Os circos já viveram seus
grandes dias, nas grandes, médias e pequenas cidades.
Nada como a irreverência de um
palhaço de circo mambembe, daqueles muitas vezes com a lona rasgada, sem
animais exóticos, sem luxo, mas com um cara muito divertido que levava pessoas de todas
as idades a uma explosão de riso.
Júnior Almeida, que tem
resgatado muitas histórias curiosas e ricas (no sentido cultural) do interior, dessa vez
faz um belo relato da presença dos circos nas cidadezinhas.
Ele fala com um olhar a partir
de sua (nossa) Capoeiras, porém tenho certeza de que o morador de qualquer
cidade do Agreste vai se identificar com sua narrativa. Vale a pena ler o texto
do começo ao fim, como quem saboreia uma iguaria.
PALHAÇOS E CIRCOS EM CAPOEIRAS
Por
Junior Almeida
Na
história da hoje combalida atividade circense no Brasil, Capoeiras tem a sua participação,
especialmente pelos inesquecíveis palhaços, carros-chefe das atrações dos
circos. Na cidade, a maioria das pessoas não se lembra de determinada trupe por
esse ou aquele artista; malabarista, trapezista ou rumbeira, e sim pelos seus
palhaços. Pelo país afora, nomes como Arrelia, Carequinha, Bozo, mesmo sendo
criação americana, e os mais recentes Atchim e Espirro, além de Patati e
Patatá, fizeram e ainda fazem a alegria de milhares de crianças e adultos.
Em Pernambuco os principais nomes eram o palhaço Belezinha junto com sua “boneca” Suzy animava os pequenos na TV Universitária de Recife, que era retransmitida para o interior, e o mais famoso do Estado, Chocolate, continua em atividade ainda em 2018.
Em Pernambuco os principais nomes eram o palhaço Belezinha junto com sua “boneca” Suzy animava os pequenos na TV Universitária de Recife, que era retransmitida para o interior, e o mais famoso do Estado, Chocolate, continua em atividade ainda em 2018.
Provavelmente
algumas companhias vieram a Capoeiras antes desta data, mas do meu
conhecimento, o primeiro circo que aportou por essas bandas foi o do palhaço
“Golossioba”, lá pelo meado da década de 1930. Mambembe como a maioria dos circos
a promoverem espetáculos no interior, a apresentação tinha pouco o que ver, sua
maior atração era mesmo o dono do circo de nome artístico bem esquisito. O
circo foi armado em frente ao antigo açude velho, atualmente Praça Adalberto
Bezerra.
A
chegada desses artistas na então vila de São Bento do Una foi um acontecimento,
principalmente para os menores, encantados como o hilário Golossioba, mas uma
agonia para meus avós, Nana e Zé Teixeira, pois ainda moleque, meu tio Geso,
irmão da minha mãe, nascido em março de 1928, botou na cabeça que iria embora
com a trupe, que queria ser um artista de circo. Foi um Deus nos acuda para
tirar essa ideia da cabeça dele. Precisou “mãe” Nana recorrer à vara da
infância e da juventude daqueles tempos, que nada mais era no que uma boa
tabica no lombo do arteiro garoto. Só lembrando que não se pode julgar o
passado com conceitos atuais. Naquela época a conversa era essa: pau, pau e
pau. E ai de que reclamasse, pois tinha o castigo dobrado.
Dando
um salto de aproximadamente cinquenta anos no tempo, lembro-me bem do circo do
palhaço Penico Lino, ou “Pinicolino”. Sujeito sério, quando não estava
caracterizado, alto e magro. Creio eu, que ele já passava de sessenta anos
quando vinha à Capoeiras pelas últimas vezes. Dono do circo e principal atração
do espetáculo, encarnando seu personagem, se transformava. Nem parecia o homem
sisudo sem a maquiagem e suas roupas folgadas.
Esse
palhaço, assim como outros, sabia de antemão dos nomes das pessoas presentes no
circo com as quais brincaria durante sua apresentação. Se uma personagem da
encenação, uma palhaça bem feia e desarrumada, por exemplo, aparecesse em cena
dizendo-se buchuda, um “premiado” da plateia era o escolhido para ser acusado
como suposto pai. Quando o palhaço dizia o nome de fulano ou sicrano,
geralmente numa piada comprometedora, o circo explodia em vaias e risos. Tinha
cabra tímido que ficava tão envergonhado que não sabia onde enfiar a cara, mas
levava a presepada na esportiva, e ficava tudo bem.
Foi
Pinicolino que batizou o radialista Severino Francisco de Melo com seu famoso
apelido. O palhaço tinha dentre seus acessórios de cena, uma gravata em que ele
a levantava como se por mágica, imitando uma ereção. A plateia caia na
gargalhada quando isso acontecia. Certa noite, o circo estava lotado, e
Pinicolino falava sem parar em sua encenação sempre de duplo sentido, com
conotação sexual. Inocente, Severino “engoliu a corda” do humorista e falou
algo. Lascou-se. Caiu na pulha do palhaço, que se arqueou para trás e subiu sua
dura gravata, dizendo seu bordão:
SULIPA
NEGA!
O
circo quase desaba de tanto riso, e a partir daquele dia, Severino Melo virou Sulipa Melo, o mesmo nome da gravata de
Pinicolino.
