O jornal O Globo, do Rio de Janeiro considera as apresentações de Lady Gaga e Madonna no Brasil de investimento.
E dá manchete classificando o São João do Nordeste de "ostentação".
Algumas cidades pequenas da região realmente exageram, contratam artistas caros que pesam no orçamento municipal.
Mas daí generalizar, "vender" todo o Nordeste como uma região que só tem miséria e desconhecer ou distorcer a realidade.
Como se no Sul e Sudeste também não existisse pobreza.
A imagem e o texto que segue logo abaixo são do site Esquerda Sexy, com perfil no Instagram.
Aborda bem a questão, denunciando o preconceito e desnudando um jornalismo que se pretende de qualidade, mas não é.
Confira:
A cobertura de fora, feita quase sempre por repórteres que mal conhecem os contextos locais, resulta em matérias carregadas de estigmas. Usam termos como “região carente”, “povo sofrido” e “realidade dura” como se estivéssemos presos a um passado eterno de atraso. A narrativa se repete há décadas e diz muito mais sobre quem escreve do que sobre quem é retratado. Só neste São João, Caruaru e Campina Grande devem movimentar juntas mais de R$ 1,5 bilhão na economia. São festas gigantescas, organizadas com estrutura, geração de emprego, turismo e identidade cultural. Não há espaço para o folclore pobre que tanto insistem em vender.
Pior ainda. Esses jornalistas se colocam como porta-vozes da indignação nacional, mas ignoram completamente as vozes locais. Ignoram os veículos regionais, os repórteres de verdade que acompanham o cotidiano, que têm nome e sobrenome na comunidade. Preferem os drones, os ângulos dramáticos, a imagem da criança com lama até o joelho, a trilha sonora triste e a fala em tom de lamento.
Essa prática não é só má jornalismo. É colonialismo narrativo. É uma forma de manter a hierarquia simbólica onde o Sudeste pensa, escreve e fala, enquanto o resto do Brasil é apenas objeto de observação.
É preciso romper esse ciclo. O jornalismo nacional precisa parar de olhar para o Norte e o Nordeste com a lupa do preconceito e começar a ouvir, de fato, quem vive e resiste aqui. O Brasil é mais do que a Avenida Paulista e o Jardim Botânico.
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