Mais uma entrevista realizada pelo professor e escritor Cláudio Gonçalves. Depois de ouvir Gonzaga de Garanhuns, Igor Cardoso e João Marques, agora é a vez de uma conversa com o escritor Wagner Marques, que discorre sobre seu trabalho e sua paixão por literatura.
Eis, na íntegra, o material produzido por Cláudio:
O escritor Wagner Marques é
natural de Garanhuns. Nasceu em 11/05/1984. Entre a infância e adolescência
tomou gosto pela leitura. Participou da Sociedade dos Poetas Vivos. Coordenou
eventos literários. Foi editor do jornal literário O Guará. Também foi editor
de outro jornal literário, o Mafuá. Colaborou com alguns jornais locais. Já
atuou no webjornalismo. Já trabalhou como assessor de imprensa. Tem graduação
em Letras e especialização na Universidade de Pernambuco (UPE). Conquistou dois prêmios literários nesta Universidade. Tem mestrado em Gestão Pública, na
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É servidor concursado da
Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (UFAPE), antiga UAG/UFRPE.
Cláudio - Quando começou a se
interessar pela literatura?
Wagner - Ainda criança, eu já sentia
algo mágico diante dos livros. Mas não sabia bem o que era aquilo que me
atraía. Ou me traía. Quando na escola, essa energia entre eu e os livros foi
crescendo, ganhou força. Então quando eu estava no Ensino Médio, a partir dali,
foi uma entrega total à literatura. Ela me abocanhou.
Cláudio - De que forma ocorreu o seu
primeiro contato com a escrita?
Wagner - Na escola mesmo. Eu estudei
no extinto Educandário São José. Lá, da educação infantil ao ensino
fundamental. Fui muito estimulado a ler e escrever naquela escola. Daí, quando
eu era adolescente, comecei a escrever alguns textos com frequência. Escrevia e
ia "engavetando". Bem despretensiosamente mesmo. Mas aí algo me tomou
pela mão e disse: vem comigo. Entrei no mundo da escrita e lá fiquei preso: fui
condenado à prisão perpétua.
Cláudio - Quais foram às primeiras
pessoas que acreditaram em seu talento?
Wagner - A turma da Sociedade dos
Poetas Vivos, daqui de Garanhuns, num primeiro momento, por volta do ano 2000.
Depois, quando eu já estava na graduação, a turma da Universidade de Pernambuco
(UPE), após eu ter conquistado o primeiro lugar de um concurso literário, acho
que no ano de 2005.
Cláudio - Quais escritores
influenciaram na sua trajetória literária e atualmente como você define o seu
estilo literário?
Wagner - Manuel Bandeira, Kafka, Osman
Lins, Jonh Steinbeck, Carlos Drummond de Andrade, Dostoiévski, Luís Jardim e
John Fante, sempre foram o meu estímulo. Quanto ao meu estilo, penso que ele é
algo que ainda está em construção. Na verdade, eu nem ligo pra ele (risos). Mas
tenho uma preocupação grande com o conteúdo e com a forma do que eu escrevo.
Então busco ser exigente com a linguagem e a estrutura do texto, e como as
personagens flutuam na narrativa.
Cláudio - De onde vêm suas ideias e
inspirações? Há uma rotina e conjunto de hábitos que precede o seu processo
criativo?
Wagner - Minhas ideias para a escrita
vêm de tudo o que me causa estranhamento ou me provoca. Gosto de escrever sobre
situações-limite, sobre o que, de alguma forma, causa espanto ou incômodo. Acho
que a literatura dialoga bem com isso: o inusitado. Eu não tenho disciplina
para a escrever. Mas, quando escrevo, mergulho. Não me forço a adotar uma
rotina ou criar hábitos para produzir. A escrita e a leitura estão entre as
coisas mais necessárias da minha vida. Só crio rotina de escrita quando estou
focado em algum texto/trabalho específico, como foi no caso de um romance que
terminei recentemente. O que não abro mão é que preceda, em meu processo
criativo, um esboço de história que venha a valer a pena ser lida.
