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PREFEITURA DE GARANHUNS

DONA NITA - UMA HEROÍNA PERNAMBUCANA

HISTÓRIA - Durante a ditadura militar brasileira, de 1964 a 1984, centenas de jovens, trabalhadores, estudantes, militantes políticos, opositores do regime e mesmo inocentes foram presos, torturados e/ou motos pela força de segurança. Um dos casos de maior repercussão está relacionado com o advogado pernambucano Fernando Santa Cruz, que aos 26 anos desapareceu no Rio de Janeiro, no carnaval de 1974 e até hoje não se sabe o que aconteceu com o rapaz, pois nenhum corpo foi entregue à família, apesar da luta de muitos para que o sumiço do personagem fosse esclarecido.

Imediatamente após a notícia de que Fernando, casado e com um pequeno filho, não tinha retornado pra casa, começou a luta de familiares e amigos do advogado em busca da verdade. Os irmãos Marcelo e Rosalina e principalmente Elzita Santa Cruz, mãe da vítima, moveram todas as forças possíveis em Pernambuco, em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Brasília, mas até hoje não conseguiram uma solução.

Dona Zita Chegou aos 100 de idade lutando por seu filho, escrevendo cartas a presidentes da República, ministros e parlamentares, organizações internacionais e jornalistas de toda parte do mundo, sem conseguir a resposta que aliviaria seu coração. No fundo a heroína em que se transformou sabia que o filho tinha sido assassinado pelos militares, mas ela queria a verdade para dormir em paz e ter o direito de sepultar o seu menino.

REPERCUSSÃO E LIVRO - Tal foi a repercussão da luta de D. Zita à procura do filho Fernando Santa Cruz, que na década de 80 foi lançado o livro “Onde Está Meu Filho”?, narrando em detalhes a tragédia da família de Olinda, após o desaparecimento de Fernando Santa Cruz. Ao seu lado, sempre, o vereador Marcelo Santa Cruz e a irmã deste, Rosalina. O pai dos irmãos e de Fernando sentiu mais o baque que todos eles e morreu pouco depois do sequestro do filho pela forças da reação.


O livro, como consta já das primeiras páginas, foi escrito a muitas mãos. É Assinado por um grupo de jornalistas de renome no qual se incluem dois garanhuenses: Cristina Tavares e Jodeval Duarte. Além de Gilvandro Filho, Glória Brandão, Chico de Assis e Nagigb Jorge Neto.

Cristina nasceu em Garanhuns, mas viveu a maior parte da vida em grandes cidades, inclusive do exterior. Trabalhou em grandes jornais do país, escreveu livros e foi deputada federal por três mandatos.

Jodeval na verdade nasceu em Bom Conselho, tendo morado na infância e juventude em Garanhuns. No Recife se formou em Jornalismo e Direito, atuou na imprensa da capital, publicou livros de ficção e ensaios sobre a realidade pernambucana e depois de aposentado como servidor público retornou à Suíça Pernambucana.

O prefácio da segunda edição do livro “Onde está meu filho”?, lançada em 2012, é de Eduardo Campos, então perto de encerrar o seu segundo mandato de governador de Pernambuco.

Muito antes de Eduardo, outros políticos de peso de Pernambuco e do Brasil se engajaram na luta pelo esclarecimento do caso de Fernando Santa Cruz. Como Jarbas Vasconcelos, quando deputado estadual, Marcos Freire quando ocupava a cadeira de deputado federal e o paulista Franco Montoro, já senador por São Paulo.

Todos cobraram do ministro Armando Falcão, dos ministros militares e do próprio presidente do Brasil em 1974, Ernesto Geiseil, uma resposta ao grito e ao clamor de dona Elzita e demais forças democráticas que lutaram mais de 50 anos para saber o que realmente foi feito de Fernando Santa Cruz.

A VELHA SENHORA ENFRENTA OS MILITARES - Documentos forjados, mentiras desmentidas publicamente pela própria Dona Zita, de modo que essa página triste da História nacional chegou até os dias de hoje, investigada pela Comissão da Verdade.

Já houve anistia, redemocratização, voltaram as eleições diretas e muitos dos cassados e perseguidos de 64 readquiriram seus direitos políticos. Há coisas tão vergonhosas que foram feitas pelos golpistas, creio, que eles nunca terão coragem de admitir e fazer um pedido de desculpas.

O assassinato de Fernando e o desdém com que trataram no início Dona Zita é um desses episódios. Devem ter achado que a morte de um rapaz de 26 anos teria repercussão pequena e passageira. Imaginaram que a mãe, na sua dor, não resistiria muito e logo desistiria de sua busca.

A repercussão internacional foi bater em órgãos como OAB, OEA, Anistia Internacional e outras instituições de peso. 


Elzita Santa Cruz chegou aos 100 anos com a vitalidade de uma jovem, desafiando coronéis, generais, ministros, presidentes e cobrando em comícios, atos públicos, através de cartas particulares e pela imprensa: “Onde está meu filho”?

A segunda edição do livro só veio me chegar às mãos no último final de semana, graça a um presente dos compadres Ronaldo e Sonita. Grande obra jornalística e política que nos faz saber mais sobre um capítulo importante da História de Pernambuco e do Brasil. Que nos ensina não haver idade certa para enriquecer de conhecimentos, compreender os fatos e participar da luta.

A vida está aí, em frente, e precisamos ser solidários em todas as horas, principalmente quando está em jogo o desaparecimento de um filho. 

Aos 58 anos descubro uma heroína pernambucana já centenária. Dona Nita, feita de ferro e flor, como Gregório Bezerra, que com sua coragem e determinação derrotou várias vezes os miliares nos últimos 50 anos.

Fotos: 1) D. Nita com a foto de Fernando; 2) Marcelo Santa Cruz; 3) Eduardo Campos e Marcos Freire; 4)Jarbas Vasconcelos

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