José Fernandes Costa – jfc.costa@gmail.com
Roberto Agostinho Peukert,
que, na madrugada de seis de janeiro de 1985 escrevia uma das páginas mais
sangrentas da história criminal paulista, ganhou o perdão total da sua pena no
último cinco de junho, amparado no indulto federal de Natal de 2013. Mário Agostinho Valente, 46 anos, português,
engenheiro; sua mulher, Karin Klaudia Peukert, polonesa, 42, e os filhos André,
de oito, Cristina, de 17, e Paulo, de
18, foram assassinados a tiros e facadas. Os corpos foram encontrados no
porta-malas do carro da família numa construção. O casal estava nu e o coração
da mãe tinha sido quase arrancado a facadas.
Horas depois, a polícia
prendia o autor da chacina: o quarto filho do casal, Roberto Agostinho Peukert, 19 anos,
venezuelano naturalizado brasileiro. Segundo ele, matou porque a mãe pediu para
abaixar o som do rádio e ele ficou irritado, mas para os policiais que investigaram
o caso, Roberto queria ficar com os bens da família. A polícia encontrou
Roberto lavando o quintal com água e detergente. Na orelha e sapatos havia
respingos de sangue. Inicialmente negou o crime, mas acabou confessando a
autoria.
Sidney Pierotti, 73, vizinho
e amigo da família, lembra que a polícia teve trabalho para evitar que Roberto
fosse linchado por populares que invadiram a rua estreita entre gritos de
“assassino” e clamores por justiça. Sidney soube pelo psiquiatra forense Guido
Palomba que Roberto era “fronteiriço”, ou seja, vivia no limite entre a
sanidade e a loucura. Palomba
diagnosticou Roberto como psicopata e advertiu que poderia voltar a matar.
Sidney, ao visitar Roberto na antiga penitenciária do Carandiru, perguntou o que
ele sentiu ao matar a família. Roberto respondeu que foi como atirar em sacos
de batata.
Abílio dos Prazeres, 77,
também vizinho e amigo da família, viu Roberto voltando da padaria após
abandonar os corpos. Segundo Abílio, dias antes da chacina, o pai de Roberto
viajou à Venezuela para receber uma herança e compraria um comércio ou posto de
combustível com os dólares que trouxe do exterior. Também disse que tinha
comprado uma arma, preocupado com recentes furtos no bairro. Foi essa a arma
usada por Roberto para matar a família. Os dólares, segundo Abílio, nunca foram
encontrados.
Roberto Agostinho Peukert foi
condenado a 25 anos de reclusão em 1987, mas a pena foi substituída por
internação em manicômio judiciário por ser considerado semi-imputável. Desde
então, passou pela antiga Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru), Casa de
Custódia e Tratamento de Taubaté e Hospital de Custódia de Franco da Rocha.
Por anos tentou a liberdade
alegando ter ultrapassado os 25 anos da condenação. Mas os laudos psiquiátricos
deixavam dúvidas sobre o perigo que ele representava. Apesar das dúvidas que pairam sobre sua
periculosidade, Peukert foi definitivamente libertado pelo indulto de 2013.
Desde o dia 5 de junho, ele é um homem livre.
Envolvimento amoroso: em
Franco da Rocha, Roberto conheceu a agente penitenciária Neusa Maria, 58 anos.
Eles se conheceram há 22 anos. Dois anos depois, iniciaram um relacionamento
amoroso. Há cinco anos mantêm uma união estável iniciada ainda durante a
internação de Roberto.
A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo
informou que determinou a apuração do caso pela Corregedoria Administrativa do
Sistema Prisional. No último dia 6 de maio, Neuza solicitou à 1ª Vara de
Família e Sucessões do Jabaquara interesse em assumir a curatela de Roberto, o
direito de administrar seus bens já que ele ainda é considerado “interdito”
pela Justiça.
Crime compensa: na época do
crime, Roberto perguntou insistentemente se receberia a herança dos pais. Em 29
de janeiro de 1985, apenas 23 dias após o crime, dava-se início ao inventário
que declararia Roberto Peukert herdeiro universal dos bens da família.
Ele herdou uma casa de 360 m²
no distrito de Bertioga, município de Santos, um lote de 495 m² no mesmo
município, um terreno de 256 m² no bairro de Santo Amaro e a casa de 200 m² no
bairro do Jabaquara, onde matou a família.
Além dos imóveis, recebeu
automóveis e outros bens num valor estimado em quase 22 milhões de cruzeiros na
época, além dos dois seguros e direitos trabalhistas dos pais assassinados.
Anos depois herdaria também parte dos bens da avó.
Opinião médica: para Guido
Palomba, psiquiatra forense e perito que avaliou Roberto em pelo menos três
oportunidades durante sua internação, psicopatas não poderiam ganhar indulto
nem conclusão de pena, já que a periculosidade é o motivo da sua internação.
“Psicopatas não têm cura”, afirma.
Para Palomba, indivíduos como
Roberto têm que permanecer afastados da sociedade. Por outro lado, psicólogos
que avaliaram Roberto durante sua internação afirmam que ele nunca foi
psicopata e que o surto que o acometeu terminou no mesmo instante em que
cometeu o crime.
Peukert tentava obter a
liberdade e o pedido seria julgado no dia 2 de julho na 11ª Câmara Criminal, em
que o promotor argumentava que havia nos autos “laudos técnicos que não
permitem conclusão segura a respeito de cessação de periculosidade...”, razão
pela qual o recurso vinha sendo negado. Mas não houve julgamento, já que 27
dias antes, no dia 5 de junho, ganhou liberdade amparado no indulto.
A dúvida persiste, e assim
como Peukert, outros 48 internos de hospitais psiquiátricos de custódia que
cometeram crimes graves foram soltos entre o Natal de 2013 e junho de 2014,
independentemente de laudos de periculosidade.
*Ilustração: Reproduzida de Caio Hostílio.
Ótima ilustração... Pelo que agradeço a AMBOS... 2. Em 1° de fevereiro de 1985, eu fiz um artigo sobre esse crime hediondo... E agora, vejo que esse Roberto Agostinho, além de ser indultado para todo o sempre; ainda recebeu heranças milionárias... Mesmo tendo laudos médicos afirmando que o crápula representa perigo, porque pode voltar delinquir. - Note-se que o psiquiatra forense, Guido Palomba, afirmou tratar-se de psicopata sem cura... E recomendou a internação do tal psicopata!- Palomba asseverou isso em três oportunidades... Que esse traste não poderia ser indultado... – É ISSO, LAMENTAVELMENTE!
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