro de uma passagem de um dos três livros da
autobiografia do histórico economista paraibano, Celso Furtado. Ele narra que o
presidente Juscelino Kubistchek lhe pediu um órgão para planejar e puxar o
desenvolvimento do Nordeste: viria a ser Sudene. E revela: os maiores
opositores da criação do órgão foram exatamente os parlamentares da Região.
Eles temiam perder o seu domínio coronelista sobre a população. Para passar no Congresso,
a Sudene teve de contar com o apoio dos deputados e senadores do Sul e Sudeste.
Somos uma herança colonial da
Coroa e do Império e da elite coronelista. Algumas tradições foram superadas,
mas superficialmente afetaram a estrutura da nossa formação. Muito mais
tradições (não me refiro à cultura) estão arraigadas.
Quando lemos obras e ensaios
de historiadores, numa análise histórica da corrupção no Brasil, a constatação
comum é a do mal que sempre esteve presente na Colônia, no Império e na República,
inclusive nos períodos ditatoriais e de discursos mais anticorrupção, como o
dos militares de 64. Com todo o poder que detiveram não impediram o
enraizamento da corrupção.
Eis uma prática vinculada às
cortes e à elite que foi adotada pelas demais classes sociais. Isso não
significa afirmar que não há uma parcela da população que fique indignada com a
prática. Sempre houve os indignados. Porém, da elite colonial à elite imperial
e à elite republicana é uma prática sem escrúpulos ou com maus escrúpulos.
O patrimonialismo público e
privado, o favorecimento clientelista e os laços de família nas estruturas do
Estado são características tradicionais da corrupção nacional. A gorjeta do
guarda de trânsito, a propina do fiscal de renda e do político-relator do orçamento,
o percentual da obra ou da compra pelo governante, a compra da sentença
judicial, o presente em agradecimento ao gestor. A corrupção se disseminou e se
dissimula historicamente como prática no que acabou se configurando em tragédia
social brasileira.
*Ayrton Maciel é jornalista.
**Ilustração: Reproduzida da Revista Veja.
Falta de caráter do povo, levam tudo na anarquia e brincadeira, por isso estamos vivendo isso que está ai na política brasileira.
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