Outro
palhaço dos circos que andaram em Capoeiras também foi o responsável por
“batizar” outro habitante local. Ailton Lino, o vereador, filho do também
parlamentar algumas vezes, Luciano Pontes, foi a um espetáculo na cidade, e
como Sulipa, foi na onda do palhaço, se lascando também e ganhando seu famoso
apelido. Foi assim: Pascoalim tinha como bordão “pio na porca”, aliás, ele
dizia: “pio na poica”, e sempre dava uma umbigada, como se fizesse sexo. Esse
humorista era o dono do circo e assim como Pinicolino, tinha um acessório em
seu traje que provocava muito riso. Ao invés da gravata “mágica”, Pascoalim
usava uma peruca em que seus cabelos ficavam de pé, e sempre que podia, ele em
cena simulava um susto, só pra arrepiar sua peruca. Na noite do referido
“batismo”, Aílton falou algo, e Pascoalim o empulhou, dando uma umbigada pro
seu lado e disparando:
PIO
NA POICA!
Pronto.
Ailton Lino agora era Pio na Poica, e depois só Pio.
Charanga
foi outro que veio muito para Capoeiras. Desengonçado no picadeiro que só o seu
andar já fazia rir. Charanga quando não estava no circo, vivia nas mesas de
jogo da cidade, e com isso fez muita amizade com os fregueses dos carteados. Um
dos seus pontos preferidos era a venda de Superpino.
Arrepiado,
outro memorável palhaço, também o dono do circo, usava barba, tinha um sapato
enorme e sempre dizia para Batatinha, seu companheiro de cena, o chamado “escada,”
não pisar seu dedo, o que provocava a risada da plateia. Dos citados, Arrepiado
era o que mais abusava de piadas sujas. As suas apresentações não eram nem um
pouco recomendadas para crianças.
Teve
um circo que o dono era um anão, o palhaço Bilú. Sempre entrava em cena com a
música “Bilú Tetéia”. Lembro-me que seu carro era um Corcel I com pedais
emendados vindo até o banco do carro, onde ele sentava em cima de uma apoio de
madeira. Quem via de fora, achava que um homem de tamanho normal dirigia o automóvel.
A graça desse palhaço era só o seu tamanho e olhe lá.
O
palhaço Soró foi outro que marcou a infância de muitos capoeirenses. Ele era um
pouco diferente dos acima citados, pois era jovem, solteiro e não era o dono do
circo, porém, o melhor do elenco. Sua entrada no picadeiro era diferente dos
demais. Soró cantava bem. Tinha um vozeirão de profissional. O início de sua
apresentação era ao som de Elvis Presley, onde ele cantava semelhante ao rei do
rock a música “Kiss Me Quick”. Compenetrado, sério, Soró só começava incorporar
o personagem palhaço a partir do trecho da música que diz “kiss me quick
because I love you so” (beije-me rápido por que te amo tanto), onde ele parecia
um disco arranhado, e a partir desse momento era só resenha.
Outros
circos com seus variados espetáculos passaram pela cidade. Teve globo da morte,
passos da morte, atiradores de facas, rumbeiras, trapezistas e até um que tinha
um leão magro. O animal não era usado nas apresentações, apenas vivia numa
pequena jaula como chamariz de clientes. Fato curioso desse circo, é que o
menino que levasse um gato para alimentar o leão, ganhava um ingresso. Sei que
começou a desaparecer tanto bichano nas casas, que o circo teve que ir embora
de Capoeiras antes da hora.
Outra
coisa que merece registro é que alguns circos eram tão pobres que suas lonas,
tanto as laterais como as da coberta tinham mais buracos do que tábua de
pirulito, os chamados “tomara que não chova”. Alguns nem a lona de cobertura
possuíam, só os panos nos lados. Muitas vezes prefeitos tiveram que mandar
levar o circo desarmado em outras cidades, pois o que os artistas tinham
apurado em Capoeiras não dava nem para pagar o frete da viagem. Uma tristeza.
Assim foram as passagens dos circos, dos quais me lembro, pela cidade.
Quanto
aos locais de armar os circos na cidade, além do antigo açude velho, hoje praça
Adalberto Bezerra, também foi usado o terreno onde hoje é o Banco do Brasil,
onde fica os apartamentos desse mesmo banco, Praça da Jaqueira e por trás do
Posto Padre Cícero. Nos dias de hoje o local utilizado pelos circos é um largo
próximo à feira de gado.
*Ailton Lino, o Pio, é vereador em segundo mandato e foi presidente da Câmara Municipal; Severino, o Sulipa, é radialista e diretor da Rádio Jovem Cap, a emissora de maior audiência no município.
**Imagens:1) flickr.com; 2) istoesergipe.blogspot.com
**Imagens:1) flickr.com; 2) istoesergipe.blogspot.com
Êita mais outra superpostagem!
ResponderExcluir"Olha a nêga na janela, com a cara de panela".
E a gente atrás do palhaço.
E ele dizia: "Hoje tem espetáculo "
E a gente remendava: "Tem sim senhor".
E o palhaço "insurtava": E arrocha nêgada.
E nós aos gritos: Aaaêêê
Daí ele chamava: "Subi pelo pau, desci pela rama".
E a gente respondia: "Menina bonita, não mija na cama".
E de novo: E arrocha nêgada.
E nós na alegria dos tempos dos circos mambembes.
Marcou demais o circo de Paulo Tavares.
Ele era o palhaço Formiguinha e dono do circo.
Das várias vezes que esteve em Serrinha(Paranatama), sempre trazia Didi da Sanfona pra fazer show.
Meu Deus, como foi bom.
Paulo Tavares tem familiares em Iatecá(Prata), distrito de Saloá.
Pôxa pessoal, que postagem bacana.
Parabéns.
P.S.: Gostei das lembranças dos meus amigos Sulipa e Pio. Gentes boa.
eita ,que lembranças,nascei em recife mais foi criado em capoeiras lembro bem dos circo ,,,,eu pulava os arames pra entrar kkkk,,,lembranças boas
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