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UMA CARTA AO PAPA FRANCISCO

A Rádio Vaticano provavelmente nunca tocou "A Carta" de Waldick Soriano, que figurava nas paradas de sucesso da Rádio Baré, em Manaus, nos anos 1960. Naquele tempo disse o rei do bolero aos seus discípulos: "irmãos, sigam-me aqueles que dentre vós sofrem com dor de corno". Embora desconhecida por cardeais, essa epístola cantada, nada canônica, repleta de queixumes e gemidos de amor, foi a inspiradora da missiva abaixo, que nunca será lida pelo seu destinatário.

Manaus, 4 de agosto de 2013

Ao Papa Francisco

Saudações!

Escrevo esta carta, mas não repare os senões, para dizer o que sinto com o desempenho de Vossa Santidade na Jornada Mundial da Juventude. Sinto-me estimulado por V.S. que em entrevista dentro do avião, na viagem de volta para a Itália, declarou:  

- Eu gosto quando alguém me diz: 'eu não estou de acordo'. Esse sim é um verdadeiro colaborador.

Conte comigo, Sumo Pontífice. Este vosso humilde servo quer colaborar, até porque tem sérias restrições a essa visita ao Brasil tão paparicada e incensada pelo turíbulo da mídia que trombeteou o tempo todo: "Ah, que belo". Lembro aqui as palavras de V.S.:"Aqueles que dizem 'Ah, que belo, que belo' e depois dizem o contrário por trás, isso não ajuda".

Desejoso de ajudar V.S., manifestei desacordo público no Taquiprati. Minha voz dissonante foi incompreendida e censurada por amigos, alunos, familiares, não escapou nem meu dileto sobrinho, conhecido como Pão Molhado, que não ouviu o Papa dizer aos jovens em Copacabana: "Não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida. Saiam às ruas como fez Jesus". Meu sobrinho, hoje poderoso analista do Seguro Social na Agência da Previdência Social de Maués (AM), foi mais papista do que o papa:

- Cala a boca, tio! Respeita o Papa! Vós sois ateu? - me disse, conjugando um verbo que coloca no mesmo saco três coisas tão diferentes como fé, religião e Igreja.

Esse aí não é o Pãozinho Molhado do titio, lá do bairro de Aparecida. Esse aí não é aquele menino que embalei na rede durante toda a infância, a quem fiz dormir cantando "Vento que balança as palmas do coqueiro". Esse é o Pane Tutto Bagnatoque puxa o saco do Papa e só não excomunga o tio porque não tem poder para isso. De qualquer forma, não hesitou em me impor aquela punição do Direito Canônico aplicada ao teólogo Leonardo Boff pelo Vaticano: o "silêncio obsequioso".

Calei, engasgado, sobretudo diante do discurso de Boff e Frei Beto, a quem admiro e que fazem minha cabeça.Para eles, V.S. representa uma revolução na Igreja. É um discurso esperançoso. Mas o que observei e escutei na Jornada Mundial da Juventude me faz temer pela expectativa criada. Fiquei mudo uma semana. Agora, estimulado por V.S., rompo o "silêncio obsequioso" para manifestar desapontamento quanto ao tratamento dado a índios, mulheres, gays, divorciados, movimento carismático e à própria teologia da libertação. Francamente, Santidade, quanta decepção!

Na organização das cenas da Via Sacra em Copacabana tinha tudo: cantor, artista global de telenovela, Ana Maria Braga de lençol branco e cabelo arrepiado e até o Louro José. Só não havia índios, eles que foram crucificados em toda a América, aos milhares, segundo Las Casas. Os organizadores da Jornada apagaram os índios até da encenação da primeira missa, desconsiderando relato de Frei Henrique e o quadro de Victor Meirelles. Sequer um ator fantasiado de índio apareceu naquele momento.

No outro dia, fora desse contexto, os Pataxó conseguiram furar o bloqueio e dar um cocar a V.S., mas foram folclorizados. Nenhuma palavrinha de V.S. em defesa da terra invadida, das culturas subterrâneas, das línguas silenciadas. O segmento mais injustiçado da sociedade brasileira e talvez o mais generoso merecia uma palavrinha do Papa, no mínimo para pagar a dívida histórica com eles contraída pela Santa Madre Igreja. Nada. Suspeito que a Igreja saiu perdendo com a ausência dos índios.

