PROF. PAULO DUTRA |
Com 19 municípios e
cerca de 580 mil habitantes, o Agreste Setentrional é a única região de
desenvolvimento em Pernambuco sem instituição de Ensino Superior pública e
presencial. Para preencher essa lacuna, um movimento pela criação de uma
universidade foi lançado por gestores públicos, empresários e educadores. O
pleito foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de
Educação e Cultura da Alepe nesta segunda (19).
“Nosso propósito é
lutar por uma instituição, seja ela estadual ou federal, com sede física no
Agreste Setentrional. É um descaso histórico que ela não exista”, afirmou
Horasa Andrade, vice-presidente da Comissão de Articulação Pró-Universidade,
responsável pela demanda. Ela frisou que a região possui municípios
economicamente importantes nos setores moveleiro, de confecção e agrícola, como
Santa Cruz do Capibaribe, Surubim, Toritama e Limoeiro. “Mas ainda carecem de
pessoas especializadas para trabalhar com tecnologia de ponta”, relatou ela,
que é professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no campus
de Garanhuns.
ECONOMIA – “Municípios carecem
de pessoas especializadas para trabalhar com tecnologia de ponta”, disse a
professora Horasa Andrade. Foto: Roberta Guimarães
Além de ajudar no
desenvolvimento dessas cidades, a universidade aumentaria as opções dos jovens
daquela área, acredita a educadora. Segundo Horasa Andrade, os cursos
superiores públicos mais próximos estão a mais de 70 quilômetros de distância e
são, em sua maioria, licenciaturas. “Como cursar Engenharia e ter igualdade de
condições quando se tem que encarar, por vezes, mais de quatro horas de estrada
a cada dia?”, questionou.
A professora apontou,
ainda, casos de municípios como Cumaru, onde estaria sendo observada a redução
da população pela falta de oportunidades. “Além disso, na região do Polo
Têxtil, estamos observando algumas famílias optarem pelo trabalho infantil no
lugar de investirem em educação”, alertou.
O levantamento
realizado pela Comissão Pró-Universidade estima entre 800 e mil estudantes
universitários que precisam se deslocar do Agreste Setentrional para ir a
universidades públicas. Só em Surubim estão 550 desses alunos, informou a atual
prefeita do município, Ana Célia. “A universidade é essencial na transformação
social, no desenvolvimento econômico e na geração de renda”, considerou. O
prefeito de Orobó, cidade com cerca de 23,6 mil habitantes, confirmou o aumento
da demanda por educação superior: “Em 2016, tínhamos apenas dois ônibus levando
estudantes universitários. Hoje são oito, todos lotados”, contou Cleber
Chaparral.
OROBÓ – “Em 2016, tínhamos
apenas dois ônibus levando estudantes universitários. Hoje são oito, todos
lotados”, contou o prefeito Cleber Chaparral. Foto: Roberta Guimarães
Responsável pela
solicitação da audiência pública, o deputado Professor Paulo Dutra (PSB) reconhece a dificuldade de se
montar uma nova instituição de Ensino Superior no atual contexto nacional, em
razão de diversos cortes nos recursos destinados à área. “Mas essa luta não vem
de agora e precisa ser contínua. Tenho certeza de que a próxima universidade a
ser implantada no País será em Surubim, pela força do grupo que está lutando
por isso lá”, opinou o parlamentar.
Manuela
Nunes, da União Nacional dos Estudantes (UNE), cobrou que a instalação da
universidade seja acompanhada de políticas de assistência aos alunos. “Não
adianta democratizar o acesso sem cuidar da permanência. A situação ficou ainda
pior com os cortes do Governo Federal, que acha que somos inimigos”, salientou
a representante do movimento estudantil.
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