Por Ricardo Kotscho*
A cada semana, as manifestações em defesa do governo estão murchando em Brasília,
mesmo quando o presidente Bolsonaro em pessoa ainda participava, acompanhado de
ministros e generais.
Pelo segundo domingo seguido, ele não apareceu em frente ao Palácio do
Planalto onde seus apoiadores se concentravam.
Embora o governador de Brasília tivesse proibido manifestações por
decreto, apenas uns 50 devotos foram à praça dos Três Poderes enrolados em
bandeiras brasileiras, mas nem saíram do lugar.
Em lugar do presidente, apareceu o ministro da Educação, Abraham
Weintraub, de boné e camisa aberta no peito, para dar apoio ao grupo, repetir
que tem que tirar os "vagabundos" de Brasília e defender sua
"liberdade de expressão" para dizer o que pensa.
Um pequeno grupo ainda seguiu para o Setor Militar e se concentrou em
frente ao Quartel General do Exército, mas lá havia mais policiais do que
manifestantes pró-governo.
Mais patético e melancólico foi o ato programado pelos bolsonaristas
para o Viaduto do Chá, no centro de São Paulo.
Ao meio dia, horário marcado para começar a manifestação, não havia
quase ninguém.
Os organizadores alegaram que era hora de almoço, mas isso já se sabia
quando escolheram o local e o horário.
Segundo matéria do UOL, quando havia cerca de 70 pessoas, um homem no
alto do caminhão de som reconheceu que não se tratava de um grande protesto.
"Somos poucos, mas onde tiver uma ou duas pessoas, lá estarei. Foi
o que disse nosso presidente, Jair Messias Bolsonaro".
Até o final do ato, os bolsonaristas não saíram da calçada em frente ao
prédio da Prefeitura, conversando em pequenos grupos e falando ao celular, para
descobrir o que aconteceu.
A poucos quilômetros dali, milhares de pessoas começaram a chegar à
avenida Paulista para um protesto contra Bolsonaro e o racismo.
Foi o terceiro protesto contra o governo, reunindo uma fauna bem
variada, de movimentos sociais e estudantis a torcidas organizadas dos grandes
times da cidade, misturando bandeiras verde-amarelas e vermelhas, em torno de
uma enorme faixa "Fora Bolsonaro".
Eram em sua maioria jovens, negros e mulheres defendendo o direito à
vida com denúncias de violência policial nos bairros da periferia.
Ninguém sabe de onde surgiu uma faixa defendendo "ditadura
proletária", que chamou muito a atenção dos repórteres da Globo News, mas
ninguém explicou do que se tratava.
Como é que uma manifestação antifascista, em defesa da democracia, pode
incluir algo tão fora de tempo, de lugar e de propósito? Também havia algumas
bandeiras vermelhas com a foice e o martelo, para ressuscitar um perigo
comunista, tão a gosto do governo. Muito estranho.
Mas não aconteceu nenhum incidente, com a polícia apenas acompanhando
nas laterais a passeata, que foi do Masp até o final da Paulista, em direção ao
Paraíso, numa polifonia e policromia de sons e cores, palavras de ordem e
cantorias.
No balanço final do domingo de manifestações, havia muito mais gente
contra do que a favor do governo.
Bolsonaro tem bons motivos para começar a se preocupar. A rua está fugindo do seu controle e o rebanho de seguidores vem diminuindo.
*Ricardo Kotscho é jornalista. Assina o Balaio do Kotscho e uma coluna no Portal UOL.
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