Flavio Lyra, Brasília, março de 2020*
A
história da Humanidade tem sido marcada pela existência de monstros morais que
se apoderam do poder, em frequência muito maior do que se costuma admitir. É
característico desses seres que, embora humanos, apresentem comportamentos que
fogem as regras do habitual e derivam facilmente para a criminalidade e a
inconsequência diante de seus atos.
Essas
condutas respondem normalmente à busca de objetivos individuais que os tornam
amoldáveis e instrumentais para propósitos que muitas vezes fogem aos padrões
normais.
Stalin,
Hitler, Franco e Pinochet, no Século XX, pela variedade e quantidade de
atrocidades e atos criminosos cometidos contra seus semelhantes, durante os
anos em que estiveram à frente do poder em seus países, podem perfeitamente ser
enquadrados como monstros morais.
Nos
dias atuais, dois exemplares dessa espécie estão em evidência. Nos Estados
Unidos, Donald Trump e no Brasil, Jair Bolsonaro. As condutas de Trump diante
das questões ambientais nos Estados Unidos e no mundo, colocando-se contra todo
e qualquer esforço que vise evitar o agravamento das, já críticas condições
climáticas, derivadas do aquecimento global, revelam um grau de indiferença em
relação à vida no planeta que vai muito além do que seria uma conduta normal.
A
frieza com que Trump mandou assassinar friamente um importante dirigente do
Iran, considerado um herói por seus conterrâneos, o General Soleimani, Chefe da
Guarda Revolucionária Iraniana, é muito emblemático sobre sua conduta
monstruosa.
Além
disto, a decidida e impactante atuação do governo Trump para debilitar
importantes organismos multilaterais, na condição de maior potência mundial dos
Estados Unidos, é francamente um ato de desprezo pelos interesses da
Humanidade.
Que
dizer ainda das ações que Trump adota contra os imigrantes ilegais nos Estados
Unidos: a separação de crianças de seus pais e sua confinação em locais
distantes dos mesmos e o tratamento desumano dado aos imigrantes detidos pelas
polícias.
Jair
Bolsonaro, por sua vez, é sem nenhuma dúvida um caso notório de chegada ao
poder de um ser desprovido de qualidades positivas para ocupar o cargo de
principal dirigente de um grande país e dotado de uma personalidade doentia e
propensa a realizar atos irresponsáveis e capazes de produzir danos de monta à
população.
Seu
passado como deputado do Partido Social Progressista, tido comprovadamente como
o mais corruto do país, à frente do qual esteve durante muito anos Paulo Maluf,
ex-candidato à Presidência da República em 1984, como representante dos
partidários da Ditadura.
Há
forte indícios de ligações de Jair Bolsonaro e seus filhos com milícias que
controlam várias comunidades no Rio de Janeiro e com notórios chefes do crime
organizado, como o ex-capitão da Polícia estadual, Adriano da Nobrega, suspeito
de ser o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco, recém-morto pela
policias da Bahia e do Rio de Janeiro.
Bolsonaro,
durante os anos em que esteve como Deputado Federal foi o porta-voz de grupos
de direita defensores da ditadura militar e de seus métodos, como a tortura e o
assassinato de opositores.
Como
dirigente do país, Bolsonaro e sua equipe tem se destacado pelas ações
desorganizadoras nos campos das políticas ambiental, educacional e de segurança
pública.
No
campo das ações destinadas a prevenir e combater as consequências da epidemia
de Coronavírus que ameaça seriamente a vida de muitos brasileiros, o
comportamento de Bolsonaro, tem se revelado irresponsável e desprovido do
mínimo de equilíbrio e iniciativa que deveriam ser esperados do principal
dirigente do país.
O
mais grave de tudo isto é que essas personagens moralmente monstruosas chegam
ao poder em momentos críticos da vida em sociedade, porquanto sua natureza
carente de valores morais se presta para todo tipo de manipulação e adoção de
políticas que favorecem grupos da elite dominante em desfavor da maioria da
população.
Neste
aspecto, a situação do povo brasileiro na atual conjuntura é extremamente
preocupante, pois aliam-se os interesses de uma elite capitalista egoística e
desinteressada pelos destinos do povo e da nacionalidade e a presença no centro
do poder de um governante incapaz e destituído de valores mínimos compatíveis
com a defesa dos interesses do grosso da população.
Estamos
diante de uma catástrofe econômica. Às expectativas sombrias, visto o que vem
ocorrendo em outros países, no que respeita as consequências sobre a saúde da
população derivadas da propagação da epidemia de Coronavírus, soma-se o impacto
esperado sobre a atividade econômica e o emprego.
O
Brasil, já vem passando há vários anos por uma crise que implicou substancial
queda no nível de atividade econômica e levou o desemprego aberto a 11 milhões
de pessoas. As reformas de cunho neoliberal que vêm sendo implantadas a ferro e
fogo respondem por esse quadro desolador.
É
sobre esse contexto desalentador que vai impactar a propagação do Coronavírus,
obrigando a população a se afastar de suas atividades, a dificultar a
circulação de mercadorias e a criar problemas de abastecimento.
O
país está nas mãos de uma equipe econômica intelectualmente escrava do
pensamento neoliberal e despreparada para mobilizar o Estado para enfrentar o
quadro de profunda crise que já está instalado.
Cabe
esperar que a sociedade se mobilize para forçar o governo federal a adotar
urgentemente as medidas necessárias tanto para fazer frente à pandemia do
Coronavírus, quanto para evitar que o país mergulhe numa profunda crise
econômica.
*
Flávio Lyra é economista da UNICAMP. Natural de Garanhuns, foi Secretário da
Fazenda do segundo Governo Arraes. Publicou "Eu e Meus Tempos", livro
em que relembra de sua infância na sua cidade natal.
**Foto: Flávio Lyra no Facebook
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