Atrasado, como o previsto. Consequência da má
vontade do presidente Jair Bolsonaro e do seu ministro da Saúde, general
Eduardo Pazuello, aquele que conformada e submissamente afirma que “ele
manda e eu obedeço”. Quer dizer, se Bolsonaro mandar disparar os fuzis sobre
uma marcha de opositores, o general é capaz de cumprir a ordem sem sequer
alertar: “são seres humanos, presidente!”. Atrasado, mas, antes tarde do que
jamais, o ministério cumpriu decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) –
incrível, ressaltar o respeito à legalidade – e entregou à Corte o Plano
Nacional de Imunização contra a Covid-19.
Algo de bom, mas que teria sido melhor se viesse
sem contestação técnica, problema também previsível neste governo. Atrasado,
incompleto, sem a revisão final dos técnicos e – pasme-se! – com assinaturas
falseadas de alguns dos colaboradores. O “plano”, ademais – o que foi incluído
sem autorização do corpo colaborador -, deixa facultativa a aplicação das
vacinas, exatamente no momento em que a pandemia multiplica-se em segunda onda.
Onde estamos? “Que país é este?”, repetiria Francelino Pereira (1975,
piauiense, então deputado por MG), se vivo fosse. Somos uma republiqueta
autocrática? Um acaso a se perguntar.
O Brasil dá sucessivos passos para trás, nas áreas
humanas em particular, e tem a ciência como alvo a desacreditar e negar,
substituindo-a pelo fanatismo teológico. Não por acaso, preocupante percentual
da população afirma que “não pretende tomar vacina” ou opta por uma vacina
segundo a sua origem. Sob movimento de descrédito, a russa e a chinesa estão
como últimas opções, quando os ingleses já estudam combinar a de Oxford com a
Sputnik V para fortalecer a imunização. Bolsonaro seleciona as vacinas por
ideologia, quer – como déspota – dizer quais serão aplicadas e quantos serão
vacinados. E o seu general obedece subserviente, desprezando a ciência.
Enquanto
o governo brasileiro amesquinha a solução para a pandemia do novo coronavírus,
uma perda humana se dá a cada segundo no País.
Vacina não tem pátria. Que venham todas as vacinas
eficazes e seguras. A humanidade precisa de todas elas. A fronteira de uma
vacina é a Terra. Vacina não tem ideologia, a ideologia de uma vacina é o ser
humano. Enquanto o governo brasileiro amesquinha a solução para a pandemia do
novo coronavírus, uma perda humana se dá a cada segundo no País. E cada perda é
uma derrota para a humanidade e uma vitória do vírus, que conta com um exército
de negacionistas para fortalecê-lo. Porém, perda humana é zero à esquerda para
Bolsonaro e sua insensibilidade fundamentalista.
Militar, apesar de “quase” expulso do Exército por
indisciplina e atos de terrorismo, Bolsonaro se respalda – e por isso, abusa –
nos comandantes das três Forças (generais, almirantes e brigadeiros). Uma
conduta de subserviência – que é a disciplina irracional – justificada apenas
pela formação político-ideológica extremada, que foi superada pelos Exércitos
profissionais no mundo, depois da queda do Muro de Berlim (1989). A dicotomia
capitalismo versus comunismo e sua “guerra fria” parece ser a base única de
preparação nas academias militares brasileiras, o que põe em dúvida o repúdio
pouco claro a ideologias como o fascismo e suas deformações. É o caso de se
perguntar em meio à pandemia: “Os brasileiros estão em primeiro lugar?”.
*Ayrton Maciel é
jornalista. Trabalhou no Dario de Pernambuco, Jornal do Commercio e nas rádios
Jornal, Olinda e Tamandaré. Ganhador do Prêmio Esso Regional Nordeste de 1991.
Escreve aos domingos.
Escreve aos domingos para o blog Falou e
Disse.
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