CRÔNICA - A VIDA COMO ELA É


Nelson Rodrigues foi jornalista, cronista, teatrólogo.
Era um conservador assumido e um mago com as letras.
Um dos seus livros de crônicas, intitulado "A Vida Como Ela É", inspirou um programa na TV Globo.
No livro e na televisão, são contados casos dramáticos da vida brasileira, boa parte deles passados no Rio de Janeiro.
O escritor mostrava a vida sem retoques, sem fantasia.
As crônicas publicadas retratam amores, paixões, ciúmes, taras, crimes, vinganças, vitórias e derrotas de homens e mulheres muitas vezes enlouquecidos, transtornados, capazes de cometer as maiores atrocidades.
Nelson tinha muito talento para escrever. Mesmo quando revelava um "mundo cão" produzia um texto atraente, bonito.
O mundo pode ser cruel. A vida nem sempre é bela.
Hoje mesmo, logo cedo, vi um vídeo com duas crianças - irmãs - na zona rural do município de Flores, no Sertão de Pernambuco.
Um repórter pergunta a uma delas: "Qual o seu maior sonho?"
A menina responde: "Ter um fogão em casa".
O entrevistador fica admirado, repete a resposta, como se fosse difícil acreditar.
Então ele pergunta a irmãzinha qual o maior sonho dela. A resposta: "Ter energia elétrica".
Em pleno século XXI, em 2025, duas crianças que não sonham com Papai Noel, talvez nem lembrem que o Natal está chegando. 
Queriam apenas um fogão para cozinhar e um bico de luz para iluminar a casa.
As histórias de Nelson Rodrigues são mais tristes, normalmente trazem uma carga de violência.
Mas fico pensando na vida dessas crianças, no pai delas, que parece criar elas sozinho,  e lembro do governador Miguel Arraes.
Ele, na época dele, nos anos 80 e 90, foi chamado de atrasado porque se preocupava demais em garantir água e energia elétrica para os moradores do campo.
E tantos anos depois que ele partiu ainda existem casas na zona rural sem luz.
Casas sem um fogão de gás também.
E em muitas falta pão, falta comida.
Repito que não quero estragar o seu domingo, mas como ignorar a realidade?
Todos têm direito ao básico, à educação, à saúde, a alimentação.
Os governos existem para garantir esses direitos. E quando descobrimos que numa residência não há sequer um fogão para cozinhar, nos dias atuais, tem algo errado, é preciso consertar.
Tem a vida como ela é, e a outra, pelo qual devemos sonhar e lutar,  "a vida como deveria ser".
Quem em cada casa haja pão. Um bom domingo pra vocês

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