POR QUE MIGUEL ARRAES SE TORNOU UM MITO EM PERNAMBUCO?


O cearense Miguel Arraes, que foi deputado estadual e federal, prefeito do Recife e três vezes governador de Pernambuco se tornou um mito na política estadual, liderança da esquerda respeitada também nacionalmente.

No próximo dia 13 de agosto terão se passados 20 anos da morte de Arraes, que, no entanto, permanece vivo na memória de milhões de pernambucanos e brasileiros.

Como o ex-governador, que não era dos melhores oradores, não realizou obras monumentais e se recusava a fazer assistencialismo, se tornou uma verdadeira lenda, num campo tão áspero quanto o da política?

Miguel Arraes entrou na vida pública no governo de Barbosa Lima Sobrinho.

Em 1950 disputou sua primeira eleição, ficando na suplência como deputado estadual.  Mais na frente assumiu o mandato.

Quatro anos depois foi candidato novamente e desta vez se elegeu direto.

Como secretário de Barbosa Lima e depois de Cid Sampaio, e nos mandatos de deputado estadual, começou a ganhar o respeito da população e se destacar por sempre defender as causas populares.

A ligação de Arraes aos mais humildes pode ter sido passada por seus pais.

José Almino e Dona Benigna, que moravam no interior do Ceará, sempre acolhiam em casa pessoas humildes que por lá passavam.

Os pobres sempre tinham água e comida garantida, quando precisavam dos pais de Miguel Arraes.

Quando disputou a prefeitura do Recife, em 1960, o político já tinha construído o perfil de esquerda, de um homem que se preocupava com o povo.

Venceu a eleição na capital e como gestor privilegiou os bairros da periferia,  realizou obras estruturais importantes, que modificaram a face do Recife nos anos 60.

Uma das marcas de sua gestão na capital foi a criação do Movimento de Cultura Popular.

O prefeito engajou professores, artistas e setores da classe média num grande movimento para levar educação as massas.

Com o MCP, Arraes realizou uma verdadeira revolução na educação do Recife, aumentando de forma significativa o número de escolas e de crianças (e adultos) alfabetizados.

A prefeitura projetou o nome de Miguel Arraes em todo o estado e em 1962 ele se elegeu governador.

Teve o mandato interrompido pelo golpe militar, mas em pouco mais de um ano ratificou seu perfil de político popular.

Com ele no Palácio das Princesas, os trabalhadores do campo conquistaram direitos que lhes foram negados a vida toda.

A polícia, que sempre foi usada para reprimir a população, principalmente os mais pobres, passou a tratar o povo com a dignidade merecida.

Arraes se tornou um mito mesmo no exílio. Passou 14 anos fora do Brasil, porém não foi esquecido.

Em 1986 recuperou o mandato que lhe foi tirado pela força das armas e aí sim pode governar quatro anos.

O segundo governo do cearense não foi fácil.

Eleito numa coalizão que uniu progressistas e conservadores, teve problemas na Assembleia Legislativa.

Mesmo os deputados eleitos ao seu lado lhe causaram muitos problemas, pois alguns queriam manter privilégios e práticas clientelistas que não foram adotadas pelo secretariado montado por Miguel Arraes.

O governador pernambucano também foi muito hostilizado pelo presidente Sarney, que dificultou sua vida o quanto pôde.

Apesar de todas essas dificuldades, usando da criatividade o gestor avançou em diversas áreas, criando programas pioneiros no Estado.

Uma das preocupações do governo foi aumentar a oferta de água para os pernambucanos, da Região Metropolitana do Recife e do interior.

No segundo Governo Arraes foi criado o programa Chapéu de Palha, que garantia aos trabalhadores da Zona da Mata, na entressafra da produção de cana de açúcar,  prestar serviços nos municípios, recebendo em troca um salário capaz de lhes garantir o sustento.

Outra iniciativa foi a criação dos Grupos de Ação Municipal, responsáveis por obras em todo o interior.

Assim como se preocupava com a falta de água na casa de milhares de pessoas, Arraes não podia admitir que em pleno século XX um número significativo de pernambucanos não tivesse luz elétrica.

O programa de eletrificação rural do Governo Arraes foi arrojado.

Em municípios aqui da região, como Caetés e Capoeiras, centenas de famílias que dependiam do candeeiro passaram a ter energia da Celpe, a antiga Companhia de Eletricidade de Pernambuco.

Outra iniciativa diferenciada foi um programa de peixamento de açudes que chegou a todo o interior.

A população passou a ter uma alternativa de alimentação saudável e barata.

O governo criou os chamados Cestões do Povo, que vendiam produtos da cesta básica por um preço no mínimo 30% inferior ao do comércio tradicional.

Arraes, que criou o Lafepe, Laboratório Farmacêutico do Estado, na sua primeira gestão, recuperou e fortaleceu o órgão, na sua volta ao poder.

Remédios de qualidade, produzidos em Pernambuco mesmo, eram vendidos na farmácias do Lafepe, abertas em cidades de porte médio, por preços irrisórios.

No segundo Governo Arraes a Secretaria de Justiça realizou mutirões para emissão de documentos, garantindo cidadania para a população.

Milhares de pernambucanos que não tinham sequer uma certidão de nascimento, passaram a ter desse direito básico.

O Expresso Cidadão, criado na gestão de Eduardo Campos, certamente foi inspirado nesse programa de cidadania implementado no segundo Governo Arraes.

Todos esses programas somados, além de outras iniciativas que não foram citadas aqui, consolidariam o mito, a força de Arraes, que ainda se elegeu para governar Pernambuco mais uma vez, em 1994.

Não se reelegeu em 98 por conta do chamado "escândalo dos precatórios", amplamente divulgado na mídia e explorado pela oposição.

Mas a história fez e faz justiça a Arraes, o único a se eleger três vezes governador de Pernambuco, um homem sério que realmente trabalhou sempre tendo os mais pobres como prioridade.

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