"Quando cheguei ao Rio,
eu era chamada de interiorana. Achavam graça do jeito como eu falava, riam do
lugar onde eu nasci (minha linda Santa Rosa, no Rio Grande do Sul), diziam que
eu era caipira.
Depois, aos 16 anos, quando
comecei a trabalhar, me chamavam de suburbana. Eu pegava um trem e levava uma
hora para chegar à Central do Brasil e de lá pegava outra condução para estar
ao lugar marcado, o que é a realidade de muita gente.
Depois, aos 17 anos, namorei
Pelé, o maior ídolo do país por 6 anos e foi aí que eu conheci a maldade real
das pessoas. Fui chamada de puta, interesseira que queria aparecer às custas de
um rico famoso, garota de programa de luxo e muitos outros nomes.
Quando comecei a trabalhar
para crianças, aos 20 anos, fui taxada de loira burra, despreparada. Disseram
que eu tinha relações com as Paquitas, com minha diretora e que eu não poderia
trabalhar com o público infantil.
Comecei outro relacionamento,
com o segundo maior ídolo desse país, o que incomodou muita gente. Diziam que
era um relacionamento de fachada.
Depois, resolvi ter minha
filha aos 35 anos sem me casar e disseram que eu era mau exemplo para os
públicos infantil e adolescente. O então ministro José Serra, na época, disse
até que eu estava incentivando as jovens a seguir o meu exemplo. Será que
trabalhar muito, ter uma conta bancaria alta, ser uma mulher independente,
resolver ter filho aos 35 anos, cuidar da saúde, não fumar, não beber, são maus
exemplos?
Não ter o pai da Sasha ao meu
lado fortaleceu o que sempre falavam: que eu gostava de mulheres, não prestava,
era uma prostituta de luxo, etc...
Aos 50 resolvi “casar” sem
cartório ou festa e, novamente, não sou bom exemplo, já que digo que estou
feliz e com cara de bem comida ao lado do homem que escolhi. Isso choca? Sim,
choca, porque para muitos, eu não tenho direito de ter uma vida sexual depois
dos 50.
Raspei a cabeça e...
"Oi? Como assim? Tá louca? Queremos você de cabelo comprido."
"Não coloca botox" Oi? Como assim?
"Não queremos ver suas rugas, elas nos lembram que também estamos ficando
velhos."
Tem ainda quem quer me
atingir falando do filme Amor, Estranho Amor, de Walter Hugo Cury, um cineasta
premiado da época. Muitas pessoas nem viram o filme. Para quem não viu, vou
contar a sinopse: eu fazia o papel de uma menina de 15 anos comprada no
interior para ser dada a um político. Nada a ver com a minha biografia, mas
amam dizer que sou eu, a “Xuxa dos Baixinhos” e não a personagem, menina que
foi vendida para um prostíbulo - que aliás é um tema tão atual...Sim porque,
infelizmente, o tráfico de meninas e meninos para exploração sexual é enorme no
nosso país. Eu proponho então que todos, ao falarem desse filme, coloquem nos
comentários: se vir algo parecido, denuncie ao Disque 100, porque acredite,
essa é uma realidade muito grande no Brasil. Veja bem, é a realidade de muitas
meninas, não a minha.
Também fiz fotos sem roupa,
não para uma revista e sim pra três: Ele Ela, Playboy e Status. Naquela época,
era o que uma atriz ou modelo faziam ao chegar ao topo da sua carreira.
Agora, aos 57, quase 60 anos,
com a bagagem que tenho - e que não é pouca - estou sendo criticada por
escrever livros para crianças. Um em especial, que ainda nem saiu, inspirado na
milha afilhada Maya, onde conto a história de uma menina que quer tanto ser
amada, quer tanto alguém especial ao seu lado, que Deus lhe dá duas mães. Sim,
o meu Deus não é preconceituoso, o meu Deus aceita todos como são.
Aliás, nós somos a semelhança
Dele, então Deus é menino? É menina? É gordo? É magro? É preto? É branco? É
surdo? É cego? O meu Deus é tudo isso, menos preconceituoso, homofóbico,
racista, gordofóbico, machista. Deus é simplesmente amor. Onde houver amor, Ele
estará: em cada sorriso da Maya, meu bebê arco-íris, que está representando
tantos outros bebês que são discriminados por não se encaixarem no que
resolvemos dizer que é “normal” ou “certo”.
Eu quero muito que vocês
conheçam a história desse anjo. Não ganharei dinheiro algum com esses livros.
Todos os meus royalties serão doados para santuários que resgatam animais
vítimas de maus-tratos por todo Brasil, e ainda para a Aldeia Nissi, em Angola,
que inclusive é evangélica. Sim, minha mãe também era. Não posso admitir que
algumas pessoas que se intitulam cristãos, evangélicos, venham falar em nomes
de todas as pessoas que realmente têm Deus no coração. Aliás, conheço muitos
pastores, bispos, padres, espíritas, budistas que amam Deus e entendem que só
Ele pode melhorar o mundo porque Ele é amor.
Sei que ainda serei muito
criticada na vida, mas todas as noites eu peço a Deus para me mostrar o caminho
onde eu possa ajudar alguém de alguma forma. Agora, eu peço aos intolerantes.
Não querem ajudar? Não atrapalhem! O mundo não precisa da sua ignorância, do seu
desamor. E eu? Vou continuar rezando meu pai nosso 'afastai-me de todo mal,
amém' ".
*Fonte: Instagram de Xuxa/Revista
Vogue
Infelizmente neste país temos de ver exemplos como este de real intolerancia, uma mulher bonita, bem sucedida, famosa que teve seus altos e baixos na vida, sempre ser criticada por buscar ser feliz, mas ter de pagar o preço por ser conhecida e influenciadora, de crianças , jovens e adultos, que viva plenamente, ja deixou seu nome na história e na vida de muitos, mostrou por seu exemplo e dignidade que ninguem deve baixar a cabeça para as criticas.
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