E as mulheres? O discurso de V.S. aqui está empapado de contradição. Reconhece num primeiro momento que "a mulher na igreja é mais importante que os bispos e os padres", mas logo em seguida, perguntado sobre a ordenação de mulheres sacerdotes, como já fazem os anglicanos, nega tal importância: "Mulheres não podem celebrar missa. Essa porta está fechada. João Paulo afirmou isso como uma formulação definitiva". Missa só pode ser celebrada por machos.

Quanto aos gays, pelo menos V.S. não agiu como César (Antônio Fagundes) quando descobriu que seu filho Félix (Mateus Solano) corria na floresta. Nem como o pastor Feliciano que quer curá-los. Felizmente o discurso homofóbico da carta do cardeal Bergoglio às freiras carmelitas não foi reiterado aqui. Já é um pequeno avanço: "se uma pessoa é gay, quem sou eu, por caridade, para julgá-la?". Mas união homoafetiva nem pensar: "a posição é a da igreja. Sou filho da igreja".

A posição da Igreja é a de que o homossexual deve ser acolhido com respeito e compaixão, desde que permaneça celibatário, dentro do armário. Nada de casamento. O padre Beto da Diocese de Bauru, excomungado por defender união gay, permanece excomungado. Gays são como os leprosos do Evangelho: aceita-se por misericórdia e não por reconhecimento da alteridade. Waldick Soriano parece mais cristão: "Espero que um dia / tudo se consiga / e a quem ama não seja negado / o direito de ser amado".

A teologia da libertação, um raio luminoso na Igreja da América Latina, foi considerada por V.S. como "uma doença infantil já superada". O movimento conservador de Renovação Carismática como "uma graça para a Igreja". Os divorciados "podem até comungar desde que não se casem outra vez". A anunciada 'revolução na Igreja' que abre esperanças para muitos setores marginalizados acaba diluída nesse discurso que até o momento não renova, embora tenha sido tão exaltado pela mídia.

A cobertura jornalística foi um oba-oba desinformativo, uma agressão à inteligência e ao senso crítico das pessoas. A TV Globo levou horas elogiando a humildade do Papa, só porque V.S. disse: "Rezem por mim", o que equivale a considerarem alguém bondoso por desejar "Bom Dia".

O discurso sobre a pobreza foi simpático, mas a contradição é que a Jornada consumiu R$ 109 milhões em recursos públicos, e o Campo da Fé, mergulhado em lama, sequer foi usado. Louvo as palavras de V.S. sobre a prisão do Monsenhor Nunzio Scarano, que levou num jatinho para a Suíça 20 milhões de euros (58 milhões de reais), assim aprecio a luta de V.S, contra a rede de corrupção no Vaticano.

Creio na sinceridade do despojamento de V.S., mas se posso discordar digo que o que está em discussão não é a pobreza do Papa, mas a da Igreja, como instituição. Simpática também foi a menção à "água no feijon que chegou mais um". Quando for ao Vaticano, pedirei que botem água no minestrone. Espero reciprocidade. Do sempre seu Taquiprati.

P.S. Espero que essa carta seja lida ao menos pelo alto funcionário do Seguro Social na Agência da Previdência Social de Maués (AM). Taquiprati, Pão Molhado! Ecco anche per te, Pane Tutto Bagnato!

Assinado: José Ribamar Freire*

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*José Ribamar Bessa Freire é Doutor em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003). É professor da Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio), onde orienta pesquisas de mestrado e doutorado, e professor da UERJ, onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas da Faculdade de Educação. Ministra cursos de formação de professores indígenas em diferentes regiões do Brasil, assessorando a produção de material didático. Assina coluna no Diário do Amazonas  e mantém o blog Taqui Pra Ti .