Cláudio - Suas criações são produtos
de reflexão ou de uma emoção?
Wagner- Eu procuro encontrar a medida
certa entre uma e outra. Isso porque creio que toda reflexão pode levar o
leitor a pelo menos a um pouco de emoção, bem como a emoção pode levar o leitor
a pelo menos um pouco de reflexão. O que eu busco é ter cuidado para que a
emoção que tento despertar no leitor não aparente para ele algo piegas, meloso,
aguado.
Cláudio - Fale um pouco das suas
obras publicadas.
Wagner - Eu tenho muito mais a
publicar do que já publicado. Tenho alguns contos e crônicas publicados em
jornais, revista e antologias. Tenho um livro de contos "Isso que
escorre", publicado no ano de 2016. É um livro que trata de diversas
temáticas, algumas delas, por vezes, encaradas como tabus. No momento, tenho um
romance e um livro infanto-juvenil para serem publicados.
Cláudio - Como você recebeu a
noticia que seu livro “Isso que escorre” recebeu a menção honrosa do III Prêmio
Pernambuco de Literatura? O que significou essa premiação para a continuidade
da sua carreira literária?
Wagner - Recebi a notícia através de
e-mail, numa noite fria, se não me engano, de agosto de 2015. Receber a menção
honrosa, além de ter me encorajado a definitivamente fazer da escrita uma
maneira de agir no mundo, me fez entender a importância de participar nesses
concursos literários, que acabam por ser um grande impulso para divulgar as
obras de escritores iniciantes. Contudo, concursos literários devem sempre ser
vistos como um meio. Jamais como um fim. Então essa premiação significou um
"siga em frente".
Cláudio - Que outros gêneros
literários fascinam o escritor Wagner Marques? Que gênero literário ainda
gostaria de escrever?
Wagner - Gosto muito de poesia. Mas
não é algo que escrevo. Gosto muito quando encontro poetas donos de uma poesia
bem trabalhada, que concilia cuidado com excessos e com lirismo contido. Eu
gostaria de escrever um romance. Como falei, escrevi. Era com esse era o gênero
que eu gostaria de me desafiar. Mas, agora, ao terminá-lo, percebi que o desafio
maior é reescrevê-lo. Porque a atividade do escritor não é escrever. E, sim,
reescrever.
Cláudio - Olhando agora para sua
trajetória como escritor, ainda persegue um objetivo de escrita?
Wagner - Acho que o reconhecimento é o
objetivo de todo escritor. Mas não o reconhecimento ao nome do escritor, pessoa
física. Mas, sim, à obra. Claro que ela (a obra) deve fazer por merecer.
Merecer não porque há um esforço de escrita no texto. Merecer, sim, porque a
literariedade é suficientemente exitosa e apresenta elementos que justifiquem a
obra ser reconhecida.
Cláudio - Você discute muito com o
Wagner Marques escritor?
Wagner - Muito. Muito mesmo. E a
confusão começa quando há situações em que o "Wagner escritor" e o
"Wagner não-escritor" não se dissociam. Na verdade, não sei quando
começa um e termina o outro.
Cláudio - A Academia de Letras de
Garanhuns, a qual você ocupa a cadeira do patrono, professor e poeta Arthur
Maia, em sua opinião, como a entidade pode contribuir para o surgimento de
novos talentos da nossa literatura?
Wagner - Primeiramente, fazendo uma
mapeamento sobre quem são esses talentos e o quanto de seriedade levam a sério
a literatura. Depois, chegar junto desses literatos e estabelecer diálogos que
favoreçam a realizar ações multilaterais em prol da difusão de seus escritos e
da promoção da discussão sobre literatura.
