E em cópias de boa qualidade, o que nem sempre se consegue por essa plataforma.
Os dois filmes que vamos recomendar são do mesmo diretor, Leon Hirszman, que morreu de AIDS quando a doença não tinha cura, em 1987.
"Eles Não Usam Black-Tie", longa de 1981, é espetacular.
Baseado em peça teatral de Gianfrancesco Guarnieri, o filme retrata bem o Brasil do início dos anos 80.
O Brasil ainda vivia a ditadura militar, mas os operários começavam a sacudir o país, com greves monumentais na região do ABCD, em São Paulo.
O próprio Guarnieri, que interpreta um operário com consciência de classe, colaborou com o roteiro do longa assinado por Hirszman.
Elenco é formado por grandes estrelas do cinema nacional, alguns atores e atrizes ainda hoje em atividade.
Linda de se ver a Bete Mendes, neste trabalho, no auge da beleza, esbanjando talento e em algumas cenas picantes se mostrando por inteiro, inteiramente nua, para deleite dos expectadores.
Carlos Alberto Ricelli, um galã, faz o par romântico com Bete Mendes.
Já madura como atriz, Fernanda Montenegro dá o show de sempre na interpretação.
Ainda tem o Milton Gonçalves e o garoto Fernando Ramos, que um ano antes tinha se tornado conhecido no Brasil pela sua atuação no filme "Pixote - A Lei do Mais Fraco".
"Eles Não Usam Black-Tie" é muitíssimo bem realizado, com cenas belíssimas em meio ao drama social.
Tem ótima trilha sonora, com músicas de Adoniram Barbosa, que tão bem expressava a alma de São Paulo, ainda hoje uma cidade síntese do Brasil.
O filme de Leon Hirszman extrapolou as fronteiras do nosso país e teve reconhecimento internacional.
Ficou com o grande prêmio da crítica do prestigiado Festival de Veneza da Itália, no ano em que foi lançado.
São Bernardo
O outro filme de Leon Hirszman, também disponível no YouTube, é "São Bernardo", baseado no romance de Graciliano Ramos.
É certamente a melhor adaptação de um livro do escritor alagoano, apesar do ótimo trabalho de Nelson Pereira dos Santos em "Vidas Secas" e Memórias do Cárcere".
"São Bernardo" é fiel ao livro do mesmo nome, com Othon Bastos, então com 40 anos, dando um show de atuação.
O ator vive o personagem Paulo Honório, um sujeito bruto que saiu da pobreza para se tornar um fazendeiro rico.
Para subir na vida, Honório não teve escrúpulo. Passou a perna nos outros e até mandou matar gente.
Como patrão era terrível e quando casou, com a doce Madalena, fez da vida dela um inferno.
Graciliano criou um tipo que representa bem o nordestino com vocação para coronel, ambicioso, desonesto, capaz de esmagar os de sua própria classe quando se torna forte.
Isabel Ribeiro, que morreu com apenas 48 anos, de câncer de mama, interpreta Madalena.
"São Bernardo" é de 1972 e está muito atual, como o romance de Graciliano, da década de 30 do século passado.
Tanto o escritor alagoano quanto Gianfrancesco Guarnieri, autor de "Eles Não Usam Black-Tie", tinham posições de esquerda.
Leon Hirszman também era um artista comprometido e deixou seu nome na história com esses dois filmes e outros trabalhos que realizou.
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