Por Michel Zaidan Filho*
Como se descreve o perfil de
uma pessoa aventureira? – No geral, é aquela que não tendo nada perder, se mete
nas empreitadas mais arriscadas que se lhe apresentam pela frente.
Quando não se dispõe de
nenhuma qualificação profissional institucionalizada ou não, o aventureiro não
tem nada a perder; mas tem algo a ganhar. Não hesita diante de cargos,
mandatos, nomeações, prebendas etc. O que vier, será lucro, já que não desperta
expectativas nas pessoas de que seja capaz de fazer alguma coisa.
Há muita gente assim, na
política. No Brasil, basta ter a capacidade de adulação, ser “um bom operador”
e aventureiro, para virar ministro, secretário, deputado ou senador. Em
Pernambuco, temos um modelo acabado de um aventureiro na política. Aquele tipo
que não tendo nada a perder, tem a tudo a ganhar quando se oferece para missões
controversas ou discutíveis.
Esse é o caso de um suplente
de vereador, suplente de deputado federal, que virou ministro, ajudando a
patrocinar o golpe parlamentar contra a Presidente Dilma, juntamente com outros
colegas de seu estado.
A ocupação do Ministério da
Defesa por civis, desde a época de ex-presidente FHC nunca passou de mera formalidade, já que os ministros
militares continuaram em seus cargos.
A pretendida unificação de
comando das três forças através de um ministro civil, nunca funcionou. Para um
estudioso das relações civil-militar no Brasil, os ocupantes da pasta não passaram
de “office-boy” das tropas, na busca de reivindicações corporativas ou
profissionais.
Naturalmente, um espírito
aventureiro disposto a ocupar a vaga, mesmo sem o poder, se conformaria
perfeitamente com o teatro ou a espetacularização da função.
Pior: no âmbito de um governo
ilegítimo, arbitrário e impopular, seria uma espécie de “pau para toda obra”,
menos para as funções constitucionais de sua pasta. Foi o que aconteceu. As
forças armadas foram instrumentalizadas para combater a população civil (das
comunidades carentes) do Rio de janeiro, sob o pretexto de guerra ao tráfico e
a violência.
Isto num claro contexto de desgaste
político do atual governo, depois do fiasco da reforma da previdência. Mas o
aventureiro existe para isso mesmo. Prestar-se-ia (olha a mesócles do temeroso)
a fazer o trabalho incômodo de autorizar uma intervenção militar, comandada por
um general do Exército, no estado do Rio de janeiro, que – aliás – está
acéfalo. Pirotecnia cujos resultados nefastos não demoram a se apresentar,
manchando a imagem dos militares brasileiros.
Mas o aventureiro foi além.
Deixou a intervenção nas mãos do Exército e se meteu numa tarefa equívoca,
eleitoreira e arriscada. Resolveu se tornar ministro da....Segurança
Pública! Ao invés de caminharmos para
uma desmilitarização do aparelho
policial, elaborando um conceito amplo de “crime” e “marginalidade” como
metáfora social – num país de precária institucionalidade democrática e
profunda desigualdade social, demos
passos largos em direção a criminalização e a repressão policial à desordem
social, como se isso fosse resolver os
problemas do país.
Como disse um sociólogo
brasileiro, o fenômeno da violência urbana é muito complexo e possui muitas
causas. Reduzir a sua essência à pura e simples criminalidade (ou a um instinto
maléfico, como queria Lombroso) é um enorme e perigoso equívoco.
A população carcerária do
Brasil chega hoje a 600.000 presos, em condições absolutamente desumanas. Não
existe a palavra “ressocialização”. O que há é uma tendência ao aprisionamento
dos pobres e miseráveis. A rede criminosa começa pelo alto, pelo principal
mandante do país e vai se espalhando pelas casas legislativas e até no
Judiciário.
Nomear um super xerife para
dar conta desse fenômeno, se não é uma mero “simulacro” de uma política
nacional de Segurança Pública, destinado a produzir efeitos positivos na
opinião pública desavisada em relação à imagem do governo, é dar início a uma
guerra civil declarada, nas grandes e médias cidades, onde os mortos são sempre
civis, crianças, velhos, pobres e negros que habitam as periferias dos
aglomerados urbanos.
Mais ainda, tendo como
responsável uma pessoa despreparada e desabilitada para a tarefa. O
homem-Bombril, de múltiplas utilidades, que vem do governo de FHC e agora do
temeroso gestor, mau concluiu o curso de Psicologia, como pode dar conta da
complexidade da violência urbana nos grandes e médios centros urbanos? – Para
um antigo membro do Conselho Penitenciário Nacional, a violência e o crime
devem ser vistos a partir de um enfoque
multidimensional, não apenas da perspectiva da polícia.
Menos ainda do ponto de vista
de um “operador” que pretende entender de tudo, embora não tenha se aplicado a
estudar nada. É semelhante aos políticos do DEM, quando se agarram com a pasta
da educação. Mera politicagem. Não
entendem do assunto e usam eleitoralmente as secretarias e o próprio Ministério
para angariar votos e adeptos.
Imagine o que venha ser
transformar a questão da violência e do crime, ao arrepio da comunidade dos
estudiosos do tema, em simples peça do jogo político e eleitoral que se
avizinha, cortejando o medo das classes médias brasileiras?
Aventura perigosa, onde todos
morrem no final.
* O garanhuense Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade de Pernambuco.
Os dois ministros mais atuantes do governo temer sem sombra de dúvida São os dois pernambucanos Raul Belens Jungmann e Mendonça filho
ResponderExcluirEntão chupa essa manga comunista.