Wagner - Acho que Garanhuns tem ótimos
escritores. Na atual geração, por exemplo, temos escritores que inclusive
conquistaram prêmios nacionais, e outros conquistaram prêmios estaduais, com
seus livros. Não é que conquistar prêmios seja determinante para se dizer que o
camarada é um semi-Deus da literatura. Longe disso. Mas de qualquer modo é uma
resposta da crítica especializada. Ou seja, o valor de seu trabalho foi
referendado. Temos também escritores que não conquistaram nenhum prêmio, mas
que, além de estarem publicando, também têm feito um trabalho muito sério, de
dedicação e empenho à sua produção. Certamente, o futuro lhe reservará
recompensas. Por outro lado, temos muitos que dizem ser escritores ou poetas,
mas seus escritos não traduzem nenhum esforço. Esses pretensos sequer leem.
Muitos desses ainda têm tara em participar de entidades literárias para buscar
alguma forma de exposição, já que seus escritos (quando têm), por si, não lhe
conferem notoriedade. Acho hilário quando uma entidade literária abre suas
portas para médico, padre, empresário, maçom, arquiteto, por exemplo, apenas
para que esses deem representatividade à entidade, sem necessariamente tenham
nenhum trabalho autoral. A verdadeira forma de fazer e promover a literatura
passa a léguas disso.
Cláudio - Como você analisa o
futuro dos escritores e livros com as novas ferramentas digitais?
Wagner - Penso que os escritores
precisam fazer o bom uso que a tecnologia permite. Principalmente no que diz
respeito à difusão de suas obras. Sites, plataformas digitais, canais e redes
sociais, por exemplo, ajudam muito nisso. Também ajudam na discussão do fazer
literário. Não acho que o livro físico, tradicional, vá morrer. Novas
plataformas de leitura estão sendo criadas. Já existem muitas. O livro
tradicional sempre será livro. Nada nos roubará o prazer de folhear uma página
de papel. Para quem gostar de ler, o livro físico provocará o tesão de sempre.
Vejo que as novas ferramentas digitais vêm a somar. Prefiro encarar desta
forma. Não entendo que a dicotomia livro tradicional x livro digital rivalizam.
Por outro lado, o apelo dessa discussão também passa muito pela questão
comercial.
Cláudio - Como escritor, quais os
autores que se afinam com o seu modo de pensar?
Wagner - Gosto muito de refletir com
Nietsche, algumas coisas do Nelson Rodrigues, com o modo de pensar o processo
criativo de literatura com Assis Brasil, pensar a existência como Sartre... Meu
modo de pensar é alimentado por muito de filosofia, sociologia, história,
ciências políticas, crítica...
Cláudio - Tem alguma meta, a
realização de um sonho?
Wagner - Que meus livros, de alguma
forma, ajudem as pessoas a se atraírem pelo universo da leitura. Que um dia meu
filho possa dizer: "meu pai mandou bem o recado".
Cláudio - Em breve teremos uma nova
obra publicada por Wagner Marques?
Wagner - Acredito que no próximo ano
eu publicarei um novo livro.
Cláudio - O que recomendaria aos
escritores iniciantes, aqueles que estão dando os primeiros passos no universo
literário?
Wagner - Que façam três coisas: leiam,
leiam e leiam. A leitura intensa e constante deve ser o leite materno de todo
escritor iniciante. Sendo que deve se conciliar a leitura com a escrita. Para
escritor, a leitura nunca deverá minimizada. Ou seja, o escritor jamais deverá
ser desmamado da leitura.
Cláudio - Para encerrar a
entrevista quero agradecer pela entrevista e pedir que deixe uma mensagem aos
seus leitores e admiradores.
Wagner - Eu é que agradeço pela
entrevista. Obrigado, de coração! A mensagem que posso deixar é que a palavra,
enquanto ferramenta humana, tem um poder ímpar de ação no mundo. Através dela,
nos reconhecemos, nos constituímos, nos fortalecemos. Então viver com e na
palavra nos leva a estabelecer relações e manter laços com essas relações.
Então espero que, os que me leem, se deixem permanecer nutridos pelo amor à
leitura, pelos livros, pelo fazer literário. Mais que isso, que esse prazer pela
escrita possa também contagiar tantas outras pessoas.
Nesta belíssima entrevista Wagner deixa bem claro que, QUEM LER NAIS PENSA MELHOR...
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