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ATAULFO ALVES - GRANDES NOMES DA MPB - 55º

No mesmo ano em que morreu o escritor Machado de Assis, 1909, nasceu numa fazenda de Miraí, Minas Gerais, um menino batizado com o nome de Ataulfo Alves de Souza.  A criança, de cor negra, foi um dos sete filhos de Severino e Matilde Rita de Jesus. Esta cuidava da prole e aquele era lavrador, violonista, sanfoneiro e repentista. É evidente que trazia a música “no sangue”.

Aos oito anos, respondendo aos desafios de Seu Severino de Souza, o menino Ataulfo já fazia versos. Logo entrou no Grupo Escolar, para aprender as letras e aos 10 anos perdeu o pai. Precisou,  tão novo, trabalhar e ajudar no sustento da casa. Foi menino de recados, condutor de bois, leiteiro, marceneiro, carregador de malas na estação, engraxate e agricultor.

Em 1926, adolescente, foi trabalhar na casa de um médico, no Rio de Janeiro. Ajudava com recados e receitas, à noite fazia a faxina e os demais serviços domésticos da casa do profissional, Dr. Afrânio Rezende.

Posteriormente trabalharia em funilaria de automóveis e numa farmácia. Nesta, aprendeu a decifrar as receitas que chegavam e a manipular as drogas. Terminou, com esta prática, assumindo a responsabilidade pelo laboratório.

Nesse tempo Ataulfo Alves morava no bairro de Rio Comprido. Fora das atividades do trabalho, tocava violão, cavaquinho e bandolim, em rodas de samba que se organizavam em sua casa ou na dos amigos.

Aos 19 anos, casou com Judite, com quem viveu até o fim de sua vida, em 1969. O casal teve cinco filhos, o último deles Ataulfo Alves Júnior.

A primeira música do compositor foi gravada por Almirante, um nome de prestígio na música brasileira na década de 30. Pouco tempo depois, uma outra canção sua seria colocada em disco por Carmen Miranda, a portuguesa mais brasileira que já existiu, que se transformaria numa lenda nacional.

Nem uma das duas gravações fez sucesso, mas as músicas serviram para que se descobrisse o compositor, que passou a ser procurado pelos intérpretes. No Brasil, até os anos 60, quase que não havia a figura do cantor-compositor. Uns faziam músicas, bolavam as letras, outros as cantavam, interpretavam.

Em meados da década de 30, uma composição de Ataulfo,  Menina que Pinta o Sete, fez sucesso numa gravação de O Bando da Lua. Apenas um ano depois foi a vez de Silvio Caldas, quase um Roberto Carlos daqueles tempos, incluir Saudade Dela no seu repertório. O menino de Miraí ia se consolidando como um dos bons compositores brasileiros.

Ataulfo Alves de Souza também cantou ele mesmo músicas de sua lavra. Como tinha recursos vocais modestos convidou três cantoras para acompanhá-lo nas apresentações, uma idéia aprovada por seus colegas.

Mais na frente, já reconhecido, o compositor de sotaque carioca recebeu vários títulos dados em sua maioria pela imprensa. General, diplomata e embaixador do samba. Chegou também a ser indicado como o “mais elegante sambista”. Essa escolha aí foi de Ibrahim Sued, um dos colunistas sociais de mais peso no Brasil, durante muitos anos.

No início da década de 60, atendendo a um convite de Humberto Teixeira (parceiro de Luiz Gonzaga), Ataulfo e suas pastoras fizeram uma excursão pela Europa, divulgando a Música Popular Brasileira.

O cantor e compositor começou a sofrer de um problema de úlcera no estômago aos 49 anos e durante 20 anos teve de conviver com a doença. Perto de completar 70 anos, fez uma cirurgia para tentar extirpar o mal, porém o problema se agravou e o Brasil perdeu o seu grande letrista.

Quando se despediu, deixou como legado mais de 700 músicas, muitas delas verdadeiros clássicos da boa MPB gravadas por intérpretes de diferentes gerações como os já citados Silvio Caldas, Carmen Miranda e Almirante. E mais: Jair Rodrigues, Elis Regina, Maria da Paz, Clara Nunes, Jorge Aragão, Caetano Veloso, Roberto Carlos, Ney Matogrosso, Jessé...

Quem não conhece os versos de "Ai! Que Saudades de Amélia..." Essa canção, criticada por alguns pelas altas doses de machismo e conformismo, representa, no entanto, a idealização da mulher dona de casa, mãe, esposa, companheira, sustentáculo do lar. Tem que se levar em conta o ano em que foi composta, a mentalidade dos homens, na época e que papel as mulheres desempenhavam no seu tempo. E quantos hoje ainda sonham com uma Amélia. Independente de qualquer coisa é uma música linda. Confiram a letra:

Nunca vi fazer tanta exigência

Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Nem vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai, meu deus, que saudade da amélia
Aquilo sim é que era mulher
Às vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
Quando me via contrariado
Dizia: "meu filho, o que se há de fazer!"
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia que era Mulher de Verdade


Em 1968 Ataulfo Alves já estava debilitado pela doença, esquecido pela maior parte dos fãs e precisando de uma força. Foi neste momento que Roberto Carlos, já famoso, gravou e incluiu em um dos seus álbuns Ai! Que Saudades de Amélia. Uma boa interpretação do artista nesta música, elogiada até pelos críticos do seu iê-iê-iê, e que deu novo ânimo ao compositor de Miraí nos seus últimos anos de vida.

Outras música linda de Ataulfo é “Meus Tempos de Criança”, onde ele relembra a terra natal e confessa a saudade da professorinha:

Eu daria tudo que eu tivesse

Pra voltar aos dias de criança
Eu não sei pra que que a gente cresce
Se não sai da gente essa lembrança.


Aos domingos, missa na matriz

Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus, eu era tão feliz
No meu pequenino Mirai.


Que saudade da professorinha

Que me ensinou o beabá
Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor, onde andará?


Eu igual a toda meninada

Quanta travessura que eu fazia
Jogo de botões sobre a calçada
Eu era feliz e não sabia.


Foi também um grande sucesso,  gravada por dezenas de cantores e cantoras de renome da música nacional.

Para terminar, “Atire a Primeira Pedra”, outro grande sucesso do compositor mineiro. Tenho certeza que o leitor já ouviu por aí, na voz de alguém:

Covarde sei que me podem chamar

Porque não calo no peito dessa dor
Atire a primeira pedra, ai, ai, ai
Aquele que não sofreu por amor



Eu sei que vão censurar
O meu proceder
Eu sei, mulher,
Que você mesma vai dizer
Que eu voltei pra me humilhar
É, mas não faz mal
Você pode até sorrir
Perdão foi feito pra gente pedir.


Por essa pequena mostra alguma dúvida de que Ataulfo Alves é um dos Grandes Nomes da MPB?

POIS É  - Encontramos um vídeo raro de Ataulfo no youtube. O próprio compositor aparece cantando Pois É, em 1967. Se quiser conferir é só clicar no nome da música, todo em maiúsculo.

(Principais fontes de consulta: Site Ao Chiado Brasileiro (que traz uma boa biografia do artista/Roberto Carlos em Detalhes, de Paulo César Araújo).

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