Agradeço a Deus por estar aqui,
Por contemplar mais um entardecer,
Conversando com os amigos na porta de casa.
Agradeço a Deus pela música dos homens
E da natureza, pela harmonia das plantas,
Pela beleza dos astros, por mais um dia que vem...
E que eu possa estar aqui, junto da companheira,
Com saudade dos filhos distantes, porém satisfeito
Pelos que estão pertinho de mim.
Eu lamento que o mundo não seja perfeito.
Existem terremotos, homens de instinto assassino,
Doenças que fazem sofrer e terminam por matar.
Lamento pelas desigualdades, pelos que têm fome,
Pelos Injustiçados, pelos que moram precariamente
E não podem se dar ao luxo de uma boa diversão.
Eu agradeço e lamento.
Porque existe beleza, existem bons sentimentos,
Existe amor
Boas ações,
Coisas que valem à pena.
Mas quem sou eu para entender Deus
Decifrar o mistério e fazer
Um mundo perfeito?
Não quero fazer um poema conformista,
Ser passivo e me resignar com o lado negativo da vida.
Tenho direito de reclamar, de esboçar uma revolta
E de protestar.
Mas não posso colocar a culpa em Deus porque eu não sei se ele é o
culpado.
Não vou acusar os homens sem prova, quanto mais o Criador,
Tão misterioso e invisível que muitos duvidam dele.
Agradeço a Deus pelos bons momentos,
Pela saúde que me permite trabalhar,
Pela inspiração para fazer versos
E escrever um pouco sobre tudo,
Todos os dias.
Agradeço pelos amigos,
Pela mansidão dos animais que tenho em casa
Pela alegria de Luana, Cassiano, Vitória e Carolina,
Clarice, Fernanda, Lara
E pelo silêncio que chega depois e me deixa dormir.
Quero paz,
Quero vida,
Quero amor,
Quero alguém a conversar comigo quando estou sedento de palavras.
E quero estar com Deus
Quando sinto tê-lo dentro do peito,
Possibilitando que cultive bons sentimentos
E admitindo que nem tudo é pedra.
Nem tudo é ciência ou tecnologia.
Há um sentido oculto nas coisas
(acho que o Fernando Pessoa usou uma frase assim, um dos seus poemas)
E somos muito pequenos diante do Cosmo, do Universo,
Da soma de todas as partículas, átomos, células, gestos, orgasmos...
Agradeço a Deus por esse hino que vem da Igreja próxima,
Adentrando à minha janela.
Que os homens e mulheres possam cantar e sorrir.
Que a presença de Deus possa aliviar as ausências e as dores
Sejam elas do corpo ou da alma.
Agradeço a Deus por estar, por ser
E por saber que um dia vou me incorporar ao infinito,
Deixando por aqui as sementes que plantei (Roberto Almeida).
Esta oração foi publicada
originalmente no Correio Sete Colinas, jornal impresso que circulou em
Garanhuns durante 15 anos. Depois foi reproduzida no blog, em fevereiro de 2010.
Ao original, nesta edição de hoje, foram acrescentados os nomes de três netas - Clarice, Fernanda e Lara - que nasceram nos últimos três anos.
Luzinette Laporte, minha eterna
professora, que Deus chamou para junto de si o ano passado, ao ler o poema me
enviou a seguinte carta, escrita à mão, que muito me sensibilizou:
A CARTA
Roberto,
Acabo de ler sua "Oração da Sexta-Feira." Que coisa
bonita!
Você não quer ser um conformista com o estado de coisas que
aí temos. Isso é comungar com os que sofrem. Mas não deixa de cantar o Bem e o
Belo e sem o confessar, canta Deus. Porque é Ele o Bem e a beleza que se
espalha em torno de nós e que seu coração acolhe e sua voz proclama.
Sei quanto rezei (e rezo, pode contar com minhas orações
diárias!) por você.
Fiquei/estou tão feliz por rezar com V. a "Oração da
Sexta-Feira" neste domingo.
Porque ela não é só de um dia. É de todos os dias e de todas
as horas. Resume o sentimento de todos aqueles que sentem seu entorno.
Engloba os "ais" dos sofredores e aflitos e a
impotência em os socorrer. E faz eco ao "Cântico ao Sol" de São
Francisco de Assis.
Emite a angústia da dúvida e confessa o momento do encontro
com Aquele que, se é invisível, é presente em cada ser, também.
Esta é uma carta ao homem que rezou a "Oração da
Sexta-Feira".
E se quer alguém para conversar - V. disse que quanto mais
usasse sua voz, melhor - e se me achar à altura, aqui estou.
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