Possivelmente o primeiro intelectual de valor a reconhecer a grandeza da obra do artista natural de Cacheiro de Itapemirim.
No livro "Roberto Carlos Outra Vez", Paulo César levanta uma tese interessante e pertinaz.
O escritor fala sobre "a canção do Roberto".
A música que representa o que é o cantor-compositor, uma das razões do seu êxito.
Essa canção do Roberto surgiu, na avaliação do pesquisador, com o lançamento de "Não Quero Ver Você Tão Triste", nos anos 60.
Mesmo sendo uma música toda declamada, teria o perfil de outras canções de Roberto que se seguiram e pode ser considerada um divisor de águas na carreira do artista.
Quero Que Vá Tudo Pra o Inferno, Cavalgada, A Distância, O Portão, O Divã, O Calhambeque (mesmo sendo uma versão), Jesus Cristo, Como é Grande o Meu Amor Por Você, Caminhoneiro, Esse Cara Sou Eu...
Acredito que todas essas e muitas outras estão dentro do que Paulo César Araújo define como "a canção do Roberto".
A "canção do Roberto" foi uma expressão usada por Caetano Veloso na música "Baby", um dos grandes sucessos da carreira de Gal Costa.
E não é que o rei, aos 83 anos, lança uma música que tem tudo a ver com as suas canções?
"Bicho Solto", cantada pela primeira vez neste último especial de final de ano, é uma música com a cara, a marca de Roberto.
Uma linda canção de amor, com uma analogia - à primeira vista vulgar - entre um homem apaixonado, que mudou de vida ao conhecer alguém, e um cão vira lata que se transforma em cachorro de raça.
Há quem não goste de Roberto Carlos hoje pelo etarismo. Por que ele é um velho.
Outros não o suportam por razões políticas. Nunca se posicionou diante dos problemas do país e quando o fez timidamente não se saiu muito bem.
Mas é preciso separar o artista ou a pessoa de sua obra.
E Roberto, que começou a cantar na rádio de Cachoeiro de Itapemirim aos 9 anos, tem história.
Gravou seu primeiro disco em 1958, portanto 66 anos atrás.
De lá pra cá tornou-se o artista mais bem sucedido da música brasileira.
Maior vendedor de disco do Brasil, hoje está entre os mais ouvidos também nas plataformas digitais.
Não precisava fazer mais nada. Nem compor, gravar ou fazer shows.
Mas ainda faz tudo isso porque a música é a sua vida.
"Bicho Solto", a nova canção, tem versos bons e outros nem tantos. Repete algumas situações de outras músicas do artista, no passado.
No geral, porém, é um achado, tem gosto de novidade na longeva carreira do cantor-compositor.
Na conhecida música "O Portão", de 1974, Roberto usa de uma figura de linguagem para dizer "meu cachorro me sorriu latindo".
Isso é dito no comecinho da canção e ficou bonito. A gente imagina um cãozinho saltitando, todo satisfeito ao nos ver.
Nesta "Bicho Solto", anunciada dois ou três anos atrás, mas que somente este ano veio a público, o "melhor amigo do homem" está mais presente ainda.
O homem abandonado, sem rumo, ao encontrar o amor de sua vida muda completamente, fica feito um cão vira lata que ao receber amor adota o porte de um cachorro com pedigree.
Segue um trecho da letra e depois o vídeo de Roberto cantando a música no especial da Globo.
"Minha liberdade só durou até você aparecer.
Andava pelas ruas, em qualquer estrada, em qualquer lugar.
E pouco me importava a hora de sair e a hora de chegar.
Você mexeu com tudo e pouco a pouco eu comecei a ver que no meu coração alguma coisa começava a acontecer.
Eu me deixei levar pela sua mão que suave me acariciava, mas todo vira-lata, por amor, se torna um cão de pedigree.
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