Por Roberto Almeida
A vida do padre e depois Monsenhor Geraldo Batista de Lima praticamente se confunde com a de Capoeiras.
A vida do padre e depois Monsenhor Geraldo Batista de Lima praticamente se confunde com a de Capoeiras.
O sacerdote chegou à cidade,
quando esta fazia pouco tempo tinha deixado de ser uma simples vila de São
Bento do Una, emancipada politicamente pelo então governador Miguel Arraes.
Quando o padre, natural de
Brejo da Madre de Deus, chegou a Capoeiras o lugar era bem menor, mais
tranquilo e uma geração de homens e mulheres de valor viviam uma vida simples,
cuidando do comércio, das terras, do gado, de oficinas, da prefeitura e das
escolas.
Era a Capoeiras de Heronides
Borrego, Álvaro Tenório, José Soares de Almeida (Zezinho), Euclides Almeida,
José Farias Superpino, Major, Gabriel Branco, Joaquim de Neco, José Valtásio, Adauto Praxedes,
José Manoel, Manoel Antônio, Seu Doca, Zé Vieira, Dona Lila, Professora Lilita,
Aluízio Bezerra e sua esposa Maria, Zuleide, Moisés Calado, Olegário Bento de
Souza, Dona Nanu, Adalberto, Seu Berto, a negra Olívia...
Depois veio Dudu, crescendo
no comércio, Juvenal e Felix, que exerceu vários mandatos de vereador...
Quando padre Geraldo chegou,
para substituir Orlando, que vinha de São Bento para rezar as missas, Capoeiras
há pouco tinha se libertado da “luz de motor”, com a chegada da energia de
Paulo Afonso.
Foi o Monsenhor que batizou
quase todas as crianças, meninos ou meninas, nascidas em Capoeiras nos anos 70,
80, 90 e nessas duas décadas do século XXI.
Também rezou a missa de corpo
presente dos que se foram, como muitas das personalidades citadas num dos
parágrafos acima.
Maria das Neves, minha mãe,
lúcida aos 84 anos, amiga de padre Geraldo, me disse mais de uma vez: “A
maioria das pessoas conhecidas de Capoeiras morre da quinta pra sexta”.
Assim aconteceu com papai,
Euclides, que foi sepultado no dia da feira. E o fato se repete com o
Monsenhor, que morreu ontem à noite, fazendo com que a cidade amanheça enlutada
nesta sexta-feira.
Padre Geraldo, que celebrou a
missa de corpo presente de tantas pessoas conhecidas minhas, que consolou as
famílias com suas palavras de homem de fé, também batizou meus primeiros
filhos, Maria Roberta e Luís Fernando (Lulinha).
Durante quase meio século o
sacerdote dedicou sua vida ao município. Reformou a igreja matriz mais de uma
vez, construiu capelas por toda zona rural, encaminhou jovens pela vida
religiosa, deu palpites na política local quando achou que devia se envolver.
Era exigente, severo, exigia
respeito, às vezes se incomodava até com as crianças que levadas pelas mães perturbavam
a missa com choros ou brincadeiras.
Com a morte de padre Geraldo,
noticiada neste blog no final da noite passada, pelo meu irmão Júnior Almeida,
chegamos ao fim de um ciclo importante da história de Capoeiras.
A cidade sente, o Agreste
chora, a Igreja Católica da região perde um dos padres à antiga, que não abria
mão da batina nem do discurso religioso estritamente ligado às escrituras, com
citações em latim, tendo como fonte o Velho ou o Novo Testamento.
Já perto dos 80 anos quiseram
transferir padre Geraldo, tirá-lo de Capoeiras para outra paróquia. Ele
enfrentou bispos, foi a Roma, obteve a solidariedade de outros padres e da
maioria dos católicos da cidade onde exercia o seu sacerdócio e de cristãos de
todos os municípios da região.
E não fincou pé do seu chão.
Geraldo Batista de Lima não
era um padre qualquer. Conservador, com boas ligações com os militares, com
deputados e prefeitos, querido pelas pessoas humildes dos sítios, ele fez
história em Capoeiras e no Agreste.
Nem sempre concordamos em
tudo, é natural. Mas sempre o respeitamos, inclusive como empreendedor.
Sua morte aos 81 anos, a
mesma idade em que papai se foi, nos entristece. Porque com ele se vai o homem,
o pregador, uma parte da história, um pedaço do tempo.
Capoeiras chora, o Agreste
lamenta, os sinos das igrejas tocam.
Monsenhor Geraldo agora vai
para os braços de Deus.
Fotos: 1) Radialista Solon Gomes, padre Geraldo ainda moço e o ex-prefeito Zezinho; 2) Santas Missões em Capoeiras com padre Geraldo e Frei Damião, que sempre foram muito ligados.
*Leia texto abaixo, de Júnior Almeida, com as primeiras informações sobre a morte do Monsenhor Geraldo.
Relato perfeito, e original! Parabéns
ResponderExcluirNessas horas a gente diz :como a morte é cruel,o que nos
ResponderExcluirresta agora é a lembrança desse grande homem que fez tanto por cada um de nós.capoeiras nunca mais será a mesma sem mons Geraldo...descanse em paz...
Belo e verdadeiro texto!
ResponderExcluirBelo e verdadeiro texto!
ResponderExcluirque deus coloque sua alma em descanço.
ResponderExcluirLinda homenagem
ResponderExcluirFoi brilhante e histórico a cobertura feita pelo blog de Roberto Almeida a um homem que somente o bem praticou para educar os homens e as mulheres da cidade de Capoeiras e circunvizinhança.Todas as homenagens foram e emocionantes também.Parabéns!
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