9 comentários:

  1. José Fernandes Costa5 de agosto de 2013 às 22:30

    Basta uma palavra para sintetizar o conteúdo da carta acima: - EXCELENTE!! - O autor da missiva citada, VIU MUITAS COISAS que a "grande imprensa" fez questão de evitar; de desviar aquilo que a ela (imprensa "grande") não interessava, nem interessa!!!/.

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  2. É José Ribamar, vc se demonstra falacioso e cheio de lábia. Certamente demorou estes dias todos lendo os discurso do Papa para bem fazer essa cartinha do contra. Deveria deixar mais claro quem vc é, o que pensa e o que quer com isso. Não sei se é frustração, mal intenção, maquiavelidade ou simplesmente uma forma de denegrir a Igreja e o Papa. Seja o que for, vc nunca poderá sentir o que nós sentimos lá. Quem sabe quando um dia vc se encontrar verdadeiramente com Cristo numa JMJ não acontece com vc o que Conteceu com Levi, Zaquel, Maria Madalena ou pelo menos o Bom Ladrão. No dia que a palavra de Deus deixar de ser para vc e para tantos da Mídia, como o parece ser também Roberto Almeida, uma idéia, filosofia ou conto de fada e se tornar Pakavra viva que restaura, converte, preenche, ilumina e salva vc saberá o que significa ser continuidade de uma história de salvação que mesmo em meio as contradições de tantas épocas e episódios não deixa de ser instrumento de salvação da humanidade ferida pelo pecado. No dia que a Igreja fizer do pecado uma norma de vida, descartando a Palavra decrues e a Tradição da Igreja que são revelação divina, é porque o fim do mundo já terá acontecido.
    A novidade que o Papa trás não é dele e sim do Evangelho. Ele apenas está nos ajudando a manter em Cristo os nossos olhos, a nossa vida e o nosso coração.

    Quem foi que ao longo dos últimos anos e décadas tem levantado a voz em defesa da dignidade dos índios? São os protestantes???

    Deixemos nossos comentários tendenciosos para trás e não sejamos hipócritas José Ribamar.

    Não esqueça que a Igreja é de Cristo e quem se levanta contra ela se levanta contra o próprio Deus. Julgar a Igreja por causa da falha de alguns membros é imaturidade e infantilismo. Vamos crescerve falar como gente grande, gente inteligente, com justiça e na verdade.

    Seria muito feio pra Rede Globo não dar cobertura diferenciada para o maior evento da Igreja Católica já realizado no Brail... E no Rio ainda mais.

    O senhor defendeas mulheres, os Gays, e outras situações, mas acusa ou pelo menos deixa bem claro sua crítica a alguns artistas e atores da rede Globo.

    Dois pesos e duas medidas. Caindo no mesmo buraco. O senhor se esqueceu de ver quantos dedos tem apontados em sua direção quando aponta querendo criticar e condenar o Papa Francisco.

    Os inimigos da Igreja estão em toda parte e são mais numerosos do que pensamos. Rezemos por eles irmãos! Nossa arma é o amor e a oração...

    A potência da maldade humana só será vencida pela Onipotência do Amor.

    Jovem católico que ama Cristo, o Papa e a Igreja. Eu também estive na JMJ.

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    1. PARABÉNS MEU IRMÃO, JOVEM CATÓLICO.

      Vc esclareceu tudo. O ódio jamais sairá vitorioso. Está carta é mais uma forma q transmite o rancor e ódio. O mais contraditório é que esses jornalistas defendem tanto os direitos de todos, e quanto a nós cristãos? Não temos também nossos direitos? Que sajam respeitados.

      Esses jornalistas, são mais uns que receberam a missão de denegrir, a fé do povo. Que aprendam a respeitar quem tem a missão de ensinar a cultivar a fé de todos. A fé em um Deus único. AMOROSO E CHEIO DE MISERICÓRDIA.

      PARA ENCERRAR, LEMBRO DA PASSAGEM BÍBLICA QUE DIZ;
      Nos fins dos tempos, muita gente não mas aguentará a SÃ DOUTRINA DA SALVAÇÃO.
      No mínimo, esse jornalista não aguentou viver a sã doutrina, e fica assim revoltado com tudo. Vive uma vida que com certeza em algum aspecto a igreja jamais será a favor, pois ela jamais defenderá a cultura de morte que o mundo insiste em defender.
      OREMOS POR TODOS AQUELE QUE PERCEGUEM A IGREJA E SEUS FIÉIS.

