É conhecida a tática do
pessoal do atual governo de afirmar uma coisa, desdizer-se totalmente pouco
depois e seguir em frente com a cara limpa. Também é lançada mão de uma mentira
que, repetida vezes seguidas, ganha foros de verdade. A narrativa oficial tenta
fazer crer que a presença de Bolsonaro na reunião do G20 no Japão foi um
sucesso. Na realidade foi um fracasso. Nem coloco em cena o constrangedor
episódio do sargento-traficante no avião oficial preso pela polícia espanhola
(aliás, grotescamente capitalizado como “prova do combate às drogas pelo
governo”, num acinte à inteligência do público).
Um exemplo gritante foi a
questão ambiental, cuja política predatória do governo é sobejamente conhecida.
Bolsonaro se reuniu “informalmente” (fora da agenda oficial) com Macron e
depois com Merkel, que haviam publicamente feito sérias ressalvas à posição brasileira.
Embora tenha falado suas costumeiras bazófias de público, no encontro com os
governantes francês e alemã baixou a crista, lembrando que o Brasil continua
participando do Acordo de Paris (que prevê metas mundiais de preservação da
natureza e combate à poluição). O mesmo na reunião formal do BRICS, quando
assinou a nota final conjunta enfatizando a importância do Acordo. Durante a
campanha eleitoral, Bolsonaro afirmou várias vezes ser contra o Acordo de Paris
e que seguiria seu mentor Trump, que retirou os EUA do tratado.
O mesmo se observa na reunião
realizada paralelamente na Bélgica, onde estava o inacreditável chanceler
Ernesto Araújo, quando foi assinado o acordo de cooperação entre União Europeia
e Mercosul. As negociações duraram 20 anos, foram iniciadas ainda no governo
FHC, mas o governo também procura capitalizar. “Bolsonaro comemora acordo”,
registra o UOL, hoje: https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/06/apos-chegada-tensa-ao-japao-bolsonaro-deixa-g20-comemorando-acordo-com-a-ue.shtml
Que tal lembrar a célebre
entrevista de Paulo Guedes, publicada em 30/10/2018, pela BBC Brasil e o G1
(portal da Rede Globo)? Nela, o superministro afirmou que “a Argentina e o
Mercosul não são prioridades do Brasil”, alegando motivação ideológica. Segundo
o G1, as declarações de Guedes “geraram surpresa e desconcerto nos membros do
Mercosul.” Leiam aqui: https://www.google.com.br/webhp?hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwi3itzUiq7cAhWVZt4KHVlWAxIQPAgD
Essa tática de mentiras
sistemáticas, inspirada em Goebbels, se não denunciada, pode ser muito
perigosa, como sabemos.
*Homero
Fonseca é jornalista, escritor e coach literário. Foi editor da revista
Continente. Autor do romance "Roliúde", entre outros livros.
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