Ela completou 99 anos ontem. Sem doença alguma. Mas com a esperada fadiga de material. Vez por outra mostrava-se um pouco sorumbática. A festinha em casa levantou seu astral.
Cercada por familiares e amigos, recebeu presentes, beijos e abraços. Amigas pianistas dedilharam a trilha sonora da sua vida. Animada, conversou sem parar, com sua conhecida verve.
Depois do bolo e dos parabéns, as bisnetas largaram os celulares e prestaram atenção na conversa. Estavam falando na festança do centenário, no próximo ano.
O filho engenheiro mediu com o olhar o espaço e ponderou:
– O apartamento é pequeno, vamos fazer num salão de eventos.
A nora deu rédeas à imaginação:
– Vai ser um baile de máscaras!
O genro meio megalomaníaco exagerou:
– Virá gente do mundo inteiro.
A filha, afetuosa, lembrou:
– O importante é que venham todos que a amam.
E a aniversariante tascou:
– E todo mundo nu!
*Homero Fonseca é jornalista e escritor
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