“O Último Imperador é um filme grandioso sob todos os aspectos. É um épico. Nos dá uma visão histórica da China durante boa parte do século XX, alarga a nossa visão política, sem deixar de se preocupar com o aspecto do homem, muitas vezes preso a costumes, tradições, ideologias ou esquemas de poder.
Além do mais, o longa tem direção soberba de Bernardo Bertolucci, um dos gigantes do cinema italiano e mundial. Grandes cenários, imagens que ficarão para sempre na retina, elenco de primeira e um roteiro muito bem escrito fazem de “O Último Imperador” uma das obras primas produzidas pela sétima arte na segunda metade dos anos 80.
Bertolucci tem outras obras grandiosas, como 1900 (1976), o polêmico O Último Tango em Paris (1973), O Pequeno Buda (1993), La Luna (1979) e Beleza Roubada (1996), mas certamente o filme de 1987 é o mais aclamado do cineasta. Tanto que lhe rendeu 9 Oscar, inclusive os de Melhor Filme e Melhor Diretor.
O longa conta a história verdadeira de Pu Yi, último imperador da China, coroado na primeira década do século passado, com apenas três anos de idade.
Curioso é como o personagem, apesar da pompa do cargo, passa a maior parte de sua vida como um prisioneiro. Até pouco mais de 21 anos mora na Cidade Proibida, sem saber o que de fato se passa em seu país.
As mudanças porque passa a China, com a instalação de uma República, a invasão japonesa e depois a tomada do poder pelos comunistas, irão afetar diretamente a vida do “inocente” Pu Yi.
Desde cedo acostumado com a pompa, cercado de servos para lhe fazer todos os desejos, o imperador teima em não aceitar o “mundo real”.
Tanto que aceita ficar nas mãos dos japoneses, na década de 30, quando volta a ser imperador na Manchúria, uma região chinesa então sob o domínio do Japão. Pu Yi, no entanto, não passa de um fantoche e é humilhado de todas as maneiras pelos súditos de Hirohito.
A história de Pu Yi é o relato de uma pessoa bastante infeliz. Na infância não teve a mãe, nem o pai ou os irmãos. Como adolescente vê desmoronar o seu império. Na maturidade perde a esposa para o ópio, é manipulado pelos japoneses e, com a derrota desses na II Guerra Mundial e a ascensão dos comunistas vira criminoso de guerra. Vai parar num “campo de reeducação” do novo regime.
Se a vida do personagem é triste, não se pode dizer o mesmo do filme. Bertolucci, de forma competente, nos envolve em cerca de três horas de produção, não cansa os cinéfilos e os faz refletir sobre a história, a política, o comunismo e o que o poder é capaz de fazer com as pessoas.
Há também muita beleza visual nesse trabalho do italiano. Há uma cena, em que Pu faz amor com suas duas esposas, em que o cineasta brinca com a câmera e faz uma “dança dos lençóis” magnífica.
Já no final, com o ex-imperador envelhecido e pobre, é emocionante vê-lo pedalando uma bicicleta, como qualquer cidadão comum na Nova China.
O filme evidencia como os regimes políticos são falhos e como o ser humano pode ser vítima deles. Exageros no Império, instabilidade na República, fanatismo e horror no comunismo.
Tudo isso Bernardo Bertolucci nos mostra e nos ensina sem deixar de produzir uma autêntica obra de arte. O Último imperador vai além da história, da política, da observação das relações humanas, da psicologia. É Cinema no mais amplo significado da palavra. Uma obra eterna para ser vista e revista muitas vezes.
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