Por Homero Fonseca*
Armar a população civil para enfrentar
bandidos fortemente armados é estimular a mortandade. Só favorece os
fabricantes de armas (daí o lobby da bancada da bala ser tão forte). Os
bandidos têm a seu favor o elemento surpresa, a maioria numérica e a atitude de
quem não tem nada a perder. Gente armada tende a reagir e, na maioria dos
casos, se dá mal.
A chance de um cidadão, mesmo com algum
curso de tiro, se sair bem diante de um ataque é mínima. O fato de ter uma
coleção de armas em casa é até fator de atração para as quadrilhas.
Recentemente aconteceu em Pernambuco com o empresário Mário Cavalcanti de
Gouveia Júnior que teve a casa invadida, trocou tiros e foi morto por uma
quadrilha de 15 assaltantes, que levaram dinheiro e cinco armas, na madrugada
de 23 de abril deste ano em Aldeia, Região Metropolitana do Recife[1].
Não é um valentão armado que conseguirá
dissuadir um bando numeroso, melhor armado, que ataca de surpresa e cujos
membros entram em ação dispostos a matar ou morrer. Eles não têm propriedades,
heranças, fazendas, ações na bolsa, família estruturada, medo nem remorso. Ou
seja, não têm nada a perder. São acostumados a trocar tiros com Polícia e
Exército.
Vejam esta notícia:
“Bandidos assaltam agência bancária,
atacam quartel da Brigada Militar e trocam tiros com a Polícia em Canguçu, no
Rio Grande do Sul, em 11 de agosto de 2018. O bando se dividiu em dois grupos e
enquanto um explodia a agência da Caixa Econômica, o outro atacou o quartel,
para impossibilitar a ação policial”.[2]
Mais uma notícia:
“Em 14 de outubro de 2014, três homens
invadiram o quartel do Tiro de Guerra do Exército, em Serrinha, cidade
localizada a 195 quilômetros de Salvador, renderam os três soldados que faziam
guarda no local e roubaram 20 fuzis”.[3]
São três casos para demonstrar que
bandido profissional não tem medo de amador armado (nem da Polícia e do
Exército!). Imagine você com sua arminha. Logo, armar a população, além de
render lucros para a indústria de armamentos, não impedirá a violência urbana.
Ao contrário, aumentará, envolvendo inclusive inocentes apanhados num fogo
cruzado. As estatísticas mundiais confirmam.
Sem falar nos loucos que saem atirando
a esmo, como acaba de acontecer nos EUA, e lá é uma tragédia recorrente pela
facilidade de se comprar armas.
As causas da violência são múltiplas e
complexas. Mas um dos caminhos para diminuí-la é barrar o fornecimento de armas
aos bandidos, sejam traficantes, assaltantes ou milícias. Lembram dos 117 fuzis
encontrados com um sujeito ligado ao miliciano Ronnie Lessa, preso como um dos
autores do assassinato de Marielle Franco? De onde vieram essas armas? Para
onde iam? Quem são seus compradores? Alô, Polícias.
O fato é que para combater a violência
deve-se diminuir a quantidade de armas circulantes, em mãos dos civis e,
principalmente, dos bandidos. E não o contrário. Isso é possível, com verbas,
ações coordenadas e vontade política. Por que não se faz?
A questão na violência no campo é
completamente diferente. Muitos fazendeiros, grileiros, madeireiros,
garimpeiros e contrabandistas não raro usam capangas armados para atacar
acampamentos de sem-terra e aldeias indígenas, numa matança antiga, que tende a
se intensificar com a cobertura e o estímulo dos atuais ocupantes do poder.
[1] G1
Pernambuco:
[2] G1
Rio Grande do Sul:
[3]
Correio, BA: https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/criminosos-invadem-unidade-do-exercito-rendem-soldados-e-roubam-fuzis-em-serrinha/
Homero Fonseca é jornalista,
escritor e consultor literário. Foi editor da revista Continente. Autor do
romance "Roliúde", entre outros livros.
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