Do jornalista Clóvis Rossi, na Folha de São Paulo e no Portal UOL:
Tenho enorme
resistência a equiparar determinados grupos e líderes políticos ao fascismo e
ao nazismo. Foram modelos tão horrorosos que custa a crer que os seres humanos
não tenham aprendido nada com os horrores produzidos.
Feita essa ressalva, não há como não pensar em
Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda nazista, ao ler o texto da
extraordinária repórter que é Patrícia Campos Mello sobre a máquina
de ”fake news” montada por empresários admiradores de Jair Bolsonaro para
atacar Fernando Haddad.
A Goebbels se atribui a frase ”uma mentira mil
vezes repetida vira verdade”.
A Folha,
aliás, usou essa frase em uma propaganda anos atrás para defender o jornalismo
sério como antídoto contra a transformação de mentiras em verdades.
Pena que as redes sociais tenham atropelado o
antídoto.
Os admiradores de Bolsonaro superaram
Goebbels: em vez de ”uma mentira” dispararam milhares delas.
Alguma surpresa? Não para mim. Se Bolsonaro já
se exibiu em vídeo sugerindo metralhar os petistas, nada mais natural —e
execrável— que seus seguidores metralhem o petista Haddad pelas redes
sociais.
É apenas o mais recente episódio do estrago
que Bolsonaro já fez, seja ou não eleito. Repito: se Bolsonaro é ou não uma
ameaça à democracia só se saberá mais adiante. Mas, desde já, está provado que
ele despertou os demônios que habitam parte significativa do eleitorado,
levando-a a votar em um candidato que faz apologia
da tortura e da ditadura.
Convenhamos que tortura e ditadura são irmãs
siamesas. Não conheço uma, de direita ou de esquerda, que não utilize a tortura
como arma de submissão de dissidentes ou de simples críticos.
Ao apoiarem ou, no mínimo, serem lenientes
com quem
elogia uma prática bárbara, os eleitores de Bolsonaro estão levando o
Brasil a retroceder muitos degraus em um processo civilizatório que nunca se
conclui neste país.
A catarata de ofensas e ameaças dirigidas
contra Patrícia, após a publicação de sua reportagem, é a versão virtual da
”Kristallnacht”, a noite dos cristais, o ataque aos judeus na Alemanha nazista
em novembro de 1938, efetuado pelos paramilitares das sinistras SA e, atenção,
também por civis alemães.
Por enquanto, é uma infâmia virtual, mas
demônios liberados e estimulados não voltam para a garrafa.
A propósito dos demônios que Bolsonaro
libertou, Brian Winter, editor-chefe da publicação Americas Quarterly, prevê um
morticínio nos próximos meses e explica que essa previsão ”se deve à prioridade
política número um de Bolsonaro: relaxar as leis e regras para as forças de
segurança, permitindo que atirem primeiro e façam perguntas depois”.
Winter lembra que a licença para matar será
ainda mais ampla do que é hoje, quando ”a polícia já mata 5 mil pessoas por
ano”.
No ano passado, 63.880 brasileiros morreram de
forma violenta, um recorde
que coloca o Brasil nos primeiros lugares no ranking de homicídios por
100 mil habitantes, como é arquiconhecido.
Alguém acha, honestamente, que aumentar esse
número já sinistro trará o país para mais perto da civilização?
Desgraçadamente, há muitíssima gente que acha sim, que aceita a tese de que
bandido bom é bandido morto.
Até entendo a angústia de boa parte desse
público, mas não se justifica abrir a porta da violência para enfrentar a
violência. Basta olhar para o México, que colocou o Exército para combater a
criminalidade, no governo Felipe Calderón, espalhou uma pilha impressionante de
cadáveres e, não obstante, os criminosos ficaram mais fortes.
O que torna ainda mais grave esse retrocesso
civilizatório à vista é o fato de que o Brasil é um país primitivo. É só
lembrar as humilhantes posições que ocupa em rankings mundiais dos mais
diversos assuntos: é dos últimos na lista da Transparência Internacional, que
mede a percepção de corrupção; é um desastre absoluto nos exames Pisa, que
medem a qualidade da educação; é o 72º no ranking de competitividade do Fórum
Econômico Mundial, entre 140 países; é sempre uma vergonha sua colocação no
Índice de Desenvolvimento Humano; é um dos dez países de desigualdade mais
cruel.
Parece lógico deduzir que esses fracassos
contínuos há anos ou talvez séculos tenham levado a maioria a buscar uma
solução supostamente mágica, na figura de um político há 27 anos no Congresso
mas que se faz passar por um outsider.
É como escreveu Monica de Bolle (Johns Hopkins
University), que já citei aqui: da série de fatores que contribuem para o apoio
a Bolsonaro e que ainda serão analisados nos próximos meses, destaca-se o fato
de ”o eleitorado estar completamente farto [fed up, no texto em
inglês] com o chamado establishment”.
Já houve pelo menos outro momento de busca por
uma mágica: os brasileiros elegeram Collor como se fosse o caçador de marajás.
Não passava de uma grosseira fraude. Deu no que deu.
*Foto: Folha de São Paulo, via Google
O que fez do Brasil um país primitivo, foi o petismo que queria implantar as ideias comunistas que são pensadas para a sociedade europeia do século XIX e desconsidera as novas tecnologias aplicadas aos meios de produção atuais. Comunista tem um perfil no mundo inteiro "O malandro que não gosta de trabalhar e quer escravizar os demais para trabalhar por eles" este comportamento é repetido em cada lugar onde socialistas e comunistas se instalam.
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