ESPECIAL - José Ramalho
Neto, o Zé Ramalho da Paraíba, nasceu numa cidade pequena, Brejo da Cruz, em
1949. O município ainda hoje tem menos de 15 mil habitantes.
O pai do artista, Antônio de Pádua,
seresteiro, morreu afogado num açude na região sertaneja, quando o futuro
cantor popular tinha apenas dois anos.
Estelita Torres Ramalho, a mãe, era
professora.
Mas com a morte do pai quem criou o
menino foi José Alves Ramalho, o avô. Este marcou tanto a sua vida que uma das
músicas mais conhecidas do trovador urbano foi feita em homenagem ao homem que
o criou e encaminhou na vida.
“Avôhai” está no primeiro LP do
compositor, de 1977, numa sequência que inclui “Chão de Giz” e “Vila do
Sossego”.
São três canções que se tornaram
clássicas, mais de 40 anos depois ainda são ouvidas com prazer,
apreciadas por diferentes gerações e regravadas na voz de outros artistas da
música popular brasileira.
Outro grande hit seu é “Admirável Gado
Novo”, que tocou muito na época, quando foi lançado e voltou às paradas de
sucessos nos anos 90, quando foi incluído na trilha sonora da novela global “O
Rei do Gado”.
O Zé faria várias outras músicas para
as telenovelas globais.
Do tempo de "vacas magras",
no Rio de Janeiro, o compositor criaria "Garoto de Aluguel", uma
canção emblemática inspirada na vida dos rapazes que faziam programa com
ricaças da cidade maravilhosa.
Da época de "Admirável Gado
Novo" é Frevo Mulher, gravada por ele e pela cearense Amelinha. Um sucesso
retumbante, que segundo o insuspeito Caetano Veloso provocou mudanças até no
carnaval da Bahia.
De Brejo da Cruz, Zé Ramalho foi morar
em Campina Grande, depois João Pessoa e Recife.
Na capital pernambucana o autor de “A
Terceira Lâmina” conheceu Geraldo Azevedo e Alceu Valença, se tornando grande
amigo dos dois.
Zé Ramalho começou a decolar na
carreira quando foi tocar na banda de Alceu e em shows do pernambucano teve
oportunidade de cantar algumas de suas músicas.
Antes do encontro com Geraldinho e
Alceu, quando ainda morava em João Pessoa, no final da década de 60, o
cantor paraibano assistiu um show de Jerry Adriani.
Nessa apresentação do ídolo da Jovem
Guarda, a banda que o acompanhou foi Raulzito e seus Panteras.
Antes de se tornar conhecido como Raul
Seixas, o baiano foi Raulzito, que compôs músicas para artistas da Jovem
Guarda, como Wanderleia, Jerry Adriani e Diana.
Num bate papo com o guitarrista
pernambucano Robertinho do Recife, Zé Ramalho disse que no show de Jerry Adriani
em João Pessoa, o compositor de “Ouro de Tolo”, Raul Seixas, era um garotão
magro, sem barba, que chamou a sua atenção. “Prestei mais atenção nele de que
no cantor principal”, revelou.
Ali, acredita, já estava o artista que
ia se destacar no Brasil a partir da década de 70.
Nas suas entrevistas, o profeta
paraibano diz que a Jovem Guarda teve forte influência em sua carreira, como
também Jimi Hendrix, Bob Dylan, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e,
claro, Raul Seixas.
Tanto que ele gravou um álbum só com
músicas do “maluco beleza”.
Dentre tantas canções de Raulzito, Zé
Ramalho tem especial apreço por “Medo da Chuva”, do álbum Gita, de 1974.
Na conversa citada com Robertinho, o
cantor de Brejo da Cruz se entrega: “Medo da Chuva” o emociona a ponto de
levá-lo às lágrimas. Ele disse que já compôs várias músicas sob a
influência da canção de Raul Seixas e Paulo Coelho.
Zé Ramalho foi morar no Rio de Janeiro
na década de 70. O início na cidade não foi nenhuma maravilha. Sem dinheiro,
sem parentes importantes e nascido no interior (como na música de Belchior)
andou muito a pé porque não tinha a grana nem para o ônibus. E dormiu em bancos
de praça.
Mas ele acertou ao deixar o curso de
medicina para viver de música. Se tornou um grande nome da música nacional,
ganhou fama de místico e profeta.
Tanto tempo depois de iniciar sua
trajetória artística, continua bom como quando era jovem, não podendo ser
ignorado nem pelos críticos de música mais exigentes. Sua obra, por sinal, já foi analisada num livro, "O Poeta do
Abismo".
Em 2012, quando já tinha mais de 30
anos de carreira, lançou um álbum impecável intitulado "Sinais dos
Tempos".
A principal música do CD,
"Sinais", é pura profecia. Parece ter sido pensada em 2020, em plena
pandemia do coronavírus.
O Zé é um visionário.
Salve a Paraíba! Estado que nos
deu grandes nomes, nas letras e na música.
Ariano Suassuna, José Américo, José
Lins do Rego, Geraldo Vandré, Chico César, Flávia Wenceslau Elba Ramalho e Zé
Ramalho.
De Brejo da Cruz para o mundo, José
Ramalho Neto.
Assista o vídeo com o clipe da música
Sinais, vale a pena:
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