Apenas cinco pessoas prestigiaram o lançamento do filme Bruna Surfistinha no Cine Eldorado Garanhuns, na sessão de 4h50 desta última sexta-feira. O Ritual, na outra sala, também não deve ter pegado bom público, porque o movimento no Polo Heliópolis, no horário em que o repórter estava por lá, era praticamente nenhum. Sempre, quando estive no cinema da cidade, seja para assistir uma produção nacional ou americana encontrei uma das salas com pelo menos meia lotação ou mesmo completamente cheia. Não sei se ontem havia uma razão especial, se o movimento anda caindo ou se os filmes em cartaz não interessam ao público. O fato é que é uma tristeza ver um longa metragem na tela grande rodeado de cadeiras vazias por todos os lados.
No caso específico de Bruna Surfistinha, já que por aqui andei escrevendo tanto sobre essa produção nacional, assisti-lo representou pra mim uma atitude coerente ou profissional. Dizer que é bom ou não presta sem ver é um pouco demais, não acham?
Por coincidência as quatro últimas vezes que visitei o Eldorado foi para conferir filmes brasileiros: "Lula, o Filho do Brasil"; "Nosso Lar", "Tropa de Elite 2" e agora "Bruna Surfistinha". Além da coincidência, devo admitir que sou de prestigiar o trabalho de diretores e atores brasileiros desde a adolescência. Mesmo nos piores momentos do Cinema Brasileiro eu estive atento ao que acontecia e vibrava quando conseguiam fazer alguma coisa boa. Naturalmente fiquei feliz quando houve a retomada, após o desastre da Era Collor. Assim, pude aplaudir trabalhos como O Quatrilho, Central do Brasil, Carandiru, Que é Isso Companheiro, Cidade de Deus, Abril Despedaçado, Lisbela e O Prisioneiro, Deus é Brasileiro (praticamente o filme que revelou ou mostrou todo o potencial de Wagner Moura), O Homem que Copiava (primeiro trabalho de destaque de Lázaro Ramos), Os Dois Filhos de Francisco, Olga, Chico Xavier e os dois Tropa de Elite.
Talvez alguns vejam nessa paixão uma nacionalismo babaca ou pensem que estou sendo influenciado pelo xiitismo de Ariano Suassuna, um escritor abertamente inimigo dos estrangeirismos e defensor intransigente do regionalismo e do nacionalismo em suas diversas formas. Ora, convenhamos, o Ariano é um "Deus vivo da Cultura Brasileira", eu sou apenas um leitor, um cinéfilo, um escrevinhador de província.
Não vai dar aqui para emitir uma opinião sobre cada filme citado. Nem quero fazer um tratado sobre cinema nem torrar a paciência do leitor. Permitam, porém, que rapidamente escreva o mínimo sobre esses quatro filmes brasileiros mais recentes, que assisti no Eldorado.
"Lula, O Filho do Brasil" - Continuo sustentando que é um bom filme, com direção competente de Fábio Barreto, bela trilha sonora, um visual comovente do semi-árido brasileiro e um elenco de regular a brilhante, com destaque para Rui Ricardo Dias e principalmente Glória Pires.
"Nosso Lar" - Um filme bonito, com efeitos especiais muito interessantes para uma produção tupiniquim. Uma visão pós morte dos espíritas, a partir de uma obra de Chico Xavier. A intenção é a melhor possível e a "fantasia" que se desenrola na tela só faz bem. Alguns atores ou atrizes estão ensaiados demais, derrapam em várias cenas, mas nem por isso o trabalho deixa de ter os seus méritos.
"Tropa de Elite 2" - O melhor dos quatro e um dos mais brilhantes trabalhos da cinematografia nacional em todos os tempos. Escancara o horror que é a polícia, faz um corte de navalha na corrupção nacional deixando muito mal na fita, os políticos, que na ficção (e possivelmente na vida real) estão ligados a muita coisa que não presta. Palmas para o já citado Wagner Moura, um ator acima da média.
"Bruna Surfistinha" - Baseado num livro ruim e na história de uma menina da classe média que cansou de casa e resolveu ser puta. O filme é muito melhor que a autobiografia escrita por um jornalista e mesmo emoldurando um pouco a vida das "garotas de programa" tem grandes qualidades. Corria o risco de se transformar numa produção para explorar as estripulias sexuais do personagem, mas isso não acontece. O assunto é tratado com seriedade, o trabalho é bem dirigido, traz uma trilha sonora adequada e Deborah Seco pode mostrar no cinema que é muito melhor do que aquela garota estereotipada da TV. Além do corpo bonito, dos seios encantadores, ela está simplesmente maravilhosa como atriz. Dá um show. Se tudo funcionasse pessimamente, a performance de Deborah ainda pagaria o ingresso. Mas o filme é de regular pra bom no todo. Merece muito mais de cinco pessoas na sala de cinema. Se vier a ser um fiasco nacional, não tenho nenhuma dúvida de que o puritanismo e o preconceito serão um componente importante desse fato. Afinal de contas a Bruna ou Rachel de verdade não é um bom exemplo para ninguém e podem estar confundindo a realidade com a ficção. (Na imagem acima Patrícia Pillar e Ângelo Antônio no belo O Quatrilho).
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