Há quem acredite que o dom, a dádiva, é dada por Deus.
Pessoas que viveram em situações extremamente adversas na infância, sofreram as dores da miséria, se tornaram famosas e ricas.
Gênios que saíram da humilhação para a glória.
Um dos maiores exemplos disso é o inglês Charlie Chaplin.
Tão pobre que não tinha o que comer. E a mãe ficou bem doente quando ele ainda era criança.
Possivelmente a falta de recursos, as dificuldades para criar os filhos, tenha afetado a senhora Hannah Chaplin.
Mas Charlie tinha uma habilidade especial, talento, um dom raro, sabia fazer rir, e quando descobriu o cinema e o cinema o descobriu conquistou o mundo.
Teve muitas mulheres, mansões, carrões, o mundo a seus pés. E nunca esqueceu suas origens, as agruras pelas quais passou, e retratou os dramas de menino paupérrimo em seus filmes geniais, ainda hoje necessários.
Clarice Lispector nasceu "em trânsito", na Ucrânia, então pertencente à Rússia.
Com poucos anos de vida, os pais, fugindo da miséria vieram parar no Recife, onde a futura escritora viveu até os 14 anos.
Mania, a mãe de Clarice, veio para o Brasil já doente, como sequela do estupro que sofreu na Ucrânia, quando da perseguição aos judeus.
A pobreza dos primeiros anos, porém, não impediu que Clarice Lispector se tornasse uma das melhores escritoras do Brasil, com reconhecimento nos principais países do mundo.
Ela tinha o dom da escrita, produziu textos maravilhosos, se tornou celebridade, esposa de diplomata e uma espécie de gurvi (líder espiritual) de milhões de pessoas mundo a fora.
Na política temos o caso do presidente do Brasil.
Viveu a extrema pobreza quando criança na zona rural de Caetés.
Levado pela mãe para São Paulo viveu uma vida miserável na metrópole.
Este homem, de nome Luiz Inácio, virou liderança sindical, político, se elegeu deputado e depois de quatro tentativas chegou à presidência da República.
E se elegeu mais outras duas vezes.
Independente de gostar dele ou não, é inegável que possui o talento da fala, do raciocínio rápido e uma habilidade política rara.
Conquistou não somente o coração dos pobres, mas também de reis, rainhas, presidentes de nações importantes e de intelectuais de todo o planeta.
Essa habilidade, esse dom, de Lula, como a genialidade de Chaplin e de Clarice, de onde veio?
Mais um exemplo: Roberto Carlos foi chamado de rei a maior parte de sua vida. Desde 20 e poucos anos que ostenta esse título, embora não seja nobre.
Foi menino pobre no interior do Espírito Santo.
Com 8/10 anos pediu um carrinho de brinquedo ao pai Robertino e não ganhou o presente porque o orçamento familiar não permitia.
Depois se tornou um dos homens mais ricos do Brasil, comprou quantos carrões de verdade desejou, tornou-se o artista mais bem-sucedido da música popular brasileira.
Ora, o Roberto não fez faculdade, mal cursou o antigo ginásio (ensino fundamental) e leu poucos livros na vida. Gibis eram sua leitura predileta quando jovem.
O compositor, no entanto, tem (verbo no presente porque ainda hoje, aos 84 anos ele produz) uma intuição filha da mãe.
E criou versos memoráveis, compôs músicas incríveis, muitas delas com a colaboração do Erasmo.
"Quantas vezes eu pensei voltar e dizer que o meu amor nada mudou, mas o meu silêncio foi maior e na distância morro todo dia sem você saber".
Esse verso tem muita poesia, é muito profundo, embora muitos não o percebam num primeiro momento.
Poderia citar muitos outros, mas não cabe nessa crônica, que já está se alongando.
Roberto, caros leitores e leitoras, não nasceu só com o dom de cantar, também lhe foi dada a dádiva de criar, compor, com feeling fora do comum a respeito de sentimentos, do que toca o coração do povo.
Há os que têm o dom de fazer casas, outros sabem construir móveis, uns sabem mexer com fiações elétricas, lidam com computadores, alguns nasceram com talento para representar, ou pintar, negociar, alguns, imagine só, sabem apenas ganhar dinheiro.
O fato é que a maioria das pessoas têm um dom. Foram contemplados com pelo menos uma habilidade.
Agora no final eu entro na história.
A gramática nunca foi minha praia. Sempre achei a conjugação de verbos um saco e posso, eventualmente, tropeçar na concordância.
Tenho limitações sim.
Imagino que Deus, porém, me deu a capacidade de pensar e gosto de escrever, desde muito jovem.
O conhecimento é minha riqueza. A arte e a cultura (no seu sentido mais amplo) me encantam.
"Amar e mudar as coisas me interessa mais".
A frase é do Belchior, cearense de Sobral, que também tinha o dom de compor e criar versos lindos que sobrevivem a sua partida para o desconhecido.
Era apenas um rapaz pobre que emigrou para a capital, saído do interior. Sem dinheiro no banco, sem parentes importantes.
Mas o dom que lhe foi dado pelo Criador o fez universal. E ficou eternizado em muitas das canções que nos deixou de legado.
Um bom domingo para todos.

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