Por Michel Zaidan Filho*
Tudo indica que
há uma segura e determinada articulação que vai juntar os democratas e os
tucanos na deposição de Michel Temer, sob as bençâos de Fernando
Henrique Cardoso e Wellington Moreira Franco.
A ideia é
aumentar (e muito) o espaço do PSDB no governo federal e garantir, através da
escolha de Rodrigo Maia como sucessor de Temer, as reformas trabalhista e
previdenciária.
Maia, como
Presidente do Congresso, lavaria as mãos diante do processo contra o atual
mandatário e deixaria para os outros a tarefa de condenar Michel
Temer e se colocaria à disposição dos "amgos" para ocupar o
lugar do afastado. Para isso contaria com o apoio das bancadas do DEM, PPS,
PSDB, PTB e outros partidos clientelístas, os que apoiam qualquer governo em
troca de benesses.
O risco maior é
uma manobra continuísta no Congresso que prorrogue o mandato tampão de Maia.
Uma vez que dificilmente tucanos ou democratas teriam condição de ganharem a
eleição presidencial em 2018. O complicador é o velho e dividido PMDB, o maior
partido do congresso. Nessa articulação, seria o maior prejudicado.
Ficaria com o resto. Convencê-lo a virar sócio minoritário nesse condomínio é
um grande desafio.
Por sua vez, Lula
- o melhor avaliado nas pesquisas de opinião - vem dando mostras de que não
seria uma ameaça aos interesses da coalização ora no poder. Talvez, numa
segunda versão de uma "carta aos brasileiros", o líder petista
pode acalmar os humores do mercado e de seus representantes parlamentares de
que, uma vez eleito, não colocaria em risco os projetos de interesse
dessa coalização.
De toda
maneira, Lula vem dando sinais de que mais importante do que uma eleição
direta já, é garantir maioria no Congresso, e para isso muito jogo de cintura e
espírito de conciliação é importante. A atual legislatura é,
politicamente, uma das piores dos últimos tempos. Governar com os fragmentos
que formam a atual casa legislativa é preciso um santo vestido de
satanás.
Aqui, a chamada
"ética das consequencias" - de extração maquiavelina - terá de
ser muito bem empregada. Num ambiente de bandidos, o discurso tem de ser
sinuoso e ambivalente. Se for afirmativo e claro, o Presidente não dura um dia
no seu cargo.
Na verdade,
estamos diante do fim do ciclo do mal chamado "Presidencialismo de
coalizão". Com um Poder Legislativo "plebiscitário", que todo
dia avalia e cobra mais caro pelo apoio a ser dado ao Presidente, ao largo de
todo e qualquer ideologia ou programa. Sobreviver, assim, exige uma imensa dose
de "generosidade" por parte do governante.
Está na hora de
mudar as regras do jogo, aproximar a instituição da sociedade e fazer justiça
aos reclamos da maioria da população. Mas do jeito como está, é
impossível. A agenda tornou-se, ela própria, na mera sobrevivência do governante, no meio de cobras e leões famintos. E o preço a pagar é muito
alto.
*O garanhuense Michel Zaidan Filho é cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco, no Recife, na área de Ciências Humanas.
**Foto: JC Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário