Por Jarbas Trindade
Andar, enxergar, ouvir e sentir são ações tão corriqueiras do nosso cotidiano que não podemos imaginar uma existência distante desta realidade. Também para quem nunca enxergou, nunca ouviu, nunca sentiu é difícil imaginar uma realidade diversa a que sempre experimentou. Quando são pensadas as políticas de acessibilidade, essas devem garantir que todas as pessoas sintam-se incluídas eliminando ou minimizando as barreiras para enxergar, ouvir, sentir e se locomover com autonomia e independência.
O Conselho Municipal de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência, desde 2011, fiscaliza e sugere ao governo do Estado e à prefeitura de Garanhuns ações para garantir acessibilidade na cultura para as pessoas com deficiência. Uma das principais ações de inclusão no FIG é o Camarote da Acessibilidade que garante a participação de pessoas com deficiência física, visual, auditiva, intelectual e múltiplas de todo o Brasil nos shows que ocorrem no palco principal na Praça Mestre Dominguinhos. Inicialmente a estrutura física do Camarote era garantida pelo governo do Estado de Pernambuco, porém a partir do segundo ano do Camarote a estrutura foi assumida pela prefeitura de Garanhuns como compromisso de garantir a inclusão de todas as pessoas com deficiência. O Camarote, até o ano passado, era localizado distante do palco com um perfil baixo, mas garantindo a inclusão de 60 pessoas com deficiência todas as noites.
A prefeitura de Garanhuns, neste ano, proporcionou um grande avanço na inclusão das pessoas com deficiência no Camarote da Acessibilidade trazendo a estrutura do Camarote próxima ao palco em uma plataforma elevada na mesma altura desse, garantindo uma acessibilidade e uma inclusão jamais experimentadas.
O Camarote da Acessibilidade próximo ao palco garante ouvir as apresentações culturais com perfeição; assegura que as pessoas surdas possam enxergar as mãos do intérprete de Libras durante a apresentação; garante que as pessoas com deficiência física, mesmo sentadas, consigam visualizar o palco na altura dos olhos; bem como o acesso ao Camarote e a localização evidencia às demais pessoas que estão no FIG que as pessoas com deficiência estão incluídas e não segregadas longe do espetáculo. A prefeitura também garantiu transporte para as pessoas com deficiência com dificuldade de locomoção, intérprete de Libras, banheiro acessível, segurança, servidores da Assistência Social e profissional da saúde para assegurar plena acessibilidade no evento. Pela primeira vez, o governo do Estado, através da FUNDARPE, garantiu audiodescrição para os shows dos fins de semana no Camarote da Acessibilidade para as pessoas com deficiência visual.
Como passar, através de palavras, emoções e sentimentos nunca vivenciados pela falta de uma acessibilidade que nunca experimentamos? As pessoas com deficiência, nesse FIG, experimentaram emoções novas quando as pessoas cegas, através da audiodescrição, puderam assistir o show de Lenine e tantos outros, conseguindo entender seus maneirismos, sua roupa, sua dança, as imagens que estavam sendo disponibilizadas no telão e o cenário da apresentação; a alegria de ver uma pessoa com deficiência física em uma cadeira de rodas conseguir enxergar o palco na altura dos olhos, experimentando toda a emoção da apresentação; e vivenciar as pessoas surdas com seus gestos e seus sinais demonstrando a alegria inequívoca de se sentirem incluídos. As pessoas com deficiência que estiveram no Camarote da Acessibilidade durante o FIG podem dizer que realmente assistiram e participaram de um evento inclusivo e acessível.
* Jarbas Trindade é coordenador do COMUD/GUS
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