Desconhecem o que foi o horror que reinou no país desde o golpe de 1964 até a queda do regime, 20 anos depois.
João Goulart, o presidente deposto pelo golpe, não teve firmeza para governar nem habilidade política para contornar a crise ou crises que se sucederam desde a renúncia de Jânio Quadros.
O quadro político ficou confuso demais no Brasil dos primeiros anos da década de 60.
Esquerdistas sonharam com uma república socialista ou mesmo comunista, sindicalistas avançaram o sinal, camponeses se mobilizaram e assustaram as elites.
Jango, como era chamado o presidente, ficou como que refém de setores da esquerda, ao ponto em que as forças de direita pediram que ele rompesse com os "comunistas".
Não o fez, embora estivesse à direita de Arraes, na época o governador de Pernambuco.
A indecisão, a falta de pulso, fizeram com que o presidente perdesse cada vez mais apoio militar.
Quando veio o golpe, generais e coronéis que participavam do governo aderiram sem nenhuma cerimônia à revolução de 31 de março, na verdade um golpe de estado, vitorioso no dia 1º de abril.
As comemorações futuras foram feitas no 31 de março, já que não pegava bem festejar a quartelada no dia da mentira.
No poder, os militares perseguiram os próprio companheiros. Em torno de 500 foram punidos, incluindo oficiais de alta patente.
Parlamentares foram cassados, sindicalistas foram presos, centenas de brasileiros foram obrigados a deixar o país.
A tortura foi institucionalizada. Nos porões da ditadura, homens e mulheres foram massacrados, tratados como vermes; não satisfeitos em tirar toda dignidade de um ser humano, no final os matavam e os enterravam em locais desconhecidos.
Daí que muitos foram dados como "desaparecidos".
Políticos progressistas, jornalistas, artistas, padres... A partir de um certo momento qualquer pessoa poderia ser rotulada como comunista.
Inocentes foram sequestrados, presos, torturados, assassinados.
Ficou proibido falar de política. A imprensa foi amordaçada. A Constituição foi rasgada e a Lei passou a ser o que os governantes da nova ordem ditavam.
Congresso, STF, eleições, povo, todas as instituições tornaram-se inúteis, de modo que democracia tornou-se uma ilusão, uma farsa ou um sonho.
A ditadura brasileira não matou tanto quanto a da Argentina ou a chilena.
Isso não quer dizer que tenha sido branda, como alguns vieram a avaliá-la depois.
Ditadura é ruim no Brasil, na Espanha, em Portugal, na Alemanha ou na China.
Com todos os seus erros, suas falhas, a democracia é ainda o melhor regime.
O jornalista Elio Gaspari, que não é nenhum esquerdista, escreveu quatro livros sobre a ditadura militar.
Relatou o início de tudo, com Castelo Branco. Passou por Costa e Silva, Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, fazendo uma radiografia precisa do que foi o regime de generais.
É preciso conhecer a História. É preciso ler mais, se informar através de fontes confiáveis.
Infelizmente, vivemos tempos de superficialidade. Homens e mulheres se limitando a colher informações pelas redes sociais.
Daí que o número de idiotas, com os quais o escritor Nelson Rodrigues já se preocupava nos anos 70, aumentou de forma assustadora.
Gente que reza para pneu, que defende um sujeito que sabotou vacinas e roubou joias, prega intervenção militar e outras bobagens não tem a menor noção do significado real da ditadura.
O tema é inesgotável, poderíamos escrever sobre ele o dia inteiro. Aqui, porém, a intenção é somente estimular que se leia mais, que se vá aos livros, aos sites comprometidos com a verdade.
Obras literárias, músicas de compositores conscientes, filmes como o badalado "Ainda Estou Aqui", também podem ajudar o brasileiro a evoluir, torná-lo menos alienado e descomprometido.
A questão não é ser de direita ou esquerda. Podemos simplesmente ser cristãos de verdade e desejar um mundo melhor, mais justo.
Basta isso, embora se corra o risco, somente por não compactuar com a injustiça, a violência, a desigualdade, de ser rotulado como comunista, mesmo essa palavra não expressando mais o sonho da maioria das pessoas progressistas.
O grande mentor do golpe foi o embaixador Lincoln Gordon, que praticamente exigiu uma intervenção urgente no Brasil que "estava se tornando uma nova Cuba". Com dez navios ancorados no porto de Santos, o golpista e sombrio Lyndon Johnson ordenou: "se houver resistência, invadam!" Se Jango resiste, haveria um morticínio sem precedentes. Jango nunca foi comunista, nem socialista, era um burguês liberal, com consciência social elevada. O PIG e o Supremo aliaram-se às forças da extrema direita e assassinaram milhares de brasileiros, torturaram, perseguiram, expurgaram. E há pessoas que sentem "saudade" dessa hora nebulosa. Sou um Protestante Batista de esquerda e já fui chamado na igreja de "comunista". São pessoas que nunca leram nada, a não ser a Bíblia e a interpretam a seus interesses. Essa história de "evanngélico" é coisa dos neo-pentecostais estadunidenses. Lutero fez uma Reforma Protestante, nunca um reforma evangélica .
ResponderExcluir