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  3. Quando surgiu a questão da ordenação das mulheres na Comunhão Anglicana, o Sumo Pontífice Paulo VI, em nome da sua fidelidade o encargo de salvaguardar a Tradição apostólica, e também com o objectivo de remover um novo obstáculo criado no caminho para a unidade dos cristãos, teve o cuidado de recordar aos irmãos anglicanos qual era a posição da Igreja Católica: "Ela defende que não é admissível ordenar mulheres para o sacerdócio, por razões verdadeiramente fundamentais. Estas razões compreendem: o exemplo - registado na Sagrada Escritura - de Cristo, que escolheu os seus Apóstolos só de entre os homens; a prática constante da Igreja, que imitou Cristo ao escolher só homens; e o seu magistério vivo, o qual coerentemente estabeleceu que a exclusão das mulheres do sacerdócio está em harmonia com o plano de Deus para a sua Igreja"

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    1. José Fernandes Costa7 de agosto de 2013 às 00:48

      Aos anônimos (das 2h03 e 17h20, do dia 6.8) que falaram mais do que o Ribamar: NÃO confundam Jesus Cristo com as igrejas, nem com os papas!! - As igrejas são feitas pelos homens. - E os papas e cardiais etc., regra geral, são pecadores tanto quanto os outros homens!! - E há muita gente apontando o dedo para as igrejas, católica ou não!! - Os pecados são das igrejas e dos homens!! Não são de Jesus Cristo, não!! - Cristo não fundou o Banco do Vaticano; não vendeu a salvação pra ninguém; não fez acordo com Benito Mussolini; não fez o Acordo de Latrão, em troca de 904 milhões de dólares; não recebeu liras de narcotraficante para sepultá-lo na Basílica de Santo Apolinario, não!! - NADA disso Cristo fez!! - Mas os que mandam nas igrejas fizeram e continuam fazendo! - 2. E o comentário da Ana Cristina, foi e é muito oportuno. - As mulheres são discriminadas, a começar por Maria Madalena, que nem era prostituta, mas passou para a história como prostituta. - Só porque os apóstolos tinham violento ciúme dela, porque Cristo a tinha como apóstolo (a). - Na Opus Dei, mulher é só pra servir aos padres. E fazer faxina, comida, arrumação em geral etc. - E quando será que a Igreja Católica irá aceitar ordenações de mulheres??!! - Possivelmente, NUNCA./.

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    2. José Fernandes, é tão ridículo criticar alguém ou querer interpretar os fatos do passado com os olhos e realidade de hoje. Onde está a discriminação de Maria de Magdála? Ela simplesmente fez uma experiência profunda que mudou sua vida e se tornou duscípula do Senhor. Que mais ela poderia ter sido e não foi.

      Vc é tão alheio as Sagradas Escrituras que insinua que Maria Madalena é uma prostituta e por isso foi discriminada. Ela nunca foi o que vc insinua ser em seu comentário maldoso. Maria Madalena foi aquela da qual Jesus expulsou sete demônios. O que falta a Vc é fazer a experiência que ela fez.

      Quanto as ordenações de mulheres, para quem não é Católico como vc é bom que vc procure conhecer nossa Tradição

      CARTA APOSTÓLICA
      ORDINATIO SACERDOTALIS
      DO SUMO PONTÍFICE
      JOÃO PAULO II
      SOBRE A ORDENAÇÃO SACERDOTAL
      RESERVADA SOMENTE AOS HOMENS

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  4. Para a igreja o lugar de mulher continua sendo a cozinha

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    1. Tem lugar mais digno de que uma cozinha pra uma mulher???

      Se não está satisfeita troca de sexo Poxa!

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  5. É cada bobagem que escrevem...Maria Madalena não foi "apóstola" nem na Judeia, nem em Roma, e nem na CHINA...kkk

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