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O ADULTÉRIO NA LITERATURA BRASILEIRA

Capitu e Bentinho na série de TV
Sônia Braga como Gabriela no cinema

ESPECIAL  - O adultério é abordado com frequência na literatura brasileira, com visões diferentes segundo o a época e o escritor. Machado de Assis abordou o tema em contos e romances, o mesmo fazendo Jorge Amado e foram esses dois escritores que tornaram célebres duas das personagens mais apaixonantes das letras nacionais.
Machado foi um escritor do século XIX que publicou seu romance mais conhecido e discutido, Dom Casmurro, em 1899.
Capitu, a figura feminina do romance, é apresentada pelo autor como uma garota esperta, desinibida, intuitiva, inteligente, talvez à frente do seu tempo, uma vez que não parece o tipo submisso muito comum mais de 100 anos atrás.
Desde menina Capitu gostava de Bentinho, a quem beija ainda adolescente, antes da ida deste para o seminário. Os carinhos trocados furtivamente pelos dois jovens como que selam um amor predestinado, que poderia durar “até que a morte viesse a separá-los".
Não é o que acontece, no entanto. Casados, aparentemente felizes o amor entre os dois se destrói quando Bentinho é consumido pelo ciúme e fica convencido de que sua mulher o traiu com seu melhor amigo, Escobar.
A prova é o filho, Ezequiel, que cresce se tornando uma cópia de Escobar, para grande desgosto do futuro “Dom Casmurro”.
Há quem acredite que Bentinho é ciumento desde menino, quando admirava e ao mesmo tempo temia os “olhos dissimulados e de ressaca de Capitu. Adulto, foi dominado por uma obsessão, botou na cabeça que a mulher o traiu e seus olhos viram o que a cabeça queria: o filho parecendo mais com o outro, sem a sua genética.
Na cabeça do Casmurro, talvez também na do escritor, a traição é imperdoável. Capaz de demolir os sentimentos, o amor, acabar um casamento que tinha tudo para continuar até o fim da vida.
Era a moral da época, que ainda hoje, em pleno século XXI, ainda perdura. O corno é uma figura execrada, desacreditada, motivo de achaques e piadas.
Ao homem ainda se permite as escapadas, os casos passageiros ou mesmo demorados. No caso da mulher, ela é marcada “a ferro e fogo”, de alguma maneira fica abaixo das prostitutas, das mulheres livres que vivem como querem, sem obrigação de servir a um marido.
Alguns críticos literários creem que Machado de Assis, em “Dom Casmurro” e outros livros, faz uma pesada crítica à hipocrisia e a moral da sociedade burguesa do seu tempo. Tenho minhas dúvidas, dificilmente um homem do século XIX, mesmo um erudito como o escritor carioca, estaria aberto a ver no adultério feminino um ato perdoável.
Jorge Amado, escritor do século XX, de prosa poética recheada de sensualidade, também conta casos de adultério em suas obras. O mais famoso deles foi protagonizado por Gabriela, mulata bonita de cor de canela, que depois do romance conhecido ganhou as telas do cinema e da televisão.
Por sinal Capitu também pode ser vista na telinha e na telona, em versões que são apenas um arremedo da obra do notável escritor que foi Machado de Assis.
As versões audiovisuais de Gabriela são melhores, principalmente o filme dirigido por Bruno Barreto, que tem um elenco maravilhoso: Sônia Braga com muito talento e no auge da beleza, o italiano Marcelo Mastroianni (no papel de Nacib), Jofre Soares, Paulo Goulart, Flávio Galvão, Maurício do Valle e Nicole Puzzi, dentre outras feras da dramaturgia nacional.
Mas o fato é que a Gabriela criada por Jorge Amado é muito diferente da Capitu de Machado de Assis.
Mulher com espírito de menina, não tem a esperteza nem a praticidade da maioria das colegas do sexo feminino. Seu talento está nas mãos que sabem cozinhar com um toque mágico e no corpo exuberante que atrai os olhares masculinos e que se oferece ao amor como uma flor, deixando os machos tontos graças ao seu cheiro de fêmea, que lembra o cravo e a canela. (Na foto ao lado Juliana Paes na 2ª versão de Gabriela para a TV).
Gabriela não nasceu para calçar sapatos, ficar presa às convenções sociais, como o próprio casamento, nem ser propriedade exclusiva de nenhum homem.
Apesar de amar seu Nacib (sem necessidade de definir os sentimentos), Gabriela trai o marido com o garanhão da cidade. Ela vai para a cama com outro “inocentemente”, como se sua atitude não tivesse consequências e sem pensar na dor que causaria no esposo.
Depois o casamento de Nacib e Gabriela é anulado, eles se afastam por uns tempos, mas não resistem a atração que sentem um pelo outro e voltam a ser amantes, sem o peso do casamento tradicional que obriga a mulher (o homem nem tanto) à fidelidade.
Jorge Amado, claramente, trata o adultério como um ato natural, biológico, condenado pela sociedade machista pelo código moral criado e alimentado por essa mesma sociedade.
Aliás, numa das versões de Dom Casmurro para o cinema brasileiro, com a história vindo para tempos mais modernos, a traição de Capitu também é encarada “numa boa”, sem o peso que lhe dá Bentinho no romance original.
O fato é que desde que o mundo é mundo homens e mulheres traem seus parceiros muitas vezes com consequências desastrosas.
Shakespeare já tratava do tema em Otelo, drama em que o Mouro mata a mulher movido por ciúmes. E Desdêmona era inocente.
Teria sido Capitu também inocente? O Casmurro criou tudo em sua cabeça, como Otelo?
Nunca vai se saber. Mas Gabriela foi pra cama com outro na maior inocência, sem querer fazer mal a “Seu Nacib” e por conta de sua atitude quase perde o homem de sua vida.
O ideal talvez fosse que homens e mulheres fossem monogâmicos e permanecessem fieis, principalmente quando se amam.
Infelizmente, não somos somente cerebrais ou racionais. O corpo, os hormônios e o sexo muitas vezes são mais fortes e alimentam nos homens e mulheres atitudes não aceitas pela sociedade, gerando reações inesperadas, violentas e destrutivas. Como diz um dito popular: “A carne é fraca”.
E frequentemente se paga um preço alto por isto, como mostram a vida e os romances dos dois grandes escritores brasileiros. (Roberto Almeida).

8 comentários:

  1. José Fernandes Costa9 de abril de 2016 às 13:46

    Li essas duas obras-primas da literatura nacional. - E concordo com a afirmação de que Machado de Assis pensava um tanto diferente do que pensava Jorge Amado. - Isso, no tocante à "moral" farisaica daqueles tempos recentes!! E que dura até os nossos dias!! - Jorge Amado vê essa relação sexo X homem X MULHER de forma bem mais democrática!! - Não quer isso dizer que Machado fosse radical. - Ao menos, não demonstrava claramente. - 2. Os dois romances são sensacionais. - 3. Eu, por índole, SEMPRE contestei esse machismo cínico!! - Os "homens" têm a indecente presunção de serem donos das MULHERES!! – Como podemos admitir esse pretenso "direito de propriedade" entre pessoas que se supõe amar um ao outro?? - É A DUPLA MORAL, QUE DIZ: "Faço o que eu mando, mas não faça o que eu faço." - E ISSO EU VI, REVI E AINDA VEJO MUITO NA MINHA FAMÍLIA!! – Assim como, nas outras famílias!! – Apenas, no tempo dos meus avós, a coisa era muito MAIS CRUEL!! - Hoje, já se nota alguma mudança em favor das MULHERES!! - SE BEM QUE POUCA COISA mudou!! /.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Isso que você chama de moral machista é a própria estrutura da natureza, sem isto não existiriam os animais de sangue quente, consequentemente não existiria a humanidade.

      É possível ser tão difícil assim perceber isso? Perceber que ao difundir ESTAS MERDAS ANTINATURAIS você não está fazendo nada além de contribuir inconscientemente com um plano de controle populacional imposto por alguém, que você nem tem ideia de quem seja?

      Eu sei que pensar sobre causas e consequências de alterações civilizacionais é um habilidade que esquerdopatas nunca tiveram, não têm, nem nunca terão a capacidade de adquirir. Mas vou insistir. Você já pensou: por que estamos criminalizando comportamentos que qualquer cachorro, gato, rato ou barata faz naturalmente?

      A natureza sexual dos machos em espécies animais de sangue quente, como os mamíferos e as aves é PREDATÓRIA, ISTO É A BIOLOGIA, NÃO É SOCIOLOGIA NÃO, quer queira os doentes mentais esquerdistas do ocidente, quer não.

      A TENTATIVA de fuga da realidade no meio esquerdista é algo estarrecedor, e nesse desespero de fugir da realidade aceitam qualquer imbecilidade imposta a eles como IMPERATIVO CATEGÓRICO, e como consequência disso temos o que ocorre na Europa atualmente, uma invasão de muçulmanos que estão invadindo os países por lá para fazer com das mulheres europeias aquilo, que os homens de lá não querem mais fazer, assim como ZÉ, por medo de serem presos, ou por medo de mulheres mesmo! E as mulheres de lá já estão dando "GRAÇAS a DEUS! Ou a ALÁ" por isso!

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  2. Seu comentário por certo enriquece o conteúdo da matéria tratando de um tema ainda tão atual em todo Brasil.

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  3. José Fernandes Costa9 de abril de 2016 às 17:46

    Roberto: - Agradeço-te pela referência ao meu comentário. - A matéria trata de ARTES, coisa que SEMPRE trazes para este ESPAÇO... - Infelizmente, as pessoas NÃO costumam comentar ARTES... - Quando se refere à política, surge um monte de "doutores", cada um com suas (deles) opiniões; em alguns casos, coerentes; mas, na grande maioria das vezes, ABSURDAS, SEM PÉ NEM CABEÇA!! - Forte abraço, amigooo!!!

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  4. Acho que a magia da literatura provém disso: do toque rugoso em assuntos que, de alguma forma, incomodam. Tratar do adultério é algo trepidante. Então a literatura, como arte que é, tem esse poder de revestir temas de modo a açucará-lo ou apimentá-lo, a depender de quem degusta. Então esses dois citados na postagem (Machado e Jorge) são profundos mestres na arte de ornar temas que vez por outra soam como tabus. Adorei o texto!

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  5. José Fernandes Costa9 de abril de 2016 às 21:41

    De acordo, Wagner. - A ARTE tem esse poder mágico, fascinante, fantástico, extraordinário!! - O artista tem esse traço de "encantar" seus admiradores!! – E goza da liberdade criativa. – Cito, como um único exemplo, o ATUAL pintor mexicano de Monterrey: Omar Ortiz. Ortiz é hiper-realista!! – Suas telas, sempre apresentam MULHERES SUPERSENSUAIS!! – E MAIS PARECEM fotografias do que PINTURA a óleo!! – 2. Por causa desse poder de congregar muitas pessoas em torno da criatividade sadia, foi que as ARTES e os ARTISTAS foram tão censuradas (os) nos períodos mais negros dos impérios recentes!! - Especialmente nos terríveis tempos da Idade Média, onde reis, rainhas e Igreja Católica mandavam e desmandavam!! - OS EXEMPLOS SÃO FARTOS!! - Mas, NEM precisamos ir tão longe!! - Dos séculos XIX ao atual século XXI as mudanças têm andado muito LENTAMENTE!! /.

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  6. "Nada vem à política e à vida social de uma nação que antes não tenha sido proposto na sua literatura" - Erick Voegelin.

    Se quer ver as maravilhas que reservam a seu país amanhã? Leia os livros que estão sendo escritos no país hoje